08/01/2012

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SERPA
DISTRITO DE BEJA



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Localização

Serpa situa-se no Baixo Alentejo, no distrito de Beja, na margem esquerda do rio Guadiana, ocupando uma área de 1106,5 km2, distribuída por 7 freguesias (Brinches, Pias, S. Salvador, Santa Maria, Vale de Vargo, Vila Nova de S. Bento e Vila Verde de Ficalho).

Dista da sede de distrito cerca de 30 km, servindo de fronteira à sua região o rio Guadiana, a oeste, o rio Chança, a este, e os concelhos de Moura, a norte, e de Mértola, a sul.
Enquanto unidade administrativa, o concelho remonta ao século XIII, não se encontrando nos seus limites correspondência com nenhuma unidade social, política, económica, cultural, jurídica de períodos anteriores. Por isso, o quadro estruturante de populações anteriores à constituição do concelho, qualquer que seja o parâmetro tomado como referência, não se compreende na rigidez desses limites.

Fora de qualquer contexto jurídico ou administrativo, a análise das estruturas de povoamento, limitada a este espaço, tem que ser feita numa multiplicidade de factores em que a geomorfologia e os recursos assumem papel fundamental.
Situado no interior do Alentejo, o concelho de Serpa enquadra a vasta superfície de terras aplanadas, elemento característico do relevo de Portugal Meridional (FEIO, 1987, 11).
Esta planície monótona, geralmente bem conservada, às vezes por via de rejuvenescimento lento, transforma-se num manto de ondulações. Os solos característicos desta peneplanície são, globalmente, profundos, derivados de rochas eruptivas básicas, do complexo gabro-diorítico da região de Beja, ricos em fósforo, contendo elevadas proporções de argila – os barros – e, por isso, de elevada produtividade. Analisando de forma mais pormenorizada podemos, contudo, individualizar no concelho três espaços geomorfológicos distintos.

O primeiro, correspondendo às terras de barros, envolve a cidade e o seu termo imediato; o segundo, compreendendo os relevos ondulados, de solos magros, xistosos, da chamada Serra de Serpa, situada a sul do concelho entre o rio Guadiana e o rio Chança e o terceiro definido pelo relevo residual formado por três cristas paralelas de calcário metamórfico, com orientação hiercínica NNW-SSE, que se estendem desde a fronteira, atingindo a altitude máxima de 518 metros na Serra de Ficalho.
O rio Guadiana apresenta-se como a linha de água mais importante do concelho. Todavia, o seu leito encaixado profundamente na paisagem, cerca de 100 metros abaixo do nível médio do relevo, cria nas suas margens cabeços escarpados e de difícil acesso. A sua localização na extremidade oeste do concelho faz com que o seu papel de linha de água estruturante se esbata face ao dos seus principais afluentes que, de par com a ribeira do Enxoé, sulcam boa parte destas terras. Porém, enquanto via de circulação de produtos, o rio teve um papel fundamental na estruturação do povoamento proto-histórico.

No que concerne aos recursos naturais, embora sendo a agricultura e setores complementares a principal actividade, parece ser certo que as populações aqui existentes na antiguidade directa ou indirectamente acederam aos minérios da região.
Não se reconhecendo nesta área jazidas de importância similar àquelas que um pouco mais a sul se localizam, podem, contudo, distinguir-se na margem esquerda do Guadiana três regiões mineiras.
 A primeira, abrangendo as serras de Ficalho, Adiça e Preguiça, integra minas de ferro, cobre, zinco e galenas argentíferas; a segunda, na região de Barrancos, compreende minas de cobre; a terceira, situada entre Mértola e o rio Chança, enquadra minas de chumbo, cobre e manganês. Até a uma época recente laborou-se nas minas de ferro da Orada, as quais poderão ter sido exploradas também na antiguidade.


