29/04/2012

12 - FIGURAS DO ESTADO NOVO »»» antónio de sommer de champalimaud

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 António de Sommer Champalimaud  
(Lisboa, 19 de Março de 1918 — Lisboa, 8 de Maio de 2004) foi um empresário português. Figura polémica e incontornável na história económica do século XX português, citado muitas vezes como o homem mais rico do país, tinha uma fortuna calculada em 1,3 mil milhões de euros e apareceu na lista dos multimilionários da revista americana Forbes em 2004, ocupando a 153.ª posição. Construiu o seu império empresarial durante a ditadura do Estado Novo, com a protecção de Salazar. Esse império foi estatizado pelo Governo de Vasco Gonçalves. Estendeu os seus negócios a Angola, Moçambique e ao Brasil, onde manteve outro império empresarial, na altura em que era governado por uma ditadura militar. 

 Biografia 
 Natural da freguesia lisboeta da Lapa, foi o primeiro filho de Carlos Montez Champalimaud, um médico militar, grande proprietário e produtor de vinhos do Douro, proveniente de uma família de Fidalgos da Casa Real, e de sua esposa, Ana de Araújo de Sommer, neta do barão Heinrich de Sommer, pertencente a uma família alemã radicada em Lisboa, que se dedicava ao comércio de ferro.

 Fez estudos no colégio jesuíta de A Guarda, na Galiza, e ingressou na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde chegou a frequentar o Curso de Ciências Físico-Químicas. Porém, a morte do pai em 1937, ditou a sua entrada no mundo dos negócios. Prevendo-se a falência da Companhia Geral de Construções, a empresa do pai que estava tecnicamente falida, e que que toda a família desejava vender, António Champalimaud foi peremptório e assumiu as rédeas do negócio. Era o filho mais velho de quatro irmãos e queria reerguer o legado do progenitor. Contou com a ajuda de Ricardo Espírito Santo e Silva e conseguiu um crédito de confiança para a dívida, à época, de treze mil contos. 
 Decisivo para o despontar de António Champalimaud como homem de negócios foi também o casamento, em 1941, com Maria Cristina de Mello (1920-2006), herdeira de uma das maiores fortunas de Portugal, filha do presidente da CUF, Manuel de Mello (também pai de José Manuel de Mello e Jorge de Mello), e neta de Alfredo da Silva e do conde do Cartaxo. Desse casamento nasceram sete filhos — António Carlos (1942), Maria Luísa (1943), Maria Cristina (1945), Manuel Carlos (1946), José (1947), João Henrique (1950) e Luís (1952). 

Negócios 
 Aos vinte e quatro anos tomou posse da administração da Empresa de Cimentos de Leiria, propriedade do tio Henrique de Sommer, que viria a falecer, em 1944, e a deixar-lhe grande parte dos seus bens. 

Dinamizou a exportação de vinho do Douro e lançou os primeiros projectos de urbanização na Quinta da Marinha, em Cascais, segundo os planos encomendados na década de 1920 pelo seu pai. Os materiais de construção, o imobiliário e a exportação de vinhos eram os três negócios-chave do jovem empresário. Socorreu-se de empréstimos na Casa Bancária José Henriques Totta, gerida pelo seu sogro, Manuel de Mello, para adquirir, com a ajuda de Salazar, a firma Cimentos Tejo (detentora, na altura, do maior forno de cimento do mundo, que começou a funcionar em 1960), unidade fabril adquirida e modernizada pelo seu tio Henrique de Sommer, que detinha o seu controlo desde 1934, e a Companhia de Carvões e Cimentos do Cabo Mondego. 

Em Angola fundou a Companhia de Cimentos de Angola e mandou construir a Fábrica do Lobito, em 1952 (ano em que se juntou ao Grupo CUF). De seguida, em Moçambique, comprou a Fábrica de Cimentos Portland, sediada na Matola e, novamente em Angola, fundou a Fábrica de Nova Maceira, no Dondo, em 1951, bem como a Fábrica de Nacala, em 1963. Em 1954, numa estratégia de continuação do negócio de ferro iniciado pela família Sommer no século XIX, e perto de um forno feito pelo seu bisavô, o barão Heinrich de Sommer, fundou a Siderurgia Nacional. 
 Em 1955 Salazar publicou um alvará em que atribuiu à empresa o exclusivo da exploração, por dez anos, de vários minérios de ferro e aço – um verdadeiro monopólio legal. Começou então a investir na indústria da celulose, com a Companhia de Papel do Prado e da Abelheira. Das participações que acumulou, constam ainda a Companhia Industrial Portugal e Colónias, a Fábrica de Cerveja Portugália e o Hotel Penta. Entretanto, ia expandindo os seus negócios para outras áreas. As suas empresas eram as maiores clientes dos bancos e seguradoras Espírito Santo. Tentou compra o grupo mas a resposta negativa de Manuel Espírito Santo e Silva obrigou-o a virar-se para o norte do País, onde descobriu uma pequena seguradora com o nome A Confiança. A descoberta tem um pequeno pormenor por trás: o proprietário desta empresa era também dono do Banco Pinto & Sotto Mayor (BPSM). 

