23/09/2012

SANDRA CARDOSO



 Tesourinho deprimente

 Ao fim de tantos anos, já devíamos estar habituados. Mas há sempre uma expectativa que num cenário de crise e de grande dificuldade que o país e a Região atravessam, o homem que está há mais anos a governar tivesse alguma coisa de relevante a dizer ao povo.
Mas a entrevista de Alberto João Jardim ao “dr. Vítor Gonçalves” arrisca-se a ir directamente para o baú dos ‘tesourinhos deprimentes’ da televisão pública. Seria engraçado, não fosse o momento trágico.
É uma pena que o jornalista – a quem vi muitas críticas, mas cujas dificuldades compreendo bem – até tenha preparado bem as perguntas, mas não estivesse minimamente preparado para as não respostas de Jardim. Para aquele estilo ‘bom vivant’, porreiraço’ com o qual se esquiva de dar resposta a tudo o que é importante. E assim as pessoas ficaram a saber que os sustos que a saúde pregou ao presidente do Governo Regional levaram a que tivesse mais cuidados e que tivesse deixado de fumar (bom para ele), mas ficaram a zeros quanto aos efeitos que outros sustos económicos terão tido. O mais que se soube foi que se morresse alguém por falta de dinheiro para garantir o bom funcionamento dos serviços de saúde, Lisboa iria para tribunal. Como se tivesse sido o poder central a decidir as opções governativas do Funchal.
Ficou-se a saber que para Jardim a candidatura de Miguel Albuquerque não é um exercício democrático normal num partido que carrega esse desígnio, mas uma “garotice”. E que o líder insular quer-se ir embora, mas ainda não teve oportunidade. E quando as perguntas se tornavam mais sérias, aqui-d’el- Rei, senhor jornalista, agora pergunto eu. E devolvia os garlhadetes. “Então com tanta coisa importante para me perguntar, vai contar quantas vezes eu anunciei que me ia embora”, desviava.
Ficou tudo por responder. Ficou a Madeira sem saber qual o rumo a seguir. Se vêm aí mais impostos, se o risco da bancarrota é real, como é que a Região vai arranjar receitas para cumprir o plano de assistência e garantir que continua a receber verbas?.
A Madeira ficou ao escuro. Para o país, passou a ideia de um tipo porreiro, que sabe receber, que recorre até à bajulação para esconder o que está cada vez mais à vista de todos.
Ainda não perdi a esperança de alguém dar um murro na mesa. Se Jardim não quer responder, que se acabe a entrevista prematuramente. Que não se sorria, que não se condescenda como se faz a um simpático avozinho. Se o presidente do Governo queria ser tratado como tal, já devia ter calçado as pantufas.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
21/09/12

.

1 comentário:

  1. Vai encerrando o blog enquanto ainda tás vivo palhaço. Com a Madeira ninguém se mete.

    ResponderEliminar