21/03/2012

MARISA MATIAS

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 O último 
    que apague a luz

 O orçamento comunitário está em vias de entrar em colapso, de não conseguir garantir os pagamentos, porque os contribuintes principais, com a Alemanha à cabeça, se recusam a aumentar as suas participações. 

O esforço para “salvar o euro” deixa o orçamento europeu descalço e a União vai começar a ter dificuldades em honrar os reembolsos previstos. Quem o diz? Alain Lamassoure, presidente da comissão dos Orçamentos do Parlamento Europeu. 

A União Europeia está num novo rumo. O momento é de optimismo. A estratégia das instituições europeias começa a funcionar e a dar resultados. Há fragilidades ainda, mas não há dúvidas que em matéria de crise o tempo é o da “viragem”. Quem o diz? Herman van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, a instituição que junta os governos europeus. 

A crise continua. A tensão é menor, mas a crise económica na zona euro continua. A única maneira de ultrapassá-la é reforçando os mecanismos de defesa a nível europeu que impeçam o contágio e alargamento da crise da dívida, com a promoção de políticas de crescimento e de criação de emprego por parte dos chefes de governo e com as medidas de “curto prazo”, nomeadamente as de austeridade. Quem o diz? Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia. 

No mesmo dia, na mesma casa – o Parlamento Europeu, em Estrasburgo – três líderes das três instituições europeias conseguiram mostrar por que razão a União chegou a este ponto. O que as instituições europeias estão a fazer é a pôr em prática um procedimento que nem sequer é aceite na maioria dos países membros – a eutanásia. É isso mesmo, estão a promover uma morte voluntária e assistida do projecto europeu. 

O orçamento europeu é curto? Claro que é. Mas mesmo que o Parlamento e a Comissão o queiram ver aumentado, os governos não deixam, nem mesmo pela via da criação, por exemplo, de um imposto sobre as transacções financeiras. Atingimos um ponto de viragem? Claro que não. Os governos podem dizê-lo para acalmarem os seus eleitorados, mas as perspectivas não autorizam que se cavalgue o optimismo do presidente do Conselho. A crise continua? Claro que sim. Mesmo que o Conselho ache sempre que cada dia que passa é um dia a menos para a crise, os europeus e as europeias ainda não tiveram oportunidade de sentir esse “ponto de viragem” nas suas vidas. 

Se fossem compatíveis, o modelo das três propostas seria, grosso modo, o seguinte: mais orçamento e mais optimismo com mais austeridade. Isto não rima, pois não?


 Eurodeputada do Bloco de Esquerda


 IN "DIÁRIO AS BEIRAS" 
17/03/12

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