História
Serpa e a reconquista cristã
Sem mergulhar demasiado nas origens da antiga organização administrativa do concelho, refira-se que a documentação escrita só nos finais do século XIII consagra a área do termo. 
 Assim, em 1281, quando Serpa e todas as terras da Margem Esquerda do Guadiana estavam ainda sob domínio de Castela, Afonso X estabeleceu a demarcação do concelho, para melhor se povoar, e atribuiu-lhe o primeiro foral, o de Sevilha.
Ao fim de um século de peripécias militares e diplomáticas, com a Reconquista cristã do Alentejo, Serpa recebe de D. Dinis, em 1295, nova carta de foral.
Do ponto de vista económico, as disposições do documento indicam que a pastorícia e a agricultura eram as actividades fundamentais. Quanto ao comércio, era o pão e o vinho, os panos de lã e linho, o pescado... e o mouro vendido em mercado.
O foral dionisino revela ainda uma sociedade em reorganização, onde é grande a tensão social e política. Vejam-se as penas que oneravam as violações, o roubo de objectos e de terras e até as dificuldades na travessia de barco do Guadiana, de uma para a outra margem. Mas nem só a travessia do Guadiana era vigiada. Os caminhos também não eram seguros e o foral pretende garantir a protecção da actividade mercantil, em particular a movimentação de mercadores, judeus, cristãos ou mouros.
Outra ideia que se retira do foral de D. Dinis é a da estrutura social vigente, profundamente desigual. Mesmo aqueles que tinham direitos políticos, os vizinhos do concelho, estavam divididos pelos bens em cavaleiros e peões. Pouco a pouco, mesmo entre os vizinhos, começa a definir-se o grupo mais poderoso dos homens bons e, mais tarde, ainda nestes, os homens honrados de boa fazenda. Na base social, sem direitos políticos, ficavam os mesquinhos, os mancebos, os solarengos e escravos. Os diferentes níveis sociais não eram, evidentemente, estanques e regista-se mesmo uma intensa mobilidade social.
Do ponto de vista da organização administrativa e judicial, o concelho era dirigido por dois juizes, eleitos na assembleia dos vizinhos, sendo depois a eleição ratificada pelo rei. Mas uma disposição do foral proíbe que o gentile, ou seja, o estrangeiro ou pagão, possa exercer o cargo.
Em 1513, Serpa recebe foral de D. Manuel que, antes de ser rei, tinha sido senhor de Serpa. Este foral pouco fala da organização e da actividade política e social do concelho. Insiste principalmente na carga fiscal. De qualquer modo, a leitura do foral manuelino sugere que Serpa era, no início do século XVI, um povoado florescente onde persistia a pastorícia como actividade de grande relevância mas em que o artesanato e a atividade comercial atingem um alto desenvolvimento. Vale a pena determo-nos sobre a atividade artesanal dos habitantes do concelho. 
Fabricavam-se pelicos, mantas, material de empreita, materiais de ferro, ferramentas. O monarca isentava de tributo as matérias primas usadas na actividade artesanal. A lista de produtos transacionados é impressionante e se já não há mouros da Reconquista a vender no mercado não faltam os novos escravos, marroquinos e do Sára e principalmente da África negra.
Serpa era, no século de D. Manuel, um dos mais importantes portos secos do reino. Escrevia um autor espanhol da época que de Castela para Portugal existiam então duas estradas principais: uma vinha de Salamanca para Cáceres e daí para Évora e Lisboa; a outra, partia de Sevilha e por Serpa e Beja seguia também para Lisboa.
A propósito do foral manuelino refira-se que em meados do século XVI o Alentejo concentrava o maior número de centros urbanos do país, com uma intensa actividade artesanal e mercantil, e era, a nível nacional, a província que mais contribuía, com 27%, para as receitas do Estado.

