07/05/2012

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Vinho 


é cultura


CULTURA É LIBERDADE





REGIÃO LISBOA

A Estremadura (Região dos Vinhos de Lisboa) 
A Estremadura é de todas as nossas províncias a que manifesta uma complexidade mais acentuada, seja qual for o carácter que tenhamos de considerar. 
Começando pelo aspecto geológico, tem representação de todas as idades. Na apreciação climática pode-se considerar na transição entre a zona dos ventos húmidos e permanentes de Oeste e a dos estios secos. O tipo de vegetação da parte norte aproxima-se de um tipo da Europa Central, enquanto na extremidade meridional já apresenta características mediterrânicas. 

As terras de aluvião contrastam com as encostas onde abunda o calcário secundário e as várzeas opõem-se aos maciços montanhosos da fronteira oriental. É uma terra de dispersão e pluralidade, sendo por vezes referenciada como terra onde abundam os paradoxos. 

A vinha, ainda que com uma grande capacidade de adaptação aos diversos tipos de solos, encontra na diversidade da região manifesta preferência por alguns destes, designadamente os solos calcários pardos ou vermelhos de margas ou parabarros e arenitos finos, os solos mediterrânicos pardos ou vermelhos normais e ainda os solos litólicos não húmicos, estes com representação na parte mais setentrional da região. 

A presença da grande metrópole que é Lisboa, apesar de localizada num extremo da região da Estremadura, marca de forma indelével e cada vez mais, os hábitos sociais da região. O carácter de ruralidade que durante longos tempos caracterizou de forma geral a população da Estremadura, apenas alterado em polos perfeitamente definidos com a industrialização introduzida a partir do século XIX, foi muito afectado com o desenvolvimento do sistema viário, com destaque para a espinha dorsal que recentemente passou a ligar Lisboa a Leiria. 
A noção de Estremadura como terra de fronteira retoma aqui o seu sentido, quando se evoca a diferenciação entre as gentes das terras a sul da barreira montanhosa que se liberta de Montejunto rumo ao mar e as gentes das terras mais setentrionais, nas várzeas do Lis. Mas ao referir o povoamento na Estremadura ainda que de forma muito superficial não podemos deixar de falar nos casais ou quintas. 
 Esta situação contribui para formações de dispersão intercalares designadas por casais ou quintas. A quinta é designação que primeiramente foi tomada como subunidade dentro de uma villa rústica e por consequência referenciada a uma origem romana onde villa era designativo de uma estrutura de povoamento rural. É esta a estrutura mais significativa, numa componente de manifesta dignidade e que ainda hoje por toda a Estremadura apresenta elevado património, na sua quase totalidade ligado à produção de vinho e que com frequência é referida quando da sua comercialização. 

Latitude 39º20’N 
Longitude 09º10’O 
Solo Calcários e arenoso. 
Clima Temperado 
Chuva anual 600 a 700 mm 

A sua aptidão vitivinícola  
Quem, em manhã de dia limpo do mês de Junho, subir ao alto de Montejunto e espraiar a vista na direcção do mar, ficará extasiado com uma longa manta verde que se estende a seus pés. E se apurar a vista, não é difícil concluir que muitos dos retalhos dessa manta são parcelas de vinha, alinhadas em direcções diversas, procurando o jeito ondulado do terreno. É assim de facto a Estremadura, e de há muito que assim é. 

São os Fenícios, que em viagens marítimas, alcançando as distantes terras das Ilhas Britânicas, terão promovido o início da cultura vitácea na foz do Tejo, com vides trazidas da Síria, cabendo-lhes assim, eventualmente, a iniciativa de promoção da vinha nesta nossa terra, onde a videira terá encontrado condições naturais propícias ao seu desenvolvimento. Apesar de haver quem admita que a instalação da videira tenha sido anterior a esta época, por terem sido encontradas grainhas de uvas do período do Pliocénico em Marrazes (Leiria), não deixa contudo de ser válida a referencia de pioneirismo dos Fenícios na cultura da videira neste espaço que é hoje a Estremadura. 

O espaço da actual Estremadura terá estado sob o domínio muçulmano durante quatro séculos, tendo a sua vocação vitícola sido retomada apenas após a fundação da nacionalidade e a reconquista de terras aos Mouros. Esta vocação foi fortemente incentivada com os conhecimentos difundidos pelas ordens religiosas, primeiramente os Beneditinos, seguidos dos Clunicenses e finalmente a Ordem de Cister que, na Estremadura, teve posição destacada em Alcobaça. 

