Um roteiro singular
Pouco importa se é roteiro, guia, “rota de temas ou metafórica”
(como o designou o Professor António Machado Pires) ou outra coisa
qualquer. O que deveras interessa é que o “Roteiro Cultural dos Açores” é
um trabalho muito meritório e com uma qualidade científica inegável. De
facto, este “Roteiro”, lançado recentemente em Ponta Delgada, é um
trabalho pioneiro pois, tanto quanto me é dado saber, não existia até
agora nada do género no arquipélago.
A verdade é que este é o tipo de guia que eu gostaria de encontrar
em qualquer sítio que visite. Juntando artigos de numerosos
especialistas, este “Roteiro” trata temas tão diversos como a História, o
património (também o subaquático), a geografia, a arquitetura, a
Universidade dos Açores, a gastronomia, o Espírito Santo, entre muitos
outros, constituindo um conjunto inestimável de contributos que compõem a
“paisagem” açoriana. Seja para um açoriano, seja para alguém de fora,
esta obra é igualmente interessante para qualquer pessoa que queira
conhecer a fundo os Açores. O próximo passo será assegurar a sua
distribuição alargada por todo o país. Seria também interessante que, a
par desta edição em capa mole, houvesse outra mais enriquecida, de capa
dura e talvez de formato maior, que fizesse jus às belas fotos que
acompanham o texto.
Não é despiciendo relevar que a coordenação desta obra é da
responsabilidade do Professor António Machado Pires, meu mestre de
sempre. A ele devo ter-me guiado pelos caminhos da Cultura Portuguesa e
ter tido a generosidade de me ensinar tanta coisa. Acima de tudo,
aprendi com ele o mais importante: que a generosidade e a humildade
científica estão sempre acima de qualquer volume de conhecimento que
possamos adquirir ao longo da vida.
Com toda a sua sabedoria e humanidade, este ilustre homem da
Cultura conseguiu reunir todas estas colaborações num espaço de tempo
relativamente curto. Não foi em vão. O resultado aí está, acessível aos
de cá e aos de fora. É que este “Roteiro Cultural dos Açores”, como bem
sublinhou Guilherme d’Oliveira Martins na apresentação do livro, não se
limita a ser um retrato da já mítica açorianidade. Ele é também um
retrato da própria Cultura Portuguesa “tout court”, já que “tudo o que é
relevante para a cultura açoriana é relevante para a cultura
portuguesa”, como disse o autor de “Património, Herança e Memória”. No
texto que assina neste “Roteiro”, Oliveira Martins sublinha: “Este
Roteiro preenche um vazio a que importava responder. Na verdade, os
Açores são o Portugal paradigmático” (p. 15).
E esta abrangência confere ainda mais valor a este “Roteiro”. Sendo
sobre os Açores, ele não é só dos Açores: ele é parte integrante da
identidade da Cultura Portuguesa e é, portanto, como tal que deve ser
encarado. Tivessem todas as regiões de Portugal a sorte de ter um guia
como este.
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
23/07/12
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