25/03/2012

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Crise financeira foi provocada pela “ganância de Wall Street”

A crise financeira foi em grande medida provocada pela “ganância” de Wall Street e os recentes protestos nos Estados Unidos não vão comprometer a reeleição de Barack Obama, considerou em entrevista à Lusa um histórico do Partido Democrata.

“As pessoas compreenderam que crise financeira foi provocada pela ganância sobretudo em Wall Street, entre os bancos e o que designamos por classe rica dominante nos Estados Unidos”, disse Spencer Oliver, ex-líder da juventude do Partido Democrata norte-americano na década de 1970, e que entre outras funções integrou a direção da Comissão de Helsínquia para os direitos humanos do Congresso dos Estados Unidos entre 1976 e 1985, e foi conselheiro principal do comité para os Assuntos Externos da Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA até janeiro de 1993.

Atualmente, Spencer Oliver assume o cargo de secretário-geral da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, após três reconduções.

O movimento “Occupy Wall Street”, uma ação de indignação política que alastrou pelos EUA desde meados de 2011, foi a consequência dessa sensação de mal-estar social, num país em crise económica.

“Apesar de existir uma enorme taxa de desemprego, ou das ameaças ao sistema de segurança social devido à crise financeira, existem executivos em Wall Street que se reformaram, mas garantindo milhões de dólares em bónus. As pessoas ficam zangadas com isso, e o movimento ‘Occupy Wall Street’ tem origem nesta situação”, indica.

As críticas do movimento de protesto não terão sido no entanto dirigidas diretamente à administração da Casa Branca e ao Presidente Barack Obama, que desde sempre contou com o apoio incondicional de Spencer Oliver.

As críticas devem ser antes apontadas “ao sistema financeiro, aos resgates e aos estímulos” que canalizaram avultadas somas “para salvar a pele de muitos banqueiros que foram os primeiros responsáveis pela atual situação”. E que motivou “o desapontamento e da revolta que existe numa parte considerável da nossa população”, incluindo nos setores mais radicais da direita reunidos em torno do movimento “Tea Party”.

Na perspetiva do veterano líder dos democratas, e apesar do “obstrucionismo” dos republicanos, Obama “fez um excelente trabalho” neste primeiro mandato, e decerto que será reeleito nas presidenciais de novembro.

“Esta atitude dos republicanos desacreditou-os largamente junto da população norte-americana. O facto de os republicanos terem bloqueado e obstruído os seus três primeiros anos de mandato, e continuarem a atacá-lo, permitiu que a população entendesse que Obama tinha razão. E também porque a economia está a melhorar”, sintetiza.

Em paralelo, considera que a corrida à nomeação do candidato republicano não tem decorrido de forma positiva. “Estão a deslizar cada vez mais para a extrema-direita, o que ajuda imenso Obama”.

Nas presidenciais de novembro, a situação económica será outro aspeto decisivo, com os dados mais recentes sobre o recuo do desemprego a favoreceram o líder da Casa Branca. No entanto, Spencer Oliver mostra-se reservado sobre a situação económica.

“O desemprego é ainda muito elevado, cerca de oito por cento... Poderá continuar a descer mas julgo que Obama não poderá contar com esse fator”, argumenta.

“A economia ainda permanece com problemas, a crise financeira não terminou, ainda existe uma enorme dívida não apenas nos Estados Unidos mas pelo mundo, e uma situação na Europa que não foi resolvida. Se a situação na Europa piorar, decerto que terá um impacto negativo nos Estados Unidos”, adverte.

As medidas adotadas nos últimos três anos e num contexto adverso – “os republicanos controlam o Congresso, têm maioria na Câmara dos Representantes, uma minoria de bloqueio no Senado e nada passa pelo Congresso sem que os republicanos adotem uma posição, o que têm feito em 90 por cento das situações”, recorda – são outros argumentos fortes do candidato apoiado pelo Partido Democrata.

“O facto de 47 milhões de norte-americanos não terem acesso a um seguro de saúde tornou-se numa situação embaraçosa para os Estados Unidos. E Obama fez o melhor que pôde para tentar instituir um sistema onde todos tivessem algum tipo de segurança”, enfatiza.

Spencer Oliver, com uma vasta experiência nesta área, sabe que nada é certo em política. Mas sublinha que Obama é “um grande candidato”, elogia a equipa que o rodeia e que já dirigiu a primeira campanha presidencial, e que assegura estar preparada “para enfrentar a mais dispendiosa campanha da história dos EUA”.


* O Tio SAM regoziga-se no seu íntimo com o default europeu.


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