O arroteamento de terras permitiu a instalação dos coutos, com novas áreas de vinha, e para o seu cultivo foram retomadas as técnicas descritas pelos “geopónicos” do tempo de Roma. Viveu-se uma época de estabilidade e desenvolvimento económico resultado da exploração e comercialização dos produtos da terra e do mar, figurando o vinho entre os de maior peso. A situação manteve-se até à crise dinástica provocada pela morte de D. Fernando, agravada com a situação que se vivia por toda a Europa com fomes, epidemias e guerras, com a consequente recessão económica. 
Neste contexto também o sector vitivinícola assiste a novo retrocesso, não encontrando nos tempos seguintes grandes condições de recuperação dada a importância que nos séculos XIV e XV foi dada à epopeia dos descobrimentos, recrutando muitos dos homens válidos para tarefas ligadas à empresa marítima. 
O século XIX ainda que tivesse, precisamente a meio, uma época de sobreprodução de vinho, foi um período marcado por uma série de factos gravosos para a cultura da vinha. 
 O início foi drasticamente marcado com as invasões francesas que, para além de levarem ao abandono de muitas propriedades, após actos de saque generalizado na rota seguida pelos invasores, motivaram ainda, nomeadamente na Estremadura, a Sul de Torres Vedras, o desvio de toda a mão-de-obra rural para a edificação da defesa de Lisboa, assente nas conhecidas Linhas de Torres. 
O ataque praticamente generalizado a todo o país da terrível filoxera, insecto que atacando as raízes da videira europeia levou à morte grande parte do património vitícola nacional. Conhecida a solução, rapidamente as colinas da Estremadura se viram de novo cobertas de vinhas que, com pujança rejuvenescida, passaram a contribuir para uma produção de grande volume. 

Consolidada a recuperação da cultura da vinha e retomada a sua expansão por toda a Estremadura, diversas zonas que a tradição havia firmado são contempladas com o reconhecimento qualitativo dos vinhos de pasto de tipo regional. 

Com a publicação do Decreto de 1 de Outubro de 1908 foram criadas as condições para ser iniciado o processo de demarcação das regiões de Carcavelos, Colares e Bucelas. O mesmo poderia ter acontecido a Torres e Alcobaça, mas motivos de difícil compreensão levaram a uma espera de perto de oitenta anos. 
A alteração dos hábitos da vida rural, dos hábitos de consumo e da própria política vitivinícola, como consequência da integração na Comunidade Europeia, levaram a um reequacionamento daquela estrutura. 
A dificuldade de escoamento numa Europa afogada em vinho e álcool levou a que a Estremadura, com ou sem aliciantes financeiros, se despisse de muita cobertura vitícola. A redução, a ser real, foi considerável, mas é gratificante constatar que também considerável foi o esforço da Estremadura em reestruturar a sua viticultura, integrando-se no movimento incentivador à promoção da qualidade, consubstanciado em diversas acções específicas orientadas na valorização qualitativa. 
A selecção de castas, a melhoria tecnológica, o reconhecimento de novas denominações de origem, conjuntamente com o esforço do viticultor e o saber do enólogo, foram pedras basilares para se atingir a situação actual, colocando os vinhos da Estremadura num patamar qualitativo francamente meritório e que vem dar confirmação à continuidade da vocação vitivinícola da região. 

A sua diversidade 
A Estremadura fazendo jus ao seu nome, terra de fronteira, de separação de regiões, de dispersão e pluralidade, é frequentemente referenciada pela sua diversidade. Diversidade na origem geológica, na orografia, na sociedade, na multiplicidade agrícola. Mas até aqui a diversidade continua a manifestar-se e como resultado da diferenciação de solos, de castas, de exposição, de ventos e de tantos outros aspectos, sem excluir o próprio ser humano, acabamos por encontrar uma diversidade de tipos de vinho. Diversidade se considerarmos a cor, a riqueza alcoólica, a acidez, a estrutura, o aroma. Diversidade até nos preços e nos destinos, sem esquecer que o fruto da videira encontrou também na região algumas zonas particularmente vocacionadas para o consumo em natureza. Os grupos que integram esta diversidade, cada um de per si, são: 
* VINHO COM DENOMINAÇÃO DE ORIGEM 
* VINHO REGIONAL 
* VINHO LICOROSO 
* VINHO LEVE 
* VINHO DE MESA 
* AGUARDENTE VÍNICA 
* AGUARDENTE BAGACEIRA 
* ESPUMANTE  

As suas denominações Como consequência da diversidade da produção vitivinícola, parece perfeitamente natural que tenham assumido individualidade própria determinados topónimos que passaram a ser utilizados como denominação do produto vínico local. 

