27/07/2012

ANA CRISTINA CORREIA GIL




 Um roteiro singular 

Pouco importa se é roteiro, guia, “rota de temas ou metafórica” (como o designou o Professor António Machado Pires) ou outra coisa qualquer. O que deveras interessa é que o “Roteiro Cultural dos Açores” é um trabalho muito meritório e com uma qualidade científica inegável. De facto, este “Roteiro”, lançado recentemente em Ponta Delgada, é um trabalho pioneiro pois, tanto quanto me é dado saber, não existia até agora nada do género no arquipélago.
A verdade é que este é o tipo de guia que eu gostaria de encontrar em qualquer sítio que visite. Juntando artigos de numerosos especialistas, este “Roteiro” trata temas tão diversos como a História, o património (também o subaquático), a geografia, a arquitetura, a Universidade dos Açores, a gastronomia, o Espírito Santo, entre muitos outros, constituindo um conjunto inestimável de contributos que compõem a “paisagem” açoriana. Seja para um açoriano, seja para alguém de fora, esta obra é igualmente interessante para qualquer pessoa que queira conhecer a fundo os Açores. O próximo passo será assegurar a sua distribuição alargada por todo o país. Seria também interessante que, a par desta edição em capa mole, houvesse outra mais enriquecida, de capa dura e talvez de formato maior, que fizesse jus às belas fotos que acompanham o texto.

Não é despiciendo relevar que a coordenação desta obra é da responsabilidade do Professor António Machado Pires, meu mestre de sempre. A ele devo ter-me guiado pelos caminhos da Cultura Portuguesa e ter tido a generosidade de me ensinar tanta coisa. Acima de tudo, aprendi com ele o mais importante: que a generosidade e a humildade científica estão sempre acima de qualquer volume de conhecimento que possamos adquirir ao longo da vida.

Com toda a sua sabedoria e humanidade, este ilustre homem da Cultura conseguiu reunir todas estas colaborações num espaço de tempo relativamente curto. Não foi em vão. O resultado aí está, acessível aos de cá e aos de fora. É que este “Roteiro Cultural dos Açores”, como bem sublinhou Guilherme d’Oliveira Martins na apresentação do livro, não se limita a ser um retrato da já mítica açorianidade. Ele é também um retrato da própria Cultura Portuguesa “tout court”, já que “tudo o que é relevante para a cultura açoriana é relevante para a cultura portuguesa”, como disse o autor de “Património, Herança e Memória”. No texto que assina neste “Roteiro”, Oliveira Martins sublinha: “Este Roteiro preenche um vazio a que importava responder. Na verdade, os Açores são o Portugal paradigmático” (p. 15).

E esta abrangência confere ainda mais valor a este “Roteiro”. Sendo sobre os Açores, ele não é só dos Açores: ele é parte integrante da identidade da Cultura Portuguesa e é, portanto, como tal que deve ser encarado. Tivessem todas as regiões de Portugal a sorte de ter um guia como este.

IN "AÇORIANO ORIENTAL"
23/07/12

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