Nesse quadro, Serpa apresentava-se, na centúria de Quinhentos, como uma das mais importantes vilas do Alentejo e do próprio reino, cujo desenvolvimento assentava na agricultura dos cereais e do gado mas também no artesanato poderoso, voltado para o comércio, e numa aliança muito estreita com o rei.
No século seguinte, Serpa quase duplica a sua população, o que está de acordo com a evolução geral do país. De facto, nos séculos XVI e XVII, as terras de fronteira, o interior, estão muito longe da desertificação pois a fronteira não trava ainda as ligações entre Portugal e Espanha.
 Em 1674, o príncipe regente, futuro rei D. Pedro II, confere à vila o título e os privilégios de "Vila Notável", justificados pelo número de moradores – mais de mil e quinhentos -, pela nobreza das gentes, saindo dela muitos homens insignes, tanto nas letras como nas armas, e pela posição militar estratégica que ocupava, junto à linha de fronteira, em ocasiões de guerra.
Esta última situação, aliás, fez com que o concelho fosse particularmente afectado pela insegurança e as destruições provocadas progressivamente pelas guerras da Restauração de 1640/48, a guerra da Sucessão de Espanha, entre 1703 e 1713, e as invasões napoleónicas, em 1801 e 1814.
Em meados do século XVIII, o concelho perde preponderância militar e, ao contrário do resto do país, a sua população não aumenta, talvez pelas inúmeras situações de crise registadas devido a maus anos agrícolas.
No final da centúria de Setecentos o concelho está mais próximo do século XVII do que do século XIX. O antigo regime económico mantém-se e com ele as desigualdades sociais. As terras férteis do concelho estão nas mãos dos grandes proprietários, que controlam a vida municipal, e constitui-se uma massa crescente de camponeses sujeitos a crises cíclicas de trabalho e a uma situação de subsistência miserável.
No dealbar do Século das Luzes, o país, em geral, e Serpa e a sua região, em particular, estão muito longe da "Luz" que tanto referem os homens desse tempo. Ironicamente, um deles, o Abade Correia da Serra, nasceu em Serpa, em 1751.
Nos séculos seguintes ter-se-á verificado uma concentração cada vez maior das propriedades nas mãos dos grandes senhores, que, salvo raras exceções, aplicam os seus lucros fora da região.
Durante a segunda metade do século XIX, a multiplicação dos desbravamentos, não só das terras boas mas também das terras improdutivas, a que chamavam galegas, e depois, nos anos 30 e 40 do século XX, a célebre Campanha do Trigo, que estendeu a sua cultura mesmo às vastas regiões de xisto, tiveram consequências desastrosas.
Desequilibraram o frágil sistema produtivo baseado na complementaridade da pecuária com as atividades recoletoras e com o cultivo intenso das hortas e não resolveram o problema de uma economia que servia os interesses de quem vivia fora do Alentejo. Talvez resida aqui a verdadeira dimensão do isolamento que afecta a região.
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Património
MONUMENTAL
Serpa, terra fronteiriça de conflitos frequentes, era, às vésperas da "Reconquista", um povoado fortificado importante, dominando férteis terras de cultivo. A velha muralha, implantada no cume de uma pequena elevação, delimitava uma área com cerca de 21000 m2. Nos finais do século XIII, D. Dinis, num esforço de reorganização cristã do Alentejo, refunda a vila muçulmana e manda construir de raiz o alcácer e uma imponente Cerca urbana com 65000 m2.
CERCA URBANA
 É bem possível que a própria torre sineira da Igreja de Santa Maria, que envolve no seu interior uma estrutura cilíndrica, seja o testemunho vivo da almádena da antiga mesquita.
Sinais do passado islâmico conservam-se ainda nalguns troços de muralha em taipa e em duas torres: a da Horta, parcialmente reaproveitada nas obras do castelo gótico, e a do Relógio, transformada em 1440 em torre relojoeira, ao que se supõe, a terceira mais antiga do país.
A primeira representação iconográfica de Serpa é composta pelos desenhos de Duarte de Armas feitos, por encomenda régia, no início do século XVI. Duarte de Armas fixou a imagem do espaço urbano tardo-medieval registando duas perspectivas de Serpa (da banda de leste e da banda do oeste) e uma planta da fortaleza. Retém-se, assim, a imagem de uma vila contida por dupla cintura de muralhas, a muralha principal e a barbacã, em que poucas são as casas com menos de um piso, o que significa que pertenciam a "fidalgos, cavaleiros e escudeiros e outra gente grossa". A cerca, que evidencia um traçado de tendência reticulada que permanece ainda legível no atual núcleo, surge interrompida por três portas que tomam o nome dos caminhos que delas partiam: Beja, Moura e Sevilha.
Ig Sta MARIA
Nesse século XVI, a vila de Serpa apresentava-se como centro urbano de certa importância no contexto sub-regional. Na primeira década da centúria, o povoado, com cerca de 500 fogos (2 500 habitantes) já se havia expandido extra-muros, em direção à Igreja de São Salvador, abrindo-se para o efeito a Porta de São Martinho e edificando-se uma ermida sob a mesma evocação.
Dos edifícios criados nesse período, prova do efetivo crescimento do aglomerado, destaca-se, em 1502, a Igreja de São Francisco, feita sob risco do arquitecto Rodrigo Esteves, e o Convento de S. Francisco.
Também nos alvores de Quinhentos, em 1505, é erguido o complexo da Misericórdia, que incluía "igreja pequena, mas notavelmente adornada de talha e ouro, pedra fingida e fino azulejo".
Ig  SALVADOR
Poderão ainda datar dos primeiros anos do século XVI as ermidas de São Pedro, São Sebastião, Nossa Senhora de Guadalupe e São Roque, edifícios característicos da interpretação regional da linguagem manuelina.
Nos finais da centúria ergue-se, no lugar de uma capela dedicada a Santo André, a Igreja de Nossa Senhora da Saúde, que reflecte a arquitectura do maneirismo pós-tridentino regionalmente implantada. A marcada austeridade exterior contrasta com a sumptuosidade do barroco que se descobre no seu interior, na azulejaria polícroma e no retábulo de talha dourada de 1681-1683.
Convento S.Francisco
  Sobre o pano Este da muralha medieval, nos últimos anos do século XVI, Francisco de Melo, alcaide-mor de Serpa, manda construir o edifício que dá hoje pelo nome de Palácio Ficalho, construção onde é patente uma grande austeridade e a continuação de soluções maneiristas, depuradas, que caracterizam o designado estilo chão, mas onde se sente o espírito barroco na relação com o tecido urbano.
Para levar água em exclusivo ao palácio foi levantado sobre o mesmo pano da muralha um aqueduto sobre arcada de vão redondo que continua até à extremidade Sul, onde remata numa gigantesca nora apoiada no bocal de um poço.
Depois dos conturbados anos que se seguiram à Restauração, anos de guerra e de consolidação da independência, a vila de Serpa é palco de novo surto construtivo marcado, naturalmente, por preocupações de defesa, mas não só.
No século XVII tem lugar a reconstrução, concebida em solução maneirista, das igrejas de São Salvador e de Santa Maria, edifícios cuja construção remontava ao século XIV, pois há a certeza de já existirem em 1406, mas que conservam dessa época vestígios esparsos.
Convento S. Paulo
Construções de raiz deste ciclo tardo-maneirista, a Igreja e Convento de São Paulo foram iniciados nos finais de Seiscentos a expensas do benfeitor Manuel Fialho, um natural da vila que "mandou das Índias de Castela, onde era muito rico, um donativo tão grande para a obra do convento, que se erigiu formoso templo pelo risco da igreja dos Paulistas da Corte, ainda que menos grande e menos sumptuoso". As obras prolongar-se-iam pela centúria seguinte.
Nesse final de século ergueu-se ainda o Calvário, edifício de planta circular e cobertura em cúpula, com pedras irregulares incrustadas nas paredes exteriores, de marcado pendor vernacular, e a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, em estilo chã, que possuía "capela-mor cheia toda de agradável e custosa talha dourada".
Capela N. S. dos Remédios