A região de Lisboa contempla as denominações de origem:  
Alenquer, 
Arruda, 
Bucelas, 
Carcavelos, 
Colares, 
Encostas d’Aire (Alcobaça e Medieval de Ourém), 
Lourinhã, 
Óbidos  
Torres Vedras 
e ainda a indicação geográfica homónima 
("Vinho Regional Lisboa"). 

ALENQUER

A zona de Alenquer, no momento actual e no panorama vitivinícola da Estremadura, é seguramente a que detém uma posição de maior destaque, não apenas em valor absoluto quanto à área ocupada por vinha mas sobretudo pelo prestígio que os vinhos ali produzidos têm vindo a alcançar, sejam eles vinhos com denominação de origem, ou muito particularmente os vinhos integrados na classificação de vinho regional.
Entre as encostas da Serra de Montejunto, viradas a Sul e a Poente e as margens do Rio Tejo, desenvolve-se o concelho de Alenquer, numa sequência de colinas e vales, de terras densamente agricultáveis, onde a vinha marca uma presença quase constante.
        A vinha ocupa hoje uma área superior a 6 mil hectares com uma produção de cerca de 200.000 hl tanto em adegas cooperativas como em muitas quintas que continuam a desempenhar um papel relevante na valorização e dignificação dos vinhos da região.
        Para tal contribui de forma fundamental a natureza do solo, a orografia e o clima. Os solos argilo-calcários, oriundos de substratos de origem mezozóica e cenozóica, manifestam particular aptidão para receber a videira que se instalou nas vertentes ensoleiradas de numerosas colinas e outeiros, ora viradas a sul, ora constituindo-se como cortinas naturais protectoras dos ventos húmidos e frios de origem atlântica, proporcionando assim uma barreira circundante e condicionante do clima particular que aqui se sente.
        A tradição dos vinhos brancos aromáticos, cheios e persistentes no sabor e dos tintos vinosos, equilibrados, vivos e brilhantes enquanto jovens com distinto “bouquet” quando estagiados, foi determinante para que a política de reconhecimento das denominações de origem de vinhos de qualidade contemplasse a região e reconhecesse oficialmente a denominação Alenquer. E no seguimento desta acção foi dada satisfação aos anseios da viticultura regional, com a aprovação dos estatutos da Região Vitivinícola de Alenquer pelo Decreto-Lei nº 331/89, de 27 de Setembro.
        Do vinho, com denominação de origem, foram certificadas em 2003 cerca de 600.000 mil garrafas. 


