14/06/2012

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  HOJE NO

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Salário emocional. 
Quando o dinheiro não é tudo 

Com um investimento reduzido, as empresas oferecem aos funcionários uma ajuda integral, garantindo-lhe apoio nas várias vertentes da sua vida

Não tem a ver com pagamentos extra, prémios ou outro tipo de valores monetários que caem na conta bancária no final do mês. O salário emocional é, para alguns trabalhadores, muito mais que isso. São um conjunto de ajudas que as empresas proporcionam ao funcionário. E são cada vez mais as organizações em Portugal a procurar estes serviços. “Pode definir-se muito simplesmente como todas as componentes de retribuição não monetária, muitas vezes intangíveis”, diz António Brandão de Vasconcelos, presidente da Everis. 
No ano passado, a multinacional de consultoria ficou em segundo lugar dos Prémios Excelência no Trabalho. “Os efeitos do salário emocional fazem-se sentir quando conseguimos tornar as pessoas mais felizes no seu local de trabalho”, explica o responsável da Everis. Aumentar a produtividade, diminuir o absentismo, reforçar o compromisso com a empresa, deixar mais tempo livre para usufruir do que mais gosta de fazer. Na teoria parece vago mas na prática os ganhos do trabalhador são evidentes. Os funcionários ganham um assessor familiar, fiscal, financeiro, psicológico, médico e legal, e ainda têm parte da gestão do dia-a-dia garantida.

O salário emocional traduz-se em segurança, confiança, tranquilidade e equilíbrio para o trabalhador e é uma tendência que tem vindo a aumentar em toda a Europa. Especificamente em Portugal, cada vez mais empresas procuram um plano Trabalho-Vida da Albenture. Esta é uma das primeiras entidades no país especializada em gerir este tipo de salário, através de uma série de ferramentas que põe à disposição das empresas. “Para a empresa é uma forma de garantir que num contexto difícil o compromisso do funcionário com a empresa está garantido, e só as pessoas comprometidas são eficientes”, explica Regina Cruz, directora da Albenture, responsável pelo projecto.
 Profissionais e clientes satisfeitos, mais vendas e maior facturação para o agente. É desta forma que a RE/MAX destaca as mais-valias da sua organização. A empresa é líder em mediação imobiliária em Portugal e está no ranking anual das melhores empresas para trabalhar no país. “Quanto mais satisfeitos estiverem os profissionais, com mais gosto vão trabalhar, com mais motivação, porque têm paixão pela empresa e pelo trabalho”, afirma Catarina Água-Mel, directora da RE/MAX em Portugal.

Segundo a Albenture, não existem números reais no país, mas esta prestação de serviços é uma realidade presente nas empresas. A Ervis começou a aplicar as práticas deste conceito no dia em que abriu o escritório em Lisboa, já lá vão 13 anos. “Há uma maior retenção de talento, um aumento da produtividade e um compromisso para atingir os resultados pretendidos”, explica António Brandão Vasconcelos. Mesmo em tempos de crise, o salário emocional poderá ser uma arma eficaz. “Tem custos associados e os seus efeitos não são imediatos. No entanto, é nossa convicção que os benefícios superam largamente os custos”, acrescenta o responsável da consultora.

Para a directora da RE/MAX Portugal, é preciso combater o clima de incerteza com ferramentas a nível humano. É uma arma contra a crise, principalmente quando muitas empresas reduzem os seus colectivos e não promovem aumentos salariais. “É necessário manter os trabalhadores motivados num contexto de incerteza”, afirma Regina Cruz, da Albenture.

O salário emocional deve ser encarado, numa óptica de médio, longo prazo, como uma componente adicional do pacote retributivo. Aplica-se a todos os sectores onde haja uma forte concorrência, com pessoas altamente qualificadas e em que a perda de um colaborador acarrete um enorme custo para a empresa. A consultoria é um desses exemplos. Mas a Albenture apresenta estes serviços em todos os segmentos do mercado: tecnológicas, farmacêuticas, banca, distribuição, serviços, telecomunicações, entre outras.

Os vários especialistas contactados pelo i afirmam que é muito mais do que um aumento salarial, é uma aposta no indivíduo como parte fundamental na organização. “A valorização é muito importante”, acrescentam. Em pouco tempo, as empresas vêem o retorno de ter impulsionado internamente medidas de salário emocional. Conciliar a vida privada com a vida profissional é fundamental no momento conturbado do ponto de vista financeiro que as empresas atravessam. Há quem prefira abandonar o trabalho de sonho e procurar um novo posto que muitas vezes é menos remunerado mas permite restabelecer o clima laboral e o equilíbrio emocional e familiar.

A máxima “o dinheiro não é tudo” ganha cada vez mais força. E para o presidente da Everis pode sintetizar-se num conjunto de medidas: “Comunicar de uma forma totalmente transparente, ter tempo para ouvir, reconhecer e agradecer o empenho e o compromisso, celebrar colectivamente os êxitos, dar espaço para as preocupações são alguns pormenores”, enumera o responsável. No caso da empresa de consultoria, começa pelo trato. António Brandão de Vasconcelos faz questão de ser tratado só por António em vez de senhor engenheiro, mesmo pelos estagiários. “Estamos em presença de uma situação win-win”, concluiu.

* Investir para a felicidade de quem trabalha, são raros em Portugal os empresários com inteligência para o incrementar. 

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