21/10/2012

SÍLVIA MARTINS

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 "Coisas"

Existem duas coisas que me irritam profundamente, a ignorância e a petulância. Se para com a primeira até consigo ter alguma complacência em dias menos maus, para com a segunda a minha intolerância é de tal modo fatal que não há dia em que não me pergunte como é que até hoje consegui resistir à tentação de apertar o pisco a alguma ave rara mais petulante com quem me tenho deparado nos últimos tempos.

Dito isto, tenho a convicção profunda que aquilo que afeta o país neste momento é tão apenas e só um misto destas duas características que pareceram atacar de forma fulminante os dirigentes da nação.

Sempre ouvi a minha mãe dizer que presunção e água benta, cada um toma a que quer, mas se houvesse um barómetro das ditas, apontadas aos sensores dos senhores que, alegadamente, “mandam no país”, este estourava todas as escalas possíveis em termos da primeira dose recomendada.

Parece que a sabedoria popular está em falta nos timoneiros dos destinos da nação desgovernada, aquela que nos alerta para que quando um burro fala o outro baixa as orelhas, ou que Deus nos deu duas orelhas e uma boca para ouvirmos mais do que aquilo que falamos.
Paralelamente a estes meus ódios de estimação, tenho um valor que guardo e preservo contra tudo e contra todos, até ao fim dos meus dias, valor que caiu em desuso, numa época em que todos se querem fazer ouvir e poucos são aqueles que acham realmente importante a “façanha” de saber ouvir os outros... Realmente, saber ouvir é daquelas raras características que encontramos num ser humano nos dias que correm, porque para se saber ouvir é preciso ter-se a noção de que o tempo não deixa de ser precioso só porque paramos de falar, e acima de tudo, para se saber ouvir é preciso ter-se a humildade e a vontade de querer ouvir outro som, que não o som da nossa própria vontade.

Assim, recomendava aos nossos dirigentes que nos ouvissem, de uma vez por todas, antes que o tarde seja tardio de mais.

Esgotamos todas as vias de manifestação pacífica e o tempo urge quando a necessidade aperta. Será assim tão difícil perceber que o desespero turva os sentidos do razoável!? Será tão difícil saber ouvir e ter a humildade de se processar aquilo que se ouve. Talvez não fosse má política disfarçar a ignorância com um bocadinho menos de petulância, mas se calhar, sou só eu que penso assim. A ver vamos...
... Mas ver, veremos! Disso estou certa. “Coisas” minhas, é o que é.

IN "AÇORIANO ORIENTAL"
19/10/12

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