ARRUDA
    Qualquer referência à importância do sector vitivinícola neste concelho torna-se irrelevante face ao destaque que lhe é concedido ao integrar o próprio topónimo - Arruda dos Vinhos.
        É povoação de origem remota, dominada pelos árabes e conquistada por D. Afonso Henriques em 1160, data em que lhe é atribuído o primeiro foral, confirmado em 1519 por D. Manuel I.
A região foi duramente castigada no séc. XIX pelos ataques de oídio e pela filoxera, mas as condições edafo-climáticas, particularmente adequadas para a cultura vitícola, fizeram ultrapassar esta fase e a paisagem voltou a contar com a presença forte da vinha.
        Embora não existam na região maciços montanhosos ou altitudes significativas, o relevo predominantemente de encosta, a orientação dos vales e a influência atlântica, condicionam o seu clima que pode então ser caracterizado por temperaturas amenas, precipitação média, ausência de geadas tardias, fraca nebulosidade e humidade relativa do ar variando pouco ao longo do ano.
        Os solos mais adequados para a cultura da vinha têm origem geológica no Jurássico e podem ser referenciados como predominantemente argilo-calcários.
        A qualidade da matéria prima, associada a uma laboração cuidada e uma gestão eficiente, confirmaram com facilidade o nome Arruda que consequentemente foi reconhecido como o de região para a produção de VQPRDs. A concretização foi então formalizada com o Decreto-Lei nº 331/89, de 27 de Setembro.
        A região conta com 2.120 ha de vinha, com explorações bem dimensionadas e que também na elaboração e comercialização de vinhos confirmam os méritos da região.
        O principal produtor é a Adega Cooperativa de Arruda dos Vinhos que no conjunto de Vinhos certificados (DOC e Regional) comercializou em 2003 cerca de 110 mil garrafas
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BUCELAS 
      Um vinho branco português que foi muito apreciado pelo marechal Wellington e que por tal passou a ser de uso habitual na Corte Britânica, aliás já antes referenciado por Shakespeare na sua obra “ O Rei Henrique VI”, era e é um vinho produzido a dois passos de Lisboa, em Bucelas.
        O Arinto, casta dominante, proporciona a elaboração de vinhos de forte personalidade que colhem unanimidade de apreciação quanto à qualidade e tipicidade do Bucelas, embora neste último aspecto se tenha verificado alguma evolução, evolução decorrente da necessária adaptação ao gosto do consumidor que, de forma talvez involuntária, acaba por seguir a moda da época.
A região foi demarcada pela Carta de Lei de 18 de Setembro e Decreto de 1 de Outubro de 1908 e pelo actual estatuto da DOC Bucelas - D.L. nº 43/2000, de 17 de Março - foram mantidas as exigências de restrição de instalação das vinhas em solos predominantemente derivados de margas e calcários duros, correspondentes às tradicionais “caeiras”, devendo a elaboração do vinho branco recorrer à casta Arinto, com um mínimo de 75%, podendo ser completada apenas por recurso às castas Esgana-Cão e Rabo de Ovelha.
        Actualmente a área de produção estende-se por 160 hectares, distribuídos principalmente pelas encostas suaves do vale do Rio Trancão, beneficiando do micro clima típico da região, bastante frio no inverno, temperado no verão, por vezes com dias calmosos mas de noites frescas mercê das brisas do lado do Tejo.
        Contrariamente às duas outras denominações de origem, tal como esta vizinhas de Lisboa, com Bucelas parece poder haver alguma confiança no futuro, sobretudo em termos de sobrevivência, constatando-se uma manifesta vitalidade expressa não só na elevação do número de produtores, como pela actual quota de vinho comercializado, que em 2003 foi superior a quinhentas mil garrafas. Tal facto permite, por consequência, a continuidade de um dos vinhos mais considerados na história vitivinícola nacional, viabilizando por sua vez realçar com toda a justiça o mérito da casta Arinto.

 CARCAVELOS
Esta região, situada muito próximo da foz do Tejo, foi definida pela carta de lei de 18 de Setembro de 1908.
        É região vinhateira já antiga.
        No tempo do Marquês de Pombal os vinhos da sua Quinta de Oeiras que em parte está situada na actual região demarcada, eram comprados pela Companhia do Alto Douro. O vinho da região era tão apreciado já nessa altura que entre os presentes enviados por El-Rei D. José I, no ano de 1752, à côrte de Pequim pelo Embaixador Francisco de Assis Pacheco de Sampaio figuravam duas garrafas de vinho de Carcavelos numa caixa forrada de veludo carmezim guarnecida com galões de prata e ferragens também de prata.
A produção total da região chegou a atingir 3.000 pipas no princípio do século XIX.
        A região contava com os favores do clima, influenciado pela proximidade do mar, embora de forma não muito significativa, porque os ventos dominantes do Norte durante a época estival repeliam a humidade que seria prejudicial à maturação da uva.
        A própria exposição a Sul era bastante favorável à cultura da vinha, que também encontrava boas condições de desenvolvimento nos solos de formação calcárea.
        Do leque de castas então mais comuns, a maioria das quais se mantém no encepamento actual, o destaque vai para o Galego Dourado.
        As uvas tintas eram desengaçadas em parte, ao que se seguia a pisa no lagar, sendo a fermentação feita em balseiros pelo tempo de uma semana.
        O vinho branco era fabricado segundo o método comum de bica aberta, fermentando em tonéis destapados, pelo espaço de um mês e ao fim d’este tempo aguardenta-se.
        As fermentações eram longas e completas, desdobrando-se todo o açúcar do mosto.
        Para poder beneficiar da denominação Carcavelos há que cumprir o que legalmente está estabelecido - Decreto-Lei nº 246/94 de 29 de Setembro. Os vinhos deverão ter um título alcoométrico total superior a 17,5% vol. e adquirido não superior a 22% vol., não podendo o teor de açúcar residual ser superior a 150 g/l.
        Das práticas tradicionais o generoso Carcavelos respeitará obrigatoriamente um estágio mínimo de dois anos em madeira e seis meses em garrafa.
        Até alguns anos atrás foi a Quinta do Barão que manteve com certa projecção a produção de Carcavelos. Mas a invasão do betão, o alargamento do sistema viário, as dificuldades em mão-de-obra, levaram a que este bastião do Carcavelos sucumbisse.
        Dos sobreviventes merecem referencia a Quinta dos Pesos, Quinta da Ribeira, Quinta da Samarra e com maior expressão a Quinta do Marquês que no seu conjunto e para elaboração do Carcavelos totalizam uma área com pouco mais de 10 hectares. Consequentemente a produção é exígua, sendo os vinhos que se encontram no mercado de colheitas, já com vários anos.

