09/02/2012

PEDRO TADEU


PEDRO TADEU

 

A RTP é menos livre do que a SIC e a TVI?

 

Espanto-me quando uma das principais argumentações dos defensores da privatização da RTP se sustenta na defesa da liberdade de imprensa. A tese é a de que ali a informação é necessariamente condicionada pelo Estado e controlada diretamente pelos interesses de quem está a governar. Esta equação pressupõe que o mesmo não se passa nas televisões privadas.
Claro que essas bondosas ideias nasceram de cabeças de memória curta, esquecidas, por exemplo, da forma como Marcelo Rebelo de Sousa saiu da TVI no tempo do Governo Santana Lopes, como Manuela Moura Guedes foi chutada para fora dos noticiários, durante a fase mais agitada da governação de José Sócrates ou, até, como a SIC contratou a polémica jornalista mas não conseguiu fazer nada com ela.
Entretanto, ó espanto, o noticiário mais prestigiado e credível junto da opinião pública e o que tem, quase sempre, maiores audiências, é o Telejornal da RTP1. E do lado da TVI, desde que para lá foram, da televisão do Estado, José Alberto Carvalho e Judite de Sousa, há uma maior aproximação à linha editorial do Telejornal.
Aconteceram, entretanto, os casos da emissão sobre Angola e do fim da crónica, na rádio do Estado, de Pedro Rosa Mendes, que atacou violentamente essa emissão. O escritor até é capaz de ter razão na crítica - isto se acharmos que aquilo era um programa jornalístico e não um evento de marketing - e dizem que foi despedido por causa do que disse. E então?
Em primeiro lugar, tenho a certeza de que qualquer estação privada, desde que angariasse o patrocínio comercial suficiente ou o pagamento adequado pelo Estado, era capaz de produzir e transmitir uma emissão igual à conduzida por Fátima Campos Ferreira.
Em segundo lugar, se Pedro Rosa Mendes tivesse sido despedido, nas mesmas circunstâncias, de uma rádio privada, não mobilizava solidariedades como as de agora - é que o facto de o caso ocorrer num media pago pela população de um Estado democrático autoriza uma fiscalização política que não é possível fazer a um privado. Por isso, temos a presente discussão plural, que vai dos jornalistas da casa aos partidos e chega ao Parlamento Europeu.
Compare-se, volto a recordar, com o caso de Manuela Moura Guedes na TVI: houve algum plenário de jornalistas que exigisse o que o da RDP exigiu aos seus diretores, que acabaram por se demitir?
A liberdade de expressão e a liberdade de imprensa estão sempre a ser atacadas e têm sempre de ser defendidas, com atenção e energia, seja em órgãos de comunicação social estatais seja nos privados. Iludir isto é hipocrisia ou desonestidade.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
07/02/12


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