03/06/2012


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Nove meses depois, o governo prevê 
mais 188 mil desempregados em 2013 

Governo revê previsões do desemprego, que subirá para 16% no próximo ano e reage com estudo de corteda TSU para incentivar a contratação de jovens. 

Mas o impacto real será curto. O ministro das Finanças já tinha admitido a surpresa perante a subida muito rápida do desemprego – ontem vestiu a surpresa com novas previsões. O governo reviu a taxa de desemprego este ano de 14,5% para 15,5% e no próximo de 14,1% para 16%, numa confirmação de que a sangria recorde de postos de trabalho não só será mais forte, mas também mais prolongada do que o previsto. Para se perceber melhor como a magnitude do abalo apanhou o executivo de surpresa basta recuar até Agosto de 2011, data em que Vítor Gaspar apresentou as primeiras previsões: 13% para este ano e 12,6% para 2013. 

A enorme diferença face às projecções actuais significa que, grosso modo, em nove meses o governo passou a prever mais 139 mil desempregados este ano e mais 188 mil no próximo (tendo em conta a estimativa mais recente para a população activa em Portugal). A revisão comunicada por Vítor Gaspar à saída de uma reunião com associações patronais e sindicais coincidiu com a divulgação por parte do Eurostat de uma nova subida mensal do desemprego em Portugal, para 15,2% em Abril (mais uma décima face a Março), com a taxa para os jovens a saltar para um novo máximo de 36,6%. Portugal tem a terceira maior taxa de desemprego, global e jovem, a seguir à Grécia e a Espanha. 

A degradação acelerada do desemprego é explicada por um conjunto de factores que tornam esta recessão diferente das anteriores: empregadores e consumidores percebem o ajustamento da economia como sendo permanente (caso fosse temporário, os empresários tenderiam a reter trabalhadores), as empresas estão a ser muito pressionadas em várias frentes (recuo do financiamento, recuo da procura, atrasos nos pagamentos) e a zona euro continua mergulhada em incerteza. A análise das razões da perda do posto de trabalho, dados fornecidos ao i pelo Instituto Nacional de Estatística, confirma o efeito das falências e reestruturações empresariais: nos primeiros três meses do ano, 290 mil pessoas foram alvo de despedimento individual e colectivo (ver gráficos). 

Os dados mostram também que a sangria laboral está a afectar muito os trabalhadores com vínculos mais frágeis: cerca de 230 mil pessoas entraram no desemprego porque o contrato a prazo não foi renovado. Além do impacto social, uma revisão tão grande das taxas de desemprego constantes no Documento de Estratégia Orçamental até 2016 sugere que os números em que se baseia a estratégia de contenção do governo estão desactualizados. 

Por outras palavras, a dificuldade para cumprir os objectivos de Bruxelas e da troika será maior tendo em conta as medidas conhecidas hoje. “Que a revisão tem um impacto nas contas é evidente, desde a despesa com subsídios de desemprego à receita perdida em IRS, IVA ou contribuições sociais”, afirma o economista Miguel Beleza. “A revisão pode significar também um valor diferente, mais baixo, para o Produto Interno Bruto”, acrescenta. Apoio a jovens tem pouco impacto. 

Perante o avolumar inédito de pessoas sem emprego, o governo pondera algumas medidas de recurso, como o corte da Taxa Social Única suportada pelas empresas, caso contratem jovens. O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, confirmou ontem que está a estudar a medida (como noticiado pelo “Jornal de Negócios”), aplicada apenas a jovens, no âmbito do programa Impulso Jovem. As medidas terão um impacto limitado no combate ao desemprego global – os jovens têm uma taxa muito alta de desemprego, mas representam menos de um quinto do total oficial de desempregados. 

O impacto no segmento jovem será sempre positivo, mas há dúvidas quanto à sua expressão. “À partida pode ter um efeito benéfico, porque cria oportunidades de primeiro emprego ou para desempregados há já algum tempo”, aponta Ricardo Paes Mamede, professor de Economia Política no ISCTE, em Lisboa. “Mas os efeitos serão menores caso não haja mínima estabilidade contratual”, junta. 

Os jovens entre 15 e 24 anos são o segmento da população activa com maior peso de contratos a prazo, mais de 50%. A combinação entre o peso de vínculos precários e o carácter temporário da medida (que é financiada pela reorientação de fundos comunitários) tipicamente leva os empregadores a contratarem e despedirem para aproveitarem o incentivo, explica ao i um economista que preferiu o anonimato. “Políticas activas de emprego temporárias não funcionam”, comenta. “É como o ditado: pode levar-se o burro à fonte, mas não se pode obrigar a beber”. 


* Nossa que ignorância, 16% é já em Julho/Agosto.

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