COLARES 
 A região vinícola de Colares, um pouco mais distante de Lisboa do que a sua vizinha, mas também nobre, região de Carcavelos, não terá atingido actualmente uma posição tão crítica quanto esta, mas não se afasta muito. Uma área de vinte hectares será apenas o que hoje se pode contar para a produção do Colares típico, o Colares de Chão de Areia. É uma constatação amarga, ainda mais amarga quando a perspectiva futura é a de uma cada vez maior redução, ou seja, a esperança de manutenção é curta.
        A época de início do cultivo da vinha em Colares é questão de resposta difícil, sendo certo, contudo, que é anterior à fundação da nacionalidade, porquanto entre os reduzidos tributos com que em 1154 D. Afonso Henriques galardoava os habitantes de Sintra já figurava o vinho.
        D. Afonso III incentivou o cultivo, doando as terras com a obrigação de plantar vinhas e condenando aqueles que as cortavam.
        A produção foi mantendo as exigências do mercado, ultrapassando mesmo o necessário ao consumo, até quando do surto filoxérico que grassou no país, dada a particularidade do sistema de instalação da vinha no chão de areia de Colares, onde o insecto devastador não lograva alcançar as raízes profundas das videiras.
A redução de produção que de forma notória afectou todo o país terá promovido uma maior procura do vinho desta região.
        A carta de Lei de 1908 reconhecendo Colares como vinho de tipo regional, foi o diploma que criou a região demarcada, património de elevado grau de raridade, senão único, em todo o mundo vitícola.
        A região está confinada a uma zona de terrenos de areia solta da era terciária, assente sobre uma zona argilosa do cretáceo, que em tempos recuados se admite ter sido pertença do mar e onde as videiras desenvolvem as suas raízes.
        O clima é marcadamente mediterrânico, mas de sub-tipo oceânico e com frequência se fazem sentir os ventos húmidos do mar, soprando por vezes com violência.
        O actual estatuto da Região Vitivinícola de Colares foi publicado em 1994, pelo Decreto-Lei nº 246/94, de 29 de Setembro. Para além da delimitação da área de produção e de outras especificações adequadas, com relevo para as castas, é de destacar no âmbito das práticas culturais a obrigatoriedade de, na plantação das vinhas em chão de areia, se respeitar a prática tradicional de “unhar” a vara de pé franco no estrato subjacente à camada de areia. Outrossim refere-se ao indispensável estágio, dadas as características ásperas do ramisco novo, pelo que a comercialização do vinho tinto só é permitida após um estágio mínimo de 18 meses em vasilhame de madeira, seguido de 6 meses em garrafa, períodos estes que para os vinhos brancos são reduzidos respectivamente a 6 e 3 meses.
        São estas as condições de produção de um vinho que nos dias de hoje se limita à reduzida cifra de 100 hl, valor bem distante dos 1.276.041 litros de vinho tinto das vinhas de areia, referenciados à colheita de 1930 pelo professor Gonçalves Pereira na sua tese na Faculdade de Letras de Toulouse, em 1932, e na qual dá grande destaque à exportação, sobretudo para o Brasil.

