29/03/2012

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HOJE NO
"DIÁRIO  DE NOTÍCIAS"

Portugal deixa de ser autosuficiente
 a partir de sexta-feira

Portugal pesca somente cerca de um quarto do peixe que consome e se os portugueses só comessem pescado capturado pela sua frota em águas comunitárias este stock esgotava-se sexta-feira, indica um relatório da News Economic Foudation e da OCEAN2012.

O relatório concluiu que Portugal é um dos países da União Europeia (UE) mais dependente de pescado importado e que a partir de 30 de março deixa de ser autosuficiente, quando no ano passado esta data era 26 de abril.

Assim, este ano, Portugal tem menor capacidade para suprir as suas necessidades de consumo de peixe com capturas próprias em águas da UE e é mais dependente de capturas não comunitárias para fornecer três quartos do seu consumo.

O que Portugal consegue produzir para consumo próprio em termos de pescado é "entre um terço e um quarto daquilo que é consumido anualmente. Estamos claramente a importar muito mais pescado do que seria desejável", disse hoje à agência Lusa o presidente da Associação de Ciências Marinhas e Cooperação (Sciaena), que faz parte da OCEAN2012.

"Tendo em conta o consumo médio diário de peixe de um português e o pescado que se estima seja capturado e produzido em aquacultura em Portugal este ano, só consumiríamos peixe português até 30 de março e, a partir dai, se não tivessemos a possibilidade de importar pescado de outros países, não poderíamos consumir mais peixe", especificou Gonçalo Carvalho.

"Portugal é o predador de topo da UE, em termos de pescado consumido por habitante. Os portugueses consomem três vezes mais pescado do que a média europeia. É uma pena que o seu apetite por peixe não seja tão voraz como a vontade de assegurar que existirá pescado no futuro", criticou Aniol Esteban, da News Economic Foudation (NEF) e OCEAN2012 e co-autor do relatório, citado num comunicado.

Segundo as organizações, as populações de peixe são um recurso renovável, mas, de acordo com as estatísticas da Comissão Europeia, "estamos a retirar mais peixe das nossas águas do que o que os ecossistemas conseguem repor".

Este trabalho das duas entidades internacionais tem como objetivo "chamar a atenção para o problema essencial" que é tanto a UE, em geral, como Portugal, de consumir muito mais pescado do que aquele que as suas águas são capazes de produzir e, por isso, "é necessário mudar alguma coisa".

Este alerta surge numa altura em que está a ser preparada a reforma da Política Comum de Pescas (PCP).

Parte do consumo em Portugal centra-se numa espécie, o bacalhau, que deixou de ser capturada pela frota portuguesa, mas outras espécies, como o atum, também contribuem para as quantidades importadas.

"Pode ser importante os consumidores portugueses optarem por espécies capturadas em águas nacionais, mas que não são tão conhecidas e populares", como a cavala que, atualmente, tem baixo valor comercial, defendeu o presidente da Sciaena.

A aquacultura poderá resolver uma parte do problema, "mas só se for orientada para métodos de produção ambientalmente sustentáveis, sobretudo para espécies herbívoras, que não dependam do pescado selvagem para a produção", acrescentou Gonçalo Carvalho.

A OCEAN2012 é uma aliança de organizações dedicadas a transformar a PCP da UE para eliminar a sobrepesca, acabar com as práticas piscatórias destrutivas e assegurar uma exploração justa e equitativa de populações saudáveis de peixes.


* Dizem que quem iniciou o desmantelamento da nossa frota pesqueira é hoje um alto dignitário português. Foi prémio!


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