17/10/2012

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HOJE NO
"PÚBLICO"

Estudo premiado revela que uma em cada três crianças é exposta ao fumo do tabaco 

Uma em cada três crianças é exposta ao fumo do tabaco em casa e um quarto das crianças são expostas ao fumo no carro, revela um estudo da Universidade do Minho que acaba de ser premiado pela Sociedade Portuguesa de Pediatria.

A investigação “Crianças expostas ao fumo ambiental de tabaco em casa e no carro em Portugal” foi coordenada por José Precioso, do Instituto de Educação da Universidade do Minho, e contou com mais de 3000 crianças de nove concelhos. O trabalho permitiu concluir que uma em cada três crianças é exposta ao fumo do tabaco em casa e um quarto das crianças são expostas ao fumo no carro.

O Grande Prémio Sociedade Portuguesa de Pediatria distingue anualmente o melhor trabalho ou comunicação oral apresentado no congresso nacional desta área. A comunicação premiada foi apresentada este mês no 13.º Congresso Português de Pediatria, por Henedina Antunes, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho e pediatra no Hospital de Braga.

“É fundamental que os pais protejam a saúde dos filhos. Os pediatras devem aconselhar os pais a não fumarem em casa. Os professores, no âmbito do programa 'Domicílios 100% Livres de Fumo', estão já a ensinar as crianças a protegerem-se desta agressão”, afirmou José Precioso. O investigador alertou, ainda, para a importância de “discutir mitos e falsas crenças associados com a exposição de crianças”, como “fumar em casa e no carro quando a criança não está presente evita a contaminação” ou “fumar na cozinha ou perto da janela não expõe a criança”.

Endurecer lei do tabaco

O prémio surge numa altura em que o Governo estuda formas de apertar mais a lei do tabaco para espaços fechados. Em vigor há quase cinco anos, a ideia do Executivo é que a legislação fique mais dura, pelo que não está excluída a hipótese de proibir quem transporta crianças de fumar no carro.

Isto apesar de um estudo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia indicar que nos primeiros quatro anos da nova lei 64% dos inquiridos tenham deixado de fumar quando estão ao pé de filhos, crianças ou mulheres grávidas. Mais de um quarto dos fumadores (27,2%) deixou de fumar dentro de casa e um quinto (19,9%) não voltou a acender um cigarro no carro. Também um estudo da Universidade do Minho divulgado em Maio diz que a prevalência das crianças expostas ao fumo do tabaco diminuiu 23,3% entre 2007 e 2011.

Mães na cozinha, pais perto da janela

A amostra do trabalho premiado contou com 3187 alunos que frequentavam o 4.º ano de escolaridade no ano lectivo 2010/2011. A equipa de José Precioso percebeu que a exposição das crianças era mais comum nas mães fumadoras (70%) do que nos pais (57%) e que quando os progenitores têm menos que o 9.º ano de escolaridade a situação é mais frequente.

Quanto a locais, as mães tendem a fumar mais na cozinha e os pais, irmãos e convidados fumam sobretudo em zonas próximas de janelas ou quando há uma porta aberta para o exterior. No que diz respeito aos carros, metade dos filhos transportados por pais fumadores são expostos ao tabaco.

Já em 2008 José Precioso tinha lançado o projecto “Domicílios sem Fumo”, ainda em curso, e através do qual conseguiu reduzir o número de crianças expostas ao fumo de tabaco dos pais, mesmo quando estes não deixavam de fumar. O programa é uma adaptação mais simples de um projecto de uma agência ambiental norte-americana e consiste na prevenção junto dos alunos. As crianças são incentivadas a protegerem-se do fumo e a fazerem um acordo escrito com os pais sobre o tema.

Tabagismo passivo mata 600 mil ao ano

O tabagismo passivo provoca mais de 600 mil mortes por ano em todo o mundo, sendo que 165 mil dessas vítimas são crianças, segundo um estudo de 2010 da revista britânica The Lancet. As crianças são as primeiras vítimas do tabagismo passivo, uma vez que, que muitos pais fumam em casa.


No trabalho premiado, além da Universidade do Minho, estiveram envolvidos investigadores das universidades do Porto, Beira Interior, Santiago de Compostela, Évora, Administração Regional de Saúde do Norte, Câmara Municipal de Viana do Castelo, Hospital de Braga, Hospital CUF Descobertas, Instituto Catalão de Oncologia de Barcelona e Agência de Saúde Pública de Barcelona. 

* Já quase nos acusaram de anti-tabagistas primários, não o somos, mas o texto da notícia dispensa comentários.


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