ENCOSTAS D'AIRE
   Na extensa área que se desenvolve entre o litoral e o Maciço Calcário Estremenho - particularmente a Serra de Aire - a norte da fértil região de Alcobaça, e a Sul dos contrafortes da Serra de Sicó, acompanhando parte do Rio Lis e tendo Leiria por centro, de há longa data que se cultiva a videira.
        Também os vinhos do termo de Ourém são referenciados por Teixeira Gyrão no seu Tratado de Agricultura, em 1822, dando conta da tecnologia seguida e pela qual se obtinham vinhos abertos de cor, por tal designados vinhos vermelhos ou, talvez com maior significado na expressão regional, vinhos palhetos.
        De entre as diversas referencias à sua produção em termos recuados, não podemos contudo deixar de ter presente que ao preceito do cultivo da vinha e à técnica de elaboração dos vinhos não se pode dissociar a influência dos monges da vizinha Alcobaça, que além de difusores do conhecimento aliavam em muitos casos a posse das terras ou direitos sobre as mesmas.
        A região que se estende por cinco concelhos - Batalha, Leiria, Pombal, Porto de Mós e Ourém - ocupa área considerável da Alta Estremadura, encontrando a vinha forte concorrência não só a nível agrícola com outras culturas, como também com a floresta e em termos sócio-económicos, mais recentemente, com uma forte industrialização.
 A legislação nacional que em 1986 reconheceu novas denominações de origem para identificação de zonas vitivinícolas produtoras de vinhos de qualidade, identificou a área conjunta por Encostas de Aire, tendo posteriormente o Decreto-Lei nº 333/89, de 28 de Setembro, aprovado os estatutos com vista à produção e comercialização dos vinhos a integrar na categoria de VQPRDs. A região conta actualmente com uma área de vinha de cerca de 5000 ha, dos quais apenas uma pequena percentagem está cadastrada para produzir VQPRD.
        Numa apreciação sumária aos vinhos tradicionais podemos caracterizar os tintos como vinhos com uma cor aberta, ligeiros, equilibrados, mas com alguma adstringência que se esbate com o envelhecimento; os brancos são de cor amarelo citrino, frutados, aromáticos e com alguma persistência.
        Em 2005, foi reconhecido Encostas d' Aire como denominação de origem (DO) e "Alcobaça" e Ourém (Medieval de Ourém) como suas sub-regiões.

ESTREMADURA LISBOA 
 Para além das denominações de origem acabadas de referir parece importante salientar a indicação geográfica ESTREMADURA, reconhecida para identificar os vinhos produzidos na área delimitada em 1993 como área geográfica de produção do Vinho Regional Estremadura.
        Esta menção é exclusiva dos vinhos de mesa branco, tinto e rosé, ou rosado, que satisfaçam as condições expressas na portaria que a regulamentou -
Portaria n.º 351/93, de 24 de Março.
        No âmbito da produção do Vinho Regional Estremadura é ainda de referir o vinho licoroso, o vinho Leve, vinho este que pelo seu aroma e frescura se tornou um companheiro indispensável em refeições ligeiras em tempo quente.
Aproveitando a oportunidade de utilização de castas exteriores à região quer nacionais quer estrangeiras e de certa forma usadas como melhoradoras das regionais, o Regional Estremadura atingiu um patamar qualitativo de muito mérito e que rapidamente ganhou a preferência de muitos consumidores.
        A prová-lo está a continuada ascensão do volume de vinho certificado e o elevado número de galardões e referencias que tem obtido a nível mundial.

LOURINHà
        “A região da Lourinhã é, tradicionalmente, produtora de aguardentes vínicas cuja qualidade tem sido reconhecida desde meados do século”. Insere-se esta afirmação no preambulo do Decreto-Lei nº 34/92, de 7 de Março, que reconhece a denominação de origem Lourinhã e que criou a primeira região demarcada do país para produção exclusiva de aguardente.
A região aberta para a extensa planície orlada de montes onde corre o Rio Grande, está hoje em termos de cultura de vinha reduzida a uma área de 815 hectares, onde predominam as castas Seminário, Alicante Branco, Marquinhas e Cabinda, especialmente vocacionadas para a produção de vinhos destinados à destilação.
        No relatório sobre os estudos realizados em aguardentes da Lourinhã pela Estação Vitivinícola Nacional na década de setenta é referido terem os vinhos da região características normalmente existentes nas regiões de aguardente, nomeadamente a predominância de vinhos brancos, com baixo teor alcoólico e alta acidez fixa e provenientes de vinhas instaladas em zona de clima fresco e solos calcários. Apesar das alterações estruturais entretanto ocorridas, dos 44 636 hl produzidos no ano 2000, o vinho branco representa 63%, continuando assim a produção de aguardente na conjuntura actual a ser um bom escoamento.
        O Estatuto da Região Demarcada das Aguardentes Vínicas da Lourinhã - Decreto-Lei nº 323/94, de 29 de Dezembro - quanto à delimitação, contempla essencialmente o concelho da Lourinhã, sendo específico em diversos aspectos dos quais se destaca o título alcoométrico natural máximo dos vinhos a destilar ser de 10% vol., a vinificação ser feita sem adição de anidrido sulfuroso, os sistemas utilizados na destilação poderem ser destilação contínua com título alcoométrico máximo de 78% vol. ou destilação descontínua com título alcoométrico máximo de 72% vol. para a aguardente de coração, e uma exigência de envelhecimento para comercialização no mínimo de 24 meses em barris de carvalho.
        O principal produtor é a Adega Cooperativa da Lourinhã que, apesar duma conjuntura actualmente também desfavorável para as bebidas espirituosas, tem diligenciado a comercialização da aguardente com denominação de origem tanto no mercado nacional como no estrangeiro.
 

