07/10/2012

ANA RITA GUERRA




Steve Jobs 
    está a dar voltas 
                   na campa 

Quando li o pedido de desculpas de Tim Cook por causa da trapalhada dos mapas no iOS 6, a primeira coisa que pensei foi: Steve Jobs nunca permitiria isto. A segunda coisa foi: Steve Jobs devia interromper o seu descanso e vir puxar as meias do Tim Cook durante a noite. Para ver se ele acorda. 

A Apple está no topo do mundo, e no entanto existe a sensação de que a qualquer momento pode despenhar-se e desfazer-se. Os números contrariam esta ideia – desde que Steve Jobs deixou o cargo de CEO e foi substituído por Tim Cook, a Apple só conseguiu ficar mais rica, bater recordes de vendas e tornar-se na empresa mais valiosa do mundo.
Ainda assim, algo não bate certo. Este episódio dos mapas resume-se em poucas linhas: a Apple chateou-se com a Google por causa do Android e comprou uma start-up com tecnologia de mapas. Esteve a trabalhar numa aplicação própria nos últimos anos e este ano achou que estava boa o suficiente para dar o pontapé ao Google Maps no iOS 6. Resultado: a aplicação é péssima. Tem erros e uma base de dados incompleta. Fica muito atrás do Google Maps que foi retirado do sistema operativo.
Concorde-se ou não com a guerra, há uma coisa que a Apple é obrigada a ter sempre em mente: os clientes pagam um prémio pelos seus produtos para terem algo que não falha. Para terem o melhor da indústria. É isto que compram quando compram um iPhone ou um iPad. Substituir uma boa aplicação por uma aplicação sofrível não é admissível, nem que o Tim Cook tivesse andado à chapada com o Larry Page.
Claro que a admissão de culpa foi um gesto obrigatório, algo que Steve Jobs não necessariamente faria – mas lá está, Jobs não deixaria que uma aplicação tão má fosse incluída no iOS 6 e promovida como "a melhor aplicação de mapas de sempre". A histeria perfeccionista de Jobs servia para isso mesmo.
O segundo ponto capaz de fazer Steve Jobs dar voltas na campa é o iPad Mini. Sim, os analistas estão muito excitados com as perspectivas de vendas que um iPad a 250 euros supõe. Os investidores devem estar maravilhados a pensar nisso. Mas um iPad de 7 polegadas não é precisamente tudo o que Steve Jobs desprezou nos últimos anos de vida?
Durante o julgamento entre a Apple e a Samsung, veio à baila um testemunho que dava conta da abertura de Steve Jobs ao iPad Mini nos últimos meses de vida. Talvez tivesse o raciocínio toldado pela medicação, ou talvez alguém o tivesse conseguido convencer disso; mas é um contra-senso. A Apple nem sequer precisa de bater a concorrência nos tablets: tem 70% do mercado e dá baile aos mais de 100 tablets que vagueiam pelas lojas. Qual é o objectivo? Não é a vantagem do iPad exactamente o tamanho do ecrã?
O iPad Mini, ao que parece, vai ser apresentado a 17 de outubro, numa fase muito boa para as contas da Apple – está a colher os frutos do lançamento mais bem sucedido de sempre de qualquer iPhone. Milhões e milhões vendidos nas primeiras duas semanas, muitos milhões mais para vender até ao fim do ano.
Na verdade, a Apple vai conseguir voltar ao número um do mercado, reconquistando o lugar À Samsung. O iPhone 5 é um belíssimo telemóvel, sem dúvida. Mas pela primeira vez desde 2007, eu prefiro uma versão anterior à novidade. Há algo que não bate certo. Resta descobrir o quê.

Jornalista

IN "DINHEIRO  VIVO
"02/10/12

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