Como resultado da participação de Portugal na Guerra da Sucessão de Espanha, a vila foi tomada em 1707 pelos espanhóis, que se retiraram no ano seguinte não sem antes provocarem grandes danos, sobretudo no castelo e na cerca urbana. Aliás, a explosão da torre de menagem produziu umas belas e surpreendentes ruínas.
Ao contrário do resto do país, a população da vila não aumentou ao longo de Setecentos, talvez devido à excessiva sensibilidade da economia local às flutuações da produção de trigo, que criaram inúmeras situações de crise, sobretudo na segunda metade do século.
Apesar de tudo, a urbe não perdeu importância social. Em 1758 eram registados 5576 habitantes,e via-se ser vila "notável e de avultado crédito" pelas "casas das pessoas de primeira grandeza".
O surto construtivo parece ter esmorecido nesta época e, ao contrário do que aconteceu em outras zonas do país, os danos provocados pelo terramoto de 1775 foram de pouca monta, não obrigando a obras de envergadura. No entanto, poderá datar desta centúria a remodelação da igreja da Misericórdia e da igreja de Santa Maria. Não se pode também esquecer que no final de Setecentos é construída intramuros a igreja de Nossa Senhora do Carmo, conhecida por Santuário, interessante testemunho da arquitectura neoclássica no Baixo Alentejo.
Ig. Matriz de Vale Largo
Capelas, igrejas e conventos não faltam, pois, não só na cidade e seus arrabaldes como em toda a dimensão do termo do concelho. Espalhados pelo território encontram-se vários exemplares de arquitetura religiosa popular de feição regional datados do século XVI. Há que referir, assim, a Ermida de Santa Luzia, a cerca de 2 km de Pias, na estrada para Moura, a Ermida de Santana, que conserva praticamente íntegra a sua estrutura original de inícios de Quinhentos, a Igreja Paroquial de Santa Iria, pequeno templo paroquial que apresenta pinturas murais maneiristas atribuídas a mestres eborenses, a Ermida de São Jorge e a Ermida de Nossa Senhora das Pazes, em Vila Verde de Ficalho, a Capela de Nossa Senhora da Consolação, em Brinches, templo mariano quinhentista remodelado no século XVIII, e a Igreja Matriz de Brinches, construção tardo-medieval onde se destaca um excelente portal maneirista, a Ermida de São Brás, na estrada Serpa-Pulo do Lobo, a Igreja de São Sebastião, em Vale de Vargo, edifício manuelino que sofreu obras no século XVII, e, apesar de muito arruinada, a Igreja de Santo Estevão.
Torre Sineira - Pias
Mais tarde, no século XVIII, edifica-se em Vila Nova de S. Bento uma Igreja Matriz, templo barroco reconstruído nos inícios do século XX, e, sobre vestígios de uma igreja manuelina, junto ao cemitério da vila, a também barroca Igreja de São Bento.
A Igreja Matriz de Vila Verde de Ficalho, cuja construção arranca nos finais da centúria de Setecentos, apresenta pontos de contacto estilístico com a igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Serpa,
Não ficaria bem rematar o rol monumental do concelho sem uma menção aos moinhos de corrente do Guadiana, Chança e Enxoé, jóias da arquitetura popular, bem como às ruínas das velhas torres de vigia ou atalaias e à Torre Sineira de Pias, erguida no século XIX, e que pertencia a uma igreja que nunca chegou a ser concluída.

NATURAL
Rede Natura 2000
A rede ecológica denominada Rede Natura 2000 constitui um instrumento fundamental da política da União Europeia em matéria de conservação da natureza e da diversidade biológica e resulta da aplicação de duas diretivas, a saber:

- "Aves" (Directiva 79/409/CEE transposta para a ordem jurídica interna através do DL. n.º 75/91, de 14 de Fevereiro);
- "Habitats" (Directiva 92/43/CEE transposta para a ordem jurídica interna através do DL. n.º 226/97, de 27 de Agosto).
Tendo em vista a prossecução dos objectivos da rede, compete aos Estados membros designar Zonas de Protecção Especial (ZPE), ao abrigo da diretiva "Aves", e Sítios Nacionais, no âmbito da Directiva "Habitats". A partir das várias listas nacionais de sítios serão posteriormente selecionados os Sítios de Importância Comunitária (SIC) que darão lugar a Zonas Especiais de Conservação (ZEC).
Juntas, as ZPE e as ZEC constituem a Rede Natura 2000.
O governo português, tendo em conta o âmbito complementar das diretivas "Aves" e "Habitats", procedeu à regulamentação num único diploma das disposições nacionais relativas a essas matérias (Decretos-Leis n. os 75/91, de 14 de Fevereiro, e 226/97, de 27 de Agosto) – DL. n.º 140/99, de 24 de Abril.
Áreas significativas do concelho de Serpa integram:
- o Sítio "Guadiana" (aprovado na Resolução do Conselho de Ministros n.º 142/97, de 28 de Agosto);
- o Sítio "Moura/Barrancos (aprovado na Resolução do Conselho de Ministros n.º 76/2000, de 5 de Julho);
- as Zonas de Proteção Especial (ZPE) de Moura/Mourão/Barrancos e Vale do Guadiana (criadas pelo Decreto-Lei n.º 384-B/99, de 23 de Setembro).