ÓBIDOS 
Das abas da Serra de Montejunto, para Noroeste, na direcção de e até Óbidos, estende-se uma numerosa sucessão de colinas e outeiros, cobertos por uma “manta de retalhos” onde a vinha assume posição dominante.
        É neste cenário que se desenvolve a zona vitivinícola de Óbidos, onde a dominância da vinha é francamente notória a partir do início do século XX.
        A sua presença é contudo referenciada desde os tempos da fundação da nacionalidade, quer em cartas de foral, quer no direito da aplicação do privilégio do “relego”, ou ainda em contratos onde o vinho era o tributo do benefício concedido ao direito de plantar uma vinha.
Ainda que os vinhos da região tenham sempre sido considerados como “vinhos de bom lote”, foram os vinhos das Gaeiras os que atingiram maior nomeada, em particular os da Casa das Gaeiras, propriedade adquirida em 1790 por um médico da Universidade de Coimbra, chamado para atender a saúde de Sua Majestade D. João VI, a banhos nas termas das Caldas.
        Comercializada a produção no final da primeira metade do século XX em garrafa tipo renana, atingiu a marca notoriedade, ombreando no prestígio dos poucos vinhos engarrafados da época com o Quinta das Cerejeiras, do vizinho concelho do Bombarral.
        O movimento de reconhecimento dos vinhos de qualidade que se seguiu á publicação da Lei das Regiões Demarcadas, em 1985, passou a contemplar uma área mais ampla, tendo adoptado um nome já sobejamente conhecido e de forte impacto nos meios turísticos como é o da simpática e acolhedora Vila de Óbidos.
        Com uma área geográfica distribuída por parte dos concelhos de Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha e Óbidos, ocupando solos de textura franca a argilosa de calcários pardos e vermelhos, dando destaque entre as castas à Vital e Trincadeiro - nome porque é conhecido o Castelão na região - a vinha ocupa cerca de 5.000 ha, produzindo em média 350 mil hectolitros de vinho.
        A produção de vinho com denominação de origem é reduzida, estando para esse efeito apenas cadastrada uma área de 178 hectares.
       Do restante, maioritariamente vinho branco, assume posição relevante dentro do vinho regional o vinho leve, não podendo deixar de se ter também presente a tradicional produção de aguardentes, embora na actualidade com uma posição bastante inferior à de décadas anteriores
        Os vinhos brancos na generalidade são citrinos, frescos, aromáticos, equilibrados, atingindo alguns certa distinção. Os tintos são tradicionalmente abertos de cor, frutados, pouco encorpados, à excepção dos provenientes de vinhas de encostas soalheiras, com um corpo e uma estrutura bastante agradável.

TORRES VEDRAS
"A qualidade dos vinhos da nossa Villa, e seu Termo, he bastantemente conhecida e acreditada: quasi todas as pessoas de gosto, e paladar delicado, que bebem do vinho particular, chegão a preferi-lo ao do Douro, e ao melhor estrangeiro, para uso ordinario da mesa.”
        É nestes termos que em 1835 o insigne monografista Madeira Torres, em escrito nas “Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa”, se referia à então “Villa e Termo de Torres Vedras”.
        Era opinião que colheu confirmação mais tarde em 1867 na apreciação do distinto agrónomo Ferreira Lapa, quando da visita aos centros vinhateiros do Continente do Reino. 
Terão sido referencias desta natureza que levaram à inclusão da denominação Torres na legislação que, no inicio do século XX, originou a criação de diversas regiões demarcadas para a produção de vinho tipo regional e que mais tarde pelo Decreto-Lei nº 331/89 de 27 de Setembro, reconheceu a zona vitícola Torres Vedras.
        De um modo geral a vinha estende-se por todo o concelho, ocupando solos provenientes de formações jurássicas e eventualmente do Cretácico, sendo, sob o ponto de vista pedológico, predominantemente os argilo-calcários classificados em calcários pardos e vermelhos que recebem a cultura da vinha, utilizando terrenos cuja textura pode variar entre argilosa e franca, podendo mesmo para os vinhos brancos ser franco-arenosa.
        Assim a vinha cobrindo colinas e outeiros, não raras vezes descendo às várzeas, chegou a ocupar uma área superior a doze mil hectares, tendo regredido nos últimos anos para uma área que se cifra acima de sete mil hectares.
        Dos vinhos produzidos, os tintos adquirem com o envelhecimento uma qualidade notória, sendo os brancos de cor amarelo-citrino, leves e aromáticos.
  

