04/01/2012

ANTÓNIO COSTA



É a Hora!

Já todos sabemos que 2012 vai ser um ano difícil, cheio de sacrifícios e, até, de empobrecimento colectivo, já todos sabemos que a única certeza será a incerteza e que Portugal vai piorar antes de melhorar, que a austeridade não vai diminuir e que o desemprego vai aumentar.

Já todos sabemos... portanto, a partir de hoje temos todos, a geração que decide, a responsabilidade de fazer diferente e de fazer melhor, pelas próximas gerações.

Fernando Pessoa definiu bem, no início do século passado, o que estamos a viver hoje, o nevoeiro que nos confunde e atormenta. "Nem rei nem lei, nem paz nem guerra/Define com perfil e ser/Este fulgor baço da terra/Que é Portugal a entristecer ?Brilho sem luz e sem arder/Como o que o fogo-fátuo encerra. Ninguém sabe que coisa quer/Ninguém conhece que alma tem/Nem o que é mal nem o que é bem/(Que ânsia distante perto chora?)/Tudo é incerto e derradeiro/Tudo é disperso, nada é inteiro.../Ó Portugal, hoje és nevoeiro.../É a Hora!"

É, pois, a Hora de nos ultrapassarmos, sem optimismos deslocados, mas sem fatalismos. Porque Portugal não está condenado a esta história triste. Se, em outros momentos da nossa história, fomos capazes de conquistar e ultrapassar as distâncias, como Pessoa nos recorda na sua Mensagem, não há qualquer razão para não o fazermos agora.

2012 é um momento de decisão e isso é, de alguma maneira, facilitador. Definido o caminho - e ele está bem definido, no tempo e no espaço - é preciso fazer, é preciso realizar.

A discussão política fica esgotada? Claro que não, mas os decisores, não só os políticos, mas os empresariais, os sociais, devem ter bem a consciência de que os portugueses dispensam a conflitualidade estéril, e a olhar para o passado. Os portugueses exigem mudanças, aceitam a austeridade porque, ao contrário do que muitas vezes se ouve, perceberam exactamente o que nos trouxe até aqui, mas querem um rumo e um objectivo. Que só será possível se existir concertação.

A economia portuguesa precisa de se libertar do Estado, as empresas portuguesas precisam de andar sozinhas, mas são muitos os exemplos de empresas, empresários, gestores e trabalhadores que são capazes de estar entre os melhores nas suas áreas, que são competitivos, no País e no mundo. Estes exemplos têm de se multiplicar, não só por outras empresas, mas por outras organizações, privadas e públicas, na educação e na saúde, nas instituições de solidariedade social.

O Governo de Pedro Passos Coelho realizou mais em seis meses do que nenhum outro na história recente do País. Por necessidade, por imposição externa, muitas vezes de forma desajeitada e equívoca. Mas áreas como o trabalho, a justiça, a saúde e a educação, o arrendamento, têm já um novo enquadramento legislativo ou vão tê-lo nas próximas semanas, e é fundamental que essas mudanças produzam efeitos, os efeitos correctos. Por uma vez, levem-se as reformas até ao fim e avaliem-se os resultados.

Director

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
02/01/12

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