Sítio Guadiana (39 257 ha)
(Abrange parte do Parque Natural do Vale do Guadiana)
O rio Guadiana e ribeiras afluentes constituem uma área privilegiada em endemismos e comunidades biológicas interessantes.
Entre os valores naturais deste sítio, estritamente ligados aos cursos de água, distinguem-se unidades florísticas peculiares e únicas, como é o caso da vegetação ribeirinha de cursos de água mediterrânicos intermitentes.
O Guadiana é o único rio em Portugal no qual o esturjão (espécie prioritária, migradora, classificada "em perigo") tem uma presença regular. Para além desta espécie ocorrem mais três espécies migradoras, o sável, a savelha e a lampreia, e pelo menos dois endemismos ibéricos, a cumba e o bordalo (classificada como ameaçada). As formações ripícolas suportam uma avifauna característica, de grande importância conservacionista. O lince tem uma ocorrência provável na área.

Sítio Moura/Barrancos (43 309 ha)
Área muito heterogénea do ponto de vista biofísico, observando-se a existência de zonas de planície cerealífera, de pastagens e de montados de sobro e azinho. Inclui ainda cursos de água de características torrenciais com alguns troços de vegetação típica em bom estado de conservação.
 Abrange um território com condições muito favoráveis à permanência do lince-ibérico e ainda o segundo abrigo mais importante do país para morcegos, que é um dos mais importantes da Europa em número de efetivos e o principal abrigo de hibernação em Portugal de espécies do género Rhinolophus (morcego-de-ferradura). Inclui também cursos de água importantes para a lontra e cágados. Esta zona constitui um local extremamente importante em relação à avifauna, quer pela presença de importantes populações de aves estepárias como a abetarda, entre outras, quer pela existência de um importante local de invernagem de grous.
No concelho de Serpa foram ainda identificados pelo Instituto da Conservação da Natureza ( www.icn.pt ) dois sítios de grande interesse do ponto de vista dos seus valores naturais, a saber: o sítio de Malpique e o sítio de Vila Nova de S. Bento.

Malpique
(Sobrepõe-se parcialmente a Moura/Barrancos)
A zona de Malpique, em conjunto com as Serras da Adiça e de Ficalho, constitui um núcleo de vegetação de calcários isolados no seio de uma enorme extensão de solos siliciosos. Trata-se de uma "ilha" muito original de refúgio de flora e vegetação de calcários (um dos raros habitats de orquídeas calcícolas do Alentejo). O estado de conservação da vegetação nestas serras é também excecionalmente elevado, encontrando-se aqui bosques e matagais densos, de elevada maturidade ecológica. 
 Este sítio tem igualmente uma enorme diversidade de habitats e de paisagem vegetal. É um núcleo de flora e vegetação bem conservada, original, madura e já muito rara no sul de Portugal, constituindo um importante contributo para a manutenção da biodiversidade à escala regional.

Vila Nova de S. Bento
Área de montados de azinho e pontualmente de sobro, com densidades elevadas em combinação com uma área importante do rio Chança. Nos montados encontram-se alguns exemplos das raras pastagens naturais vivazes bem conservadas do Alentejo. 
 No vale deste rio internacional são frequentes, também, bosques de azinheira próximos do estado clímax ou em recuperação rápida para este estado. Como tal, possuem grande maturidade ecológica e interesse de conservação. A vegetação de "tamujos" e loendreiros torna este rio importante para a conservação regional deste tipo de vegetação. Foi ainda detetada uma população importante de Marsilea batardae.

Parque Natural do Vale do Guadiana
Engloba na sua extensão grande parte do concelho de Mértola e uma pequena parte do concelho de Serpa (nas freguesias de Santa Maria e São Salvador). Foi criado pelo Decreto Regulamentar n.º 28/95, de 18 de Novembro, e conta com uma área de 69600 ha que corresponde ao troço médio do vale do Guadiana, entre a zona a montante do Pulo do Lobo e a foz da ribeira do Vascão.
Na área do PNVG existem três grandes unidades paisagísticas: os vales encaixados do rio Guadiana e seus afluentes, as elevações quartzíticas das serras de Alcaria e São Brão (com altitude máxima de 370 m) e as ondulantes planícies que dominam em extensão esta área protegida.
 O Parque apresenta extraordinário interesse do ponto de vista ecológico e ambiental e compreende uma grande diversidade de habitats, que vão do rio sujeito a marés, bancos de vasa e areia, formações ripícolas e rupícolas, matos, azinhal, pinhal, áreas agrícolas com culturas arvenses, cereais e pastagens.
Mas é a fauna a jóia do Parque, destacando-se os grupos de mamíferos (presença de algumas espécies raras ou ameaçadas), aves (existência de grandes rapinas bem como de alguns dos maiores garçais do país) e peixes (de referir algumas espécies endémicas de grande interesse científico e económico). Também no que respeita à flora e vegetação é de assinalar um razoável elenco de espécies endémicas raras ou ameaçadas.

