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Imobiliário
Vender casas através de rifas ganha novos adeptos em todo o país
A necessidade aguça o engenho
e o preço oscila entre os cinco e os 100 euros.
Mas concursos não são autorizados
Com o desemprego a subir, os rendimentos mensais mais baixos e o custo de vida a aumentar, há cada vez mais pessoas que deixam de conseguir pagar as prestações da casa aos bancos. Mas a necessidade aguça o engenho. Primeiro no continente, mais recentemente no arquipélago dos Açores, são cada vez mais os portugueses a recorrerem às rifas para não perderem tudo.
A razão é simples. Existem hoje milhares de imóveis no mercado e o preço que os compradores estão dispostos a dar é muito inferior aos empréstimos contraídos no tempo das vacas gordas.
Ou seja, as avaliações feitas há uns anos, que deram origem aos créditos à habitação, superam, em muito, o valor actual destes bens. Com uma agravante: há milhares de casas novas a estrear que também não se vendem, dificultando o mercado em segunda mão.
Até agora, estes concursos têm quase todos passado à margem da lei, uma vez que não existem pedidos nesse sentido junto do Ministério da Administração Interna, o organismo estatal que autoriza sorteios deste tipo.
Mas os anúncios destas rifas estão a invadir os sites de vendas online. E há para todos os gostos. Desde rifas a cinco euros, 20 ou mesmo 100. E a localização abrange praticamente todo o território, incluindo as regiões autónomas.
É o caso de um apartamento T0, em Monte Gordo, no Algarve, a 50 metros da praia a “rifar por 10 euros”. Cada rifa tem um número de lotaria. Segundo o anunciante, só depois de conseguir vender todas as rifas, terá lugar o sorteio.
Na esmagadora maioria dos casos, quem recorre a este meio para vender imóveis não se identifica, deixando apenas um contacto de e-mail. Outro anónimo, desta vez na Covilhã, explica a razão que o leva a desfazer-se de um apartamento T3. “Devido à situação financeira em que me encontro, sou obrigado a rifar o meu apartamento na Covilhã, visto que não tenho condições de pagar as prestações e que não o consigo vender”.
Há casos que os anúncios são bilíngues, em português e inglês. É o exemplo de um T2 em Mafra, descrito como “excelente apartamento, em zona muito calma, próximo da estação e do acesso à auto-estrada, em condomínio fechado”. Por 25 euros, é possível entrar na corrida por esta casa, “ideal para quem tem crianças e gosta de privacidade e segurança, jardim, garagem, parque infantil e a 12 km de Lisboa”. Na Moita, em Setúbal, um outro anúncio denota verdadeiro desespero. O anónimo começa por dizer que “o assunto é muito sério e devido à falta de trabalho”, não consegue pagar a casa nem vendê-la e por isso decidiu vendê-la pela “módica quantia de 5 euros a rifa”. Esclarece ainda que estas serão sorteadas “assim que atingir o número necessário para pagar a dívida”. Em todos os casos investigados pelo i, para participar no sorteio é necessário enviar nome, morada e um contacto telefónico. A rifa é enviada através dos CTT e o pagamento feito no acto de entrega.
Em Fevereiro, João Fontinha tentou legalizar a venda de rifas. Desempregado e com dificuldades em pagar uma prestação mensal de 400 euros ao banco, decidiu leiloar uma moradia nas Furnas, em S. Miguel, Açores, num sorteio insólito, com 20 mil rifas, e legalmente. Caso não consiga vender pessoalmente ou nas redes sociais o número suficiente de rifas para cobrir o que deve ao banco, João garantiu que devolve o dinheiro a todos os apostadores.
* Já tentámos rifar este governo mas não vendemos uma única rifa!
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