17/06/2012

MANUELA MOURA GUEDES

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Pobre gente pobre 

Portugal está pior do que há um ano, quando ainda se acreditava que PSD/CDS dariam cabo do Monstro. 

O conselheiro Borges diz que não disse o que não terá passado pela cabeça de ninguém que disse – que defende, em tese, um País de gente pobre. Claro, ninguém em seu perfeito juízo diz semelhante enormidade. O que o conselheiro Borges já achou normal afirmar foi a emergência da redução de salários, não prevendo as reacções fortíssimas que a insensibilidade do seu discurso provocou. E, por variadas razões, tendo algumas das quais a ver com o seu principesco ordenado e sinuoso curriculum. 

Veio tudo ao de cima num País que está no osso, que não pode ouvir falar em mais cortes e austeridade em salários, impostos e direitos sociais. Para mais com os resultados que se vêem. Até mesmo as exportações não subiam tão pouco desde Fevereiro de 2010. E se importamos menos, é porque se consome menos, porque há muito mais desempregados, porque se ganha menos e tudo está mais caro. E sem consumo não há economia, há falências. Portugal está pior do que há um ano, quando ainda se acreditava que PSD/CDS dariam cabo do Monstro que criou Institutos, Empresas Públicas, Fundações, PPP, que deixou à solta as Autarquias e as suas Empresas Municipais e que foi o responsável pelo endividamento. 

O poder público, político, partidarizado e os bancos são os culpados pela crise, mas são as pessoas comuns, que não tiveram culpa, que a estão a pagar. E, perversamente, a par de uma política orçamental da maior rigidez, a Europa continua a ter uma política monetária permissiva. O sistema financeiro tem comandado tudo, tal como agora o está a fazer, já depois do pedido de ajuda espanhol. Os ‘Mercados’, que deviam ter acalmado, continuam a duvidar, e o contágio prossegue agora para Itália. Seguir-se-á a França. Falta saber o que acontecerá quando, e se, chegar a vez da Alemanha, a quem os investidores pagam para ter dívida e a única a ganhar com a crise. Tudo agora é sistémico e contagioso. 

Um banco não pode falir porque põe em causa o Sistema, e um País tem de começar a gerir também a economia dos vizinhos, porque se eles caem, ele cai. É a necessidade de maior "integração" a caminhar para o federalismo, com, obviamente, o controlo da Alemanha, que tem a receita para todos – afinal, a mesma do conselheiro Borges. 



IN "CORREIO DA MANHÃ" 
15/06/12

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