Área de vinha inscrita 
Área em hectares  
Vinho Regional Lisboa 7.288 DOC 
Alenquer                      618 
Arruda                          268 
 Encostas d' Aire          63 
Óbidos                        188 
Torres Vedras              873 
Total                            9.298 

CASTAS DOC 

DOC Alenquer


CASTAS BRANCAS
CASTAS TINTAS
DOC Arruda

CASTAS BRANCAS
CASTAS TINTAS   
DOC Encostas d' Aire

CASTAS BRANCAS
  • Alicante - Branco
  • Arinto (*), cujo o sinónimo reconhecido é Pedernã
  • Bical
  • Boal - Branco
  • Cercial
  • Chardonnay
  • Diagalves
  • Fernão - Pires (*), cujo o sinónimo reconhecido é Maria - Gomes
  • Jampal
  • Malvasia - Fina
  • Rabo - de - Ovelha
  • Ratinho (*)
  • Seara - Nova (*)
  • Tamarez (*)
  • Trincadeira - Branca
  • Vital (*)
CASTAS TINTAS
as castas tintas a utilizar na elaboração dos vinhos com direito à denominação de origem controlada "Encostas d' Aire" são as seguintes:
DOC Óbidos

CASTAS BRANCAS

CASTAS TINTAS


DOC Torres Vedras

CASTAS BRANCAS

CASTAS TINTAS


ROTAS DA VINHA E DO VINHO 

Rota da Vinha e do Vinho do Oeste 
Verdes e férteis, batidas por luz intensa e acariciadas por um clima temperado pela influência atlântica, assim são as terras onduladas que se desenvolvem entre as serras dos Candeeiros e de Montejunto e o mar. O território é curto, mas apresenta uma diversidade impressionante. Desde logo, de vinhos. Mas também de múltiplas culturas e influências, pré-históricas, romanas, árabes, com um notável acervo monumental feito de castros, igrejas e mosteiros medievais, castelos mouros, fortificações costeiras. 


Pródiga, a natureza permite ao visitante da região do Oeste escolher entre praias como a do Baleal, as ilhas Berlengas, ou povoações de forte pendor histórico, como é o caso de Óbidos. Os percursos pedestres programados ultrapassam a centena de quilómetros, os desportos náuticos apoiados são possíveis na Lagoa de Óbidos, os amantes do golfe têm na região um dos destinos de eleição. Há terras que merecem uma visita – Caldas da Rainha, Peniche, Alenquer – e saberes locais que proporcionam prazeres extraordinários, com destaque para as especialidades culinárias centradas nos peixes das águas frias do Atlântico. E há, também aqui, uma doçaria fina legada por conventos que marcaram, uma vez mais, a secular tradição vitícola regional. 


Rota dos Vinhos de Bucelas, Carcavelos e Colares 
É nas imediações de Lisboa que se cultivam três dos vinhos portugueses com mais história e tradição. A proximidade da capital, do Oceano Atlântico e do Estuário do Tejo traçou o passado, o presente e o futuro das regiões vitivinícolas de Bucelas, Colares e Carcavelos. Um dos problemas destas três micro-regiões é o de estarem sujeitas à pressão urbanística típica das áreas de influência de uma grande metrópole. Em Bucelas, a milenar cultura da vinha faz-se de forma invulgar, distribuindo-se pelas várzeas do rio Trancão e da ribeira da Bemposta, o que empresta aos seus vinhos um carácter inimitável. A região de Colares, com deslumbrantes vistas para o mar e para a Serra de Sintra, é ainda mais “estranha”. 

As vinhas crescem e estendem-se pelo chão de areia, desenhando gigantescos polvos vegetais que dão à viticultura local uma especificidade única no mundo. Foi essa particularidade que salvou as vinhas de Colares do ataque da filoxera, uma das maiores pragas destruidoras das vides europeias. 
Finalmente, Carcavelos, com as suas colinas suaves e clima temperado, é berço daquele que já foi um dos mais afamados vinhos generosos portugueses. As vicissitudes da história e do desenvolvimento limitaram a cultura da vinha a uma expressão residual. A proximidade de Lisboa, as belezas naturais do Estuário do Tejo, a atracção do mar e das praias atlânticas, a força telúrica e os muitos encantos da Serra de Sintra dão aos visitantes pretextos mais do que suficientes para uma visita demorada. 

IN: 
- IVV 
- VINI PORTUGAL 
- INFOVINI 
- COMISSÃO VITIVINICOLA DA REGIÃO TEJO 

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