16/05/2012

HELENA GARRIDO




Crise no euro 3.5

 Sim, já passaram três anos e cinco meses desde que se desencadeou a crise no euro com epicentro na Grécia. Começou com o novo governo grego a dizer que as contas públicas estavam aldrabadas, que havia um "buraco". 

Nada que Portugal não tivesse também experimentado, pela primeira vez, com o governo liderado pelo actual presidente da Comissão Europeia - lembram-se? Quando se descobriu um buraco nas contas públicas pela primeira vez. Só que, com a Grécia, o buraco revelou-se sério. E para tratar do problema toda a Zona Euro passou de uma política expansionista para uma política contraccionista, que se foi expandido a quase todos os países da União Monetária. Passado todo este tempo, a crise no euro agravou-se. E hoje estamos perante a convicção de que a Grécia deixará de integrar a moeda única. Já ninguém se questiona se vai sair. 

As perguntas agora são: quando é que a Grécia sai do euro; como é que se vai operacionalizar a saída e como é que os restantes países vão gerir essa saída, sem provocarem outras e sem caírem numa recessão historicamente grave. Como disse ontem o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaeuble, qualquer dos caminhos que se coloca hoje à Grécia é difícil. Se ficar no euro espera-a um processo de redução do seu nível de vida sem qualquer tipo de narcotizante, se sair do euro espera-a um processo de redução do seu nível de vida com o narcotizante da desvalorização cambial. 

Mas este último caminho, o de sair do euro, significa para os gregos a impossibilidade de saírem do seu país, com a facilidade com que saem hoje, de comprarem produtos de qualquer parte da Europa, de venderem produtos para a Europa sem risco cambial, enfim de terem a moeda de mais 16 países europeus. E um futuro ainda mais incerto que o actual. Claro que para Portugal seria preferível que a Grécia se mantivesse no euro. Como seria preferível que a Grécia ficasse no euro para todos os países que partilham a mesma moeda. A União Monetária foi, propositadamente, construída sem uma porta de saída. Assim que se abre uma porta na União Monetária, qualquer um é candidato a sair. Quer porque não se sente confortável na casa da moeda única, quer porque, como no caso grego, se foi colocando (ou foi colocado) perante escolhas dramáticas. 

O processo de saída, não vale a pena enganar-nos, já começou. O discurso de desdramatização começou a semana passada, com especial relevo para o dia 11 de Maio e prosseguiu ontem, dia 14 de Maio. Mensagens como "a Grécia é que escolhe, a saída do euro não será fatal para a união monetária", só revelam que está tudo preparado. Juntem-se ainda os elogios a Portugal, à Irlanda e a Espanha e compreendemos que até a gestão das ondas de choque já começou. 

 Lamentavelmente Portugal é o elo mais fraco. Por mais que os líderes portugueses, com especial relevo para o ministro das Finanças, expliquem e mostrem, com números, como está a evoluir financeiramente o país, tudo o que se vai dizendo revela que as ondas de choque vão atingir Portugal com violência. A saída da Grécia do euro será um marco tristemente histórico para a construção europeia. Nunca nenhum país abandonou um projecto europeu. Neste décimo terceiro ano de vida do euro, a Grécia, aquele país que nos habituámos a ver como superior, pode ser a lição para políticas de correcção de erros passados que sejam mais realistas. Ou a Grécia será apenas o princípio de um fim que ninguém quer. 




IN "JORNAL DE NEGÓCIOS" 
14/05/12 .

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