Árvores classificadas de interesse público
Existem em todo o país árvores que se distinguem de outros exemplares pelo seu porte, desenho, idade e raridade, sendo protegidas pelo Decreto-Lei n.º 28468 de 15/2/38 e classificadas de árvores de Interesse Público, após apreciação da Direcção-Geral das Florestas e consequente publicação em Diário da República.
No concelho de Serpa foram já classificadas como árvores de Interesse Público cinco exemplares de Olea europaea L. var. europaea , vulgarmente conhecidas por oliveiras, duas em frente ao Jardim Municipal e três na Rua dos Arcos, na cidade de Serpa (DR. II Série, n.º 298 de 27/12/2001).



Roteiro com Aves
No "Roteiro com as Aves do Alentejo", da autoria de Miguel Pais e Rogério Cangarato, o primeiro local de visita recomendado é o alto de S. Gens. Uma impressionante vista em todas as direções deixa adivinhar para Sul os contornos de Alcaria Ruiva, pequena serra próxima de Mértola, e, do outro lado do Guadiana, da grande Serra do Caldeirão, em território algarvio. A Norte, o imponente maciço da Serra Morena que ajoelha suavemente para a Serra de Portel, marca os contornos do horizonte.
 É, de facto, um dos melhores locais para se aperceber a possível interconexão entre algumas grandes serras da bacia do Guadiana, através das acentuadas depressões que se advinham na paisagem, ao longo dos vales do Guadiana e do Chança, rio fronteiriço que nasce na Serra Morena e delimita a metade Sul da Margem Esquerda do Guadiana em território português.
Os arredores de Serpa são principalmente utilizados para a exploração de culturas tipicamente mediterrânicas, como o olival. A diversidade de passeriformes associada aos matos baixos e olivais é aqui grande e aconselham-se paragens e percursos a pé para identificar os cantos das várias espécies que se escondem entre as folhagens densas (melros e tordos, estorninhos, chapins, carriça, felosas e toutinegras, entre outras).
 A partir de Serpa, para Sul, existem duas alternativas: o vale do Guadiana, na zona do Pulo do Lobo (atravessando uma tipologia de habitat verdadeiramente típica da Serra de Serpa) ou a estrada nacional Serpa - Mértola, onde é possível conhecer a lindíssima Ribeira de Limas e o não menos imponente Rio Chança. A diversidade ornitológica é grande e o melhor conselho que é possível transmitir é mesmo dispor de mais de um dia para conhecer todos os recantos acessíveis a partir das estradas nacionais, sempre sem perturbar a fauna e sem danificar a flora.
Entre Serpa e Vale do Poço, pela estrada que passa ao Pulo do Lobo, a Serra de Serpa mostra a sua história recente de sobre-exploração do montado intimamente relacionada com a grande necessidade de combustível (lenha/carvão) para a Mina de S. Domingos. O montado está envelhecido e é bastante disperso. Nesta paisagem quase abandonada de usos humanos atuais, a degradação florestal é grande e requer um plano integrado de recuperação que trave a desertificação da área. Por entre a paisagem ondulada (que induziu a toponímia de "serra" no vocabulário coletivo local), é possível observar com relativa facilidade o Peneireiro-cinzento e, nas zonas onde os matos abundam, a localizada Toutinegra-tomilheira.
A aproximação ao Pulo do Lobo e ao rio Guadiana introduz o observador na zona das grandes águias. Águias reais e Águias de Bonelli estão presentes como nidificantes, para além da zona ser visitada regularmente por indivíduos não reprodutores que frequentam as áreas mais abertas ou as proximidades dos ninhos onde nasceram.
A paisagem é impressionante no Pulo do Lobo. Matagais de esteva dominam as encostas e grandes rochedos talhados pelo Guadiana, que aqui apertou o seu curso, e albergam todas as espécies próprias das zonas mais remotas desta região do país tais como a Cegonha-preta, o Bufo-real, o Rouxinol-do-mato e várias espécies de mamíferos e carnívoros.
Próximo à povoação de Vales Mortos, uma estrada secundária conduz a Corte de Pinto e, a partir da mesma, para Este, saem várias estradas de terra batida em direção ao Rio Chança. Juntamente com alguns setores do vale do Guadiana, é uma das zonas que terá sido mais poupada à intensa "campanha do trigo" e mantém, ainda hoje, uma vegetação com uma estrutura bastante íntegra. É novamente altura de estar atento à presença de aves de rapina diurnas e noturnas, para além de espécies rupícolas e passeriformes associadas às linhas de água e matagais cerrados. É uma das zonas onde a deteção dos interessantes Rouxinóis-do-mato, Toutinegra-tomilheira e Felosa-do-mato é mais fácil, dada a sua abundância relativa. As zonas de caça de regime ordenado (turísticas e associativas) são aqui dominantes e é sempre necessário respeitar a propriedade privada e a necessidade de uma eventual autorização para visitar o seu interior.

