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Comissão Nacional Justiça e Paz
faz duras críticas sobre situação actual
Igreja acusa Governo de agravar desigualdades e amputar o país da liberdade
A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), organismo oficial da Igreja
Católica para intervir nas questões sociais e políticas, acusa o Governo
de “total aceitação dos ditames da troika”, de amputar o país de
vários graus de liberdade, de “submissão aos governantes de países mais
poderosos”, de agravar as desigualdades, de ter um pensamento económico
desadequado à realidade, de “desonestidade intelectual” na
argumentação, de enfraquecer o Estado de Direito e de “desconhecer a
realidade” do país.
REALIDADE |
Na sequência de uma reunião, quarta-feira à noite, a CNJP divulgou um
comunicado em que faz críticas muito duras à acção e às decisões do
Governo. Começa por recordar que as última medidas anunciadas, na
sequência da última avaliação dos credores internacionais, apontam “para
um ano de 2013 mais austero, contrariamente aos anúncios anteriores do
Governo”. E nota que “a tónica de crítica generalizada dos comentários
transmitidos pelos media é inédita, expressiva e preocupante”.
Ainda na sequência da última avaliação da troika,
a CNJP acusa o Governo de ter um “discurso determinista e fatalista, do
‘caminho único’ e do ‘não há outra via’, quando o mais verdadeiro e
humilde seria o de dizer ‘eu não conheço outro caminho’, ou ‘eu não sou
capaz de seguir outra orientação’. Ao aceitar os “ditames” das entidades
internacionais, “em nome de uma ‘credibilidade externa’”, o Governo
“amputou o país de uns quantos graus de liberdade”, acusa a comissão
católica.
A CNJP, presidida por Alfredo Bruto da Costa,
ex-presidente do Conselho Económico e Social, diz que o Governo
esqueceu, com esse comportamento, “que os credores não são um grupo
qualquer de agiotas, mas instituições internacionais de que Portugal é
membro, com deveres e direitos”. O que exigiria “um comportamento
civilizado, justo e solidário entre todas as partes”.
Na Europa,
acrescenta o documento, a atitude do Governo foi mesmo a de uma
“submissão aos governantes de países mais poderosos, que bem depressa
esqueceram a sua própria história no contexto europeu da segunda metade
do século XX”.
O comunicado da Comissão Justiça e Paz reconhece
os “efeitos positivos que podem advir da revisão dos défices públicos a
respeitar em 2012, 2013 e 2014, bem como a decisão do BCE respeitante ao
financiamento das dívidas soberanas”. Mas acrescenta que o Governo
mostra acreditar “num pensamento económico que o falhanço do défice
orçamental do corrente ano deveria, no mínimo, levar a considerar como
discutível”. E pergunta: “Porque se insiste em continuar a aplicá-lo,
como base, no orçamento de Estado para 2013? As profundas alterações das
previsões para 2013 deveriam ser mais do que suficientes para
considerar seriamente outros rumos possíveis.”
Este pensamento,
acrescenta a comissão, denota uma “preocupante desadequação” em relação
“à realidade económica do país”, atitude quanto mais grave quanto se
exige “de quem governa, agora como sempre, mais atenção à realidade e
menos enfeudamento a ideias pré-concebidas”.
Uma outra acusação
grave é quando a CNJP diz que “o Governo nunca foi capaz de demonstrar
que os sacrifícios exigidos aos portugueses estavam distribuídos com
equidade”. E explicita: “Apesar de frases sonantes nesse sentido, a
política pública não tem combatido eficazmente as disparidades na
distribuição do rendimento e outras formas de desigualdade na sociedade
portuguesa, havendo mesmo indícios de agravamento destas desigualdades
nos últimos anos.”
A comissão católica recorda que “só agora se
ouviu o anúncio de que seriam sujeitos a impostos novos alguns tipos de
bens e de rendimentos de capital” mas nota que “o contraste entre o
pormenor das medidas que atingem os rendimentos do trabalho e o carácter
vago e brando de algumas que irão afectar, no futuro, a riqueza e os
rendimentos de capital é significativo”.
Acerca das
desigualdades, a CNJP é particularmente dura – recorde-se que Bruto da
Costa é, com a economista Manuela Silva, o pioneiro dos estudos sobre a
pobreza em Portugal. O comunicado acrescenta: “O desnível das condições
de vida sofrido pelas pessoas e famílias por força da crise e das
políticas públicas revela um quadro socioeconómico gritantemente
desigual.”
O documento aponta ainda que “enquanto a uns falta
pão, casa, água e luz, outros mantêm um nível de vida praticamente
igual, se não mais elevado, do que aquele que tinham antes da crise”.
Este é “um critério fundamental de equidade: não basta proporcionalidade
no que se retira (por via fiscal ou outra); também é preciso que exista
equidade no que resta depois disso (rendimento disponível).” E a
comissão diz que “esta é a medida em que as pessoas e as famílias são
afectadas pela crise e medidas conexas, que deve ser aplicada “não
apenas aos rendimentos do capital, mas também a certos estratos de
rendimentos do trabalho, como são os de alguns dirigentes de empresas”.
A
CNJP acusa o Governo de revelar o desconhecimento da realidade quando
afirma que os mais pobres, os mais vulneráveis e mais desfavorecidos têm
sido protegidos. “Ocorre perguntar a que país se referia o ministro da
Finanças quando pronunciou aquelas palavras. Bastará interrogar os
serviços sociais, públicos e privados, para concluir que ‘o nosso modo
de vida, em geral, e, em particular, os mais pobres, mais vulneráveis e
mais desfavorecidos’ está desprotegido.” A comissão acrescenta que as
instituições de solidariedade “vêm testemunhando essa situação de
desprotecção e o seu persistente agravamento”.
Tudo somado, a
Comissão Justiça e Paz verifica que “o Estado de Direito vai-se
enfraquecendo”. E concretiza: “A garantia dos direitos dos cidadãos
vai-se fragilizando, nomeadamente no que se refere à parte contratual
contributiva da Segurança Social (valor das pensões da reforma, por
exemplo), e ao valor dos salários contratados. As alterações das
condições contratuais por decisão unilateral prejudicam o sentimento de
estabilidade e segurança que qualquer Estado de Direito deve garantir
aos cidadãos.”
A CNJP recorda ainda a nota do conselho permanente dos
bispos, de segunda-feira passada, na qual se falava de uma necessária
“renovação cultural". Tal renovação, diz agora a comissão, “requer uma
revisitação de alguns valores fundamentais” como sejam “a dignidade da
pessoa humana, enquanto ser individual e social; o reconhecimento de que
a liberdade exige as condições existenciais para o seu exercício; o
sentido do bem comum como dimensão indispensável da realização pessoal”.
Texto integral do comunicado: http://www.agencia.ecclesia.pt/dlds/bo
* Uma no cravo outra na ditadura, não há em Portugal organização privada que mais tivesse colaborado com o regime salazarento. Não temos a memória curta, lembramo-nos de homílias incitando os soldados a acabar com os terroristas, lembramo-nos de padres colaborantes a título pessoal com a PIDE/DGS, lembramo-nos do enxovalho, sem que a igreja nada fizesse, que o então bispo de Nampula, D. Manuel Vieira Pinto foi vítima, por, também a título pessoal, se manifestar contra o colonialismo.
A visão actual da igreja também agrava as desigualdades, é xenófoba e capitalista, atente-se às vigarices do Banco do Vaticano que o papado tenta a todo o custo encobrir.
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