Assim, em 1960, torna-se o maior accionista do BPSM, adquire a companhia de seguros A Confiança e participa n' A Mundial e Continental Seguros. Posteriormente fundava as companhias Mundial e Confiança de Moçambique. Em África, o grupo de Champalimaud encontrou um vasto mercado de expansão, o que fez com que o BPSM rapidamente se transformasse no maior banco privado de Angola e Moçambique. Durante o regime salazarista, Champalimaud tentou, por três vezes, comprar o Banco Português do Atlântico, mas não teve sucesso. Em 1969, na sequência da contestação feita pelos irmãos de Champalimaud, no Caso da Herança Sommer, parte para o México, para evitar um mandado de captura no processo. Em 1973 os tribunais ilibam Champalimaud, que volta a Portugal. Não ficou por muito tempo – a Revolução dos Cravos obriga-o a deixar o país, antes das consequentes estatizações de Vasco Gonçalves lhe apanhar um património que, naquela época, era considerado a sétima maior fortuna europeia, com um império avaliado em quarenta milhões de contos. Em Março de 1975, vê nacionalizada a banca e os seguros, em Abril a siderurgia, em Maio as cimenteiras e celuloses. Champalimaud consegue comprar as acções da Soiecom, que pertenciam à Empresa de Cimentos de Leiria e, depois de passar por França, fixa-se no Brasil. Ali consegue reerguer o seu património, através da actividade agrícola, da criação de gado e da produção de cimento, refundando em 1976 a Soeicom – Sociedade de Empreendimentos Industriais, Comércio e Mineração. Regressado a Portugal em 1992, conseguiu readquirir 51% da Mundial Confiança, por 18 milhões de contos, comprou o Banco Pinto & Sotto Mayor por 37,2 milhões de contos, e assumiu o controlo dos bancos Totta & Açores e do Crédito Predial Português, aproveitando o processo de privatização das empresas públicas encetado pelo governo de Cavaco Silva. No mesmo ano o seu sexto filho, João, é assassinado por um funcionário de uma das suas empresas. Considerado o homem mais rico de Portugal, e dono do segundo maior grupo financeiro português - uma seguradora e quatro bancos - viu publicada uma biografia sua em 1997. Ao conjunto das suas participações, juntou ainda o banco de investimentos Chemical Service. Tudo no lapso de dois anos e com a ajuda de polémicas decisões ministeriais que evitaram dispendiosas ofertas públicas de aquisição ao magnata. Os seus arqui-rivais defendem que Champalimaud regressou para se vingar – com a ajuda de Cavaco Silva, comprou o que quis para depois vender aos espanhóis e realizar mais-valias. Cinco anos após a maratona de compras em Portugal, Champalimaud fechou negócio com Emilio Botín, presidente do Banco Santander, para a venda do património bancário e segurador. «Até vendia aos portugueses, mas tinham de me oferecer uma pipa de massa», disse Champalimaud no meio da polémica que estalou na sociedade portuguesa. 

Champalimaud arrecadou 301 milhões de contos e ficava como accionista de referência (uma participação de 3,5%) do capital do maior banco espanhol, mas deixava para trás um rasto de angústia nacional que até hoje subsiste – em 1999, Champalimaud anunciou a sua intenção de negociar com o Banco Santander Central Hispano, instituição bancária espanhola, as suas posições nacionais na banca (Banco Totta & Acores e o Crédito Predial Português) e no ramo dos seguros. O Governo português acabou por vetar o negócio, criando atritos com a Comissão Europeia, já que esta aprovava o negócio. Depois de longos meses de impasse, revogou o anterior acordo substituindo-o por um novo negócio, com quatro fases: na primeira, o grupo Santander compra a Champalimaud, o grupo Mundial Confiança (Mundial Confiança, BPSM, Banco Totta e Açores, Crédito Predial Português e Banco Chemical Finance). Posteriormente, o banco espanhol vende a totalidade do grupo à Caixa Geral de Depósitos que volta a revender ao Santander o Banco Totta & Açores, o Crédito Predial Português e o Banco Chemical Finance. Numa quarta fase a Caixa Geral de Depósitos lança uma OPA sobre o capital das outras duas instituições do grupo. Depois da venda do seu património financeiro, Champalimaud regressou ao Brasil, onde possuía fazendas vocacionadas para a agricultura e para a pecuária, deixando de ter negócios em Portugal. 

Morte 
António Champalimaud faleceu aos 86 anos, na sua residência em Lisboa, vítima de um cancro. A doença impedira-o, já em Abril, de receber a Ordem da Liberdade, atribuída por Jorge Sampaio. 

No seu testamento, legou 500 milhões de contos para a criação de uma fundação em Portugal, destinada à investigação na área da investigação biomédica. A Fundação D. Anna de Sommer Champalimaud e Dr. Carlos Montez Champalimaud – designação escolhida por Champalimaud, em homenagem aos pais – foi formalmente criada e é hoje presidida por Leonor Beleza, de acordo com suas instruções. 

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