ARQUELÓGICO
O inventário do património arqueológico do concelho de Serpa, realizado em 1997 pelo Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no âmbito de um protocolo com a autarquia, dá conta da existência de mais de três centenas de sítios arqueológicos repartidos por um longo período, desde a Pré-história à época Medieval/Moderna. 

O número de referências inéditas (74,5%) torna bem claro o avanço do conhecimento sobre a arqueologia do concelho que este trabalho aporta.


OS PRIMEIROS PASSOS DA SEDENTARIZAÇÃO - NEOLÍTICO
Terra de invejáveis recursos, tão diversificados como a fertilidade agrícola das suas terras, a riqueza mineral do seu solo, o potencial cinegético das suas serras e montados, ou piscícola dos seus rios e ribeiros, o concelho de Serpa e áreas limítrofes tudo tinham para oferecer, atrair e fixar o homem. Interior mas não isolada, esta região é rasgada por uma das mais importantes vias fluviais do extremo ocidental da Península – o Guadiana – que, como via de comunicação, interligou regiões, gentes e costumes.
Ignora-se ao certo a altura em que, pela primeira vez, o homem percorreu e ocupou as terras do atual concelho de Serpa.
Ainda que muito mal conhecidos e bastante fragmentários, os mais antigos testemunhos humanos atribuíveis a contextos cronológicos de relativa segurança remontam ao Neolítico (V/IV milénio a.C.). Envolvendo, por certo, diferentes e complementares estratégias de exploração do território, essas primeiras comunidades, organizadas em pequenos grupos, parecem ter privilegiado a proximidade dos recursos hídricos (Enxoé e barrancos subsidiários).
Ao longo do IV milénio a.C., mas particularmente no seu final e na transição para o milénio seguinte, assiste-se à paulatina fixação das comunidades à terra.
Comunidades de pastores e agricultores, ainda semi-deambulantes, instalam-se em sítios que ocupam amplas áreas abertas, no topo de plataformas ou em suaves colinas e suas encostas, de baixa altitude, à volta das curvas de nível dos 80/140 m, sem quaisquer sérias condições naturais de defesa.



A CONSOLIDAÇÃO DA PRESENÇA NO TERRITÓRIO - CALCOLÍTICO, IDADE DO BRONZE E IDADE DO FERRO

Alguns dos povoados existentes continuarão ocupados durante parte do III milénio a.C. (Calcolítico), mas outros, com características topográficas distintas, ocupando zonas de difícil acesso ou naturalmente defendidas, são agora fundados de raiz. Por outro lado, no final do milénio, os achados arqueológicos expressam já uma maior interacção entre as comunidades. As necrópoles deste período são praticamente desconhecidas no concelho. 

Em contrapartida, para o II milénio a.C. (Bronze) não se conhecem os povoados coevos das diversas cistas disseminadas por quase todo o termo de Serpa, quer em áreas aplanadas e férteis, quer em zonas de relevo acidentado e de solos inaptos à agricultura.
Só à medida que se aproxima o final do II milénio a.C., e na viragem para o seguinte, se voltam a encontrar os vivos, perdendo, contudo, e até ao período romano, o rasto dos mortos.
Os povoados pautam-se agora pela diversidade – em implantação, dimensão e funcionalidade -, acompanhando o evoluir da própria especialização, hierarquização e complexificação da sociedade. A par de discretos povoados sem defesas naturais ou ocupando pequenos cabeços inseridos em suaves ondulações, surgem outros de altura, natural e/ou artificialmente defendidos, segundo um modelo de ocupação concentrada.
O aparente colapso dos povoados do Bronze Médio parece repetir-se por meados do I milénio a.C., visto que, após as ocupações decorridas durante os primeiros séculos deste milénio, só se voltam a identificar vestígios atribuíveis aos séculos IV e III a.C., isto é, à II Idade do Ferro. São enormes os povoados desta época mas ignora-se como se estruturavam económica e socialmente.

GASTRONOMIA
Qualidade, requinte e apuro

Em Serpa e freguesias do concelho, a cozinha radica a sua qualidade no requinte e apuro da confeção. Tem como base fundamental o pão excelente que acompanha, em saborosa sintonia, a carne de borrego e a de porco, bem como espécies cinegéticas como o coelho, a lebre, a perdiz e o javali. 

A tudo se junta uma gama criteriosa de temperos: o azeite (tem fama sobeja o de Brinches), a banha de porco e as ervas aromáticas como a salsa, a hortelã, o coentro, o poejo, a hortelã da ribeira, o oregão, entre outros.
Desta aparente singeleza de meios, resultam os pratos tradicionais da região como as "migas", a "açorda", o "borrego à pastora", as "lavadas" (sopa fria de tomate pisado), o "gaspacho" (chamado aqui de "vinagrada"), as "masmarras" (papa quente de pão e alho), os "grãos com alho e louro", a "surra-burra" (na época da matança do porco), as "caldeiradas de peixe do rio".

Não faltam ainda na região outras especialidades notáveis que aguçam o apetite e também o vinho, de qualidade excecional.
Das especialidades locais é forçoso salientar o queijo que leva o nome do local de origem. O Queijo Serpa, com marca firmada no mercado e bem conhecido dos apreciadores, provém exclusivamente do fabrico artesanal que utiliza o leite de ovelha. É um queijo amanteigado no começo da sua cura, de crosta lisa, amarelo palha e massa fina, famoso pelo seu paladar, constituindo-se como verdadeiro ex-libris da gastronomia regional. Aquando do seu fabrico, sai ainda um produto excelente dos restos da coalhada: o requeijão.

Os enchidos de porco preto (da raça negra alentejana) também são famosos em todo o concelho, sendo bom citar os de Vila Nova de S. Bento e de Vila Verde de Ficalho.

Juntam-se à lista dois produtos naturais de criação espontânea e raro paladar: os espargos, que podem ser colhidos nos olivais da planície, e os cogumelos, apanhados na zona bravia da Serra.
Com todos os pratos, com qualquer comida ou simplesmente com pão, vão bem as azeitonas que aqui são esplêndidas nas variadas formas de conserva (inteiras, pisadas, "retalhadas"), aconselhando-se as de Vale de Vargo.

Oferece-lhe Serpa como sobremesas, a fruta e os doces. Da fruta há que distinguir o melão, de sabor notável, dada a generosidade do solo e as condições do clima.

Entre os doces, destacam-se os "folhados de gila", os "tosquiados" (de claras de ovos e amêndoa), as "turtas" (recheadas de batata doce), as "queijadas de requeijão", especialidades que fazem as delícias dos apreciadores de bolos e fritos regionais.

A compor a carta de iguarias não devem esquecer-se os bons vinhos de Pias e de Serpa, de que se distinguem os tintos, encorpados, de cor escura e gosto suave, premiados a nível nacional.

Está constituído o quadro que pode levar o visitante a desfrutar o prazer de bem comer, ato de cultura que aqui se dignifica pela originalidade da confeção e qualidade dos produtos.

Para tal, na sede do concelho e nas suas freguesias, os restaurantes existentes podem conduzir à descoberta de exemplos que enobrecem a verdadeira cozinha alentejana.

ARTESANATO
 

As artes tradicionais mantiveram-se em Serpa, até muito tarde, imunes às inovações tecnológicas. 

Estiveram ligadas ao quadro económico da região em que predominava uma agricultura de laboração primitiva, podendo dizer-se que o declínio do artesanato se ficou a dever às mudanças operadas na exploração da terra surgidas a partir dos anos Sessenta do século XX.
Obras notáveis pelo apuro do seu fabrico, funcionalidade e estética saíram, num passado recente, das mãos dos carpinteiros de carros alentejanos (os abegões); dos oleiros; dos albardeiros (eram de espantar os "munis" enfeitados em que assentava a canga do gado de tracção); dos correeiros (que tornaram famosas as "cabeçadas" dos animais de trabalho e de sela); 

dos ferreiros (mestres ímpares no fabrico de alfaias, mas também de peças em ferro forjado); dos latoeiros (na rebuscada arte de confecção de utensílios de folha); dos curtidores (que preparavam o couro e as peles para o equipamento de homens e animais), dos cadeireiros (fabricantes das rústicas cadeiras de pau de choupo com fundo e encosto entrelaçados de bunho), etc..
Mestres artesãos consagrados, embora de domínio diferente, foram também, e são ainda, os "roupeiros", fabricantes do queijo de ovelha que tornou conhecida a região. O "roupeiro" é assim chamado por trabalhar na "rouparia", local destinado ao fabrico do queijo que recebe tal nome pelo número considerável de roupa que está associada à laboração: coadeiros, panos de lã áspera e grossa com os quais se filtra o leite; tiras brancas de pano cru que servem para cingir o queijo; fraldas, onde se escorre dependurado o requeijão.
Embora numa situação de inevitável desaparecimento, subsistem ainda no concelho algumas das artes antigas.

 O forasteiro, de visita a Serpa e suas freguesias, poderá deparar com o abegão (na dura luta de afeiçoar o azinho); com o latoeiro (cujas vasilhas de folham continuam sendo as melhores para o armazenamento do azeite); com o roupeiro (no ambiente morno, a cheirar a coalhada); com o ferreiro (na milenar arte de fazer desabrochar o ferro em peças de delicado enfeite).
Pode ainda o visitante, deambulando pelas pacatas ruas brancas das aldeias do concelho, espreitar as tradicionais oficinas de sapateiro ou deter-se, por curiosidade, nas espaçosas oficinas de ferrador.
Outros produtos do artesanato local conseguiram passar do domínio utilitário para a esfera dos objectos decorativos. 

 É o caso da reprodução de peças de madeira e cortiça da arte milenar dos pastores. Fabricados para ornamentação, perdida que foi a sua função prática, não deixam, no entanto, de estar imbuídos de afectivo significado. Deles se distinguem as colheres de madeira, por vezes de cabo ornamentado e os "cocharros" de cortiça, muitas vezes gravada (por onde se bebia a água).
Em Serpa parece ter ficado arreigado o espírito da perfeição, o gosto pela obra acabada, bem presente na máxima escrita em tempos numa das suas oficinas de ferreiro: "Tudo o que vale a pena ser feito, vale a pena ser bem feito".

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