09/12/2011




HOJE NO

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Futebol. Qualquer semelhança com arranjinhos é pura coincidência
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A goleada do Lyon na Croácia (7-1) levantou suspeitas e trouxe de novo a discussão à baila. Afinal, há ou não equipas que não se importam de jogar para o bem comum?


Só um milagre garantiria o apuramento ao Lyon na Liga dos Campeões. Um milagre ou um arranjinho, claro. A situação era simples: o Lyon tinha de ganhar na Croácia ao Dínamo Zagreb e esperar que o Ajax perdesse em casa com o Real Madrid. Se isso acontecesse, tudo se decidiria na diferença de golos: o Ajax tinha 6-3 e o Lyon 2-6. Concluindo: com uma desvantagem de sete golos, só duas goleadas permitiriam que o Lyon seguisse em frente.
O Lyon esteve a perder 0-1, chegou ao intervalo empatado (1-1) e partiu para a goleada na segunda parte (7-1). Na Holanda, o Real Madrid ganhou 3-0 e ajudou o outrora carrasco dos merengues. Como não podia deixar de ser, o resultado da Croácia está a gerar muita polémica, especialmente depois de ter sido divulgada a imagem de um eventual piscar de olho do central Vida após um golo que nasceu de um erro seu. O dia seguinte, ontem, ficou marcado por várias reacções. A UEFA foi uma das primeiras a reagir e afirmou que “até agora não houve nada de invulgar que provoque o início de uma investigação”. A posição do clube croata é mais forte e garante interpor todas as “acções legais” ao seu dispor contra os meios de comunicação social que especularam ou questionaram sobre a veracidade do resultado: “É um escândalo e malicioso afirmar que o jogo de quarta-feira foi suspeito. Fazê-lo é menosprezar o Dínamo, que terminou com um resultado muito negativo e que teve repercussões imediatas, como o despedimento do treinador”. Por último, também o Lyon emitiu um comunicado, lamentando que a vitória “não seja considerada como um grande feito desportivo como acontece com outros feitos do futebol francês.
Com ou sem arranjinhos, a verdade é que a história do futebol está cheia de episódios que levaram a críticas dos prejudicados e que ainda hoje são vistos como jogos combinados. O i juntou seis que vão desde os primórdios do futebol, passando por Mundiais, apuramentos para Europeus e escalões secundários do futebol português.


1898. STOKE CITY-BURNLEY, 1-1
Decidia-se uma vaga na primeira liga inglesa. O Stoke City tinha sido último e o Burnley era uma das equipas da segunda divisão com hipóteses de subir. Um jogo decidiria quem ficava com a vaga mas o empate final garantiu que as duas equipas teriam lugar. O regulamento era assim mesmo e permitia o empate, mas ainda assim a liga inglesa não gostou da coincidência e decidiu alargar o campeonato para 18 equipas. Assim, Stoke City e Burnley ficaram ambos na primeira divisão, tal como o Newcastle e Blackburn, as duas equipas que saíam prejudicadas do empate.


1978. ARGENTINA-PERU, 6-0
Disputava-se a segunda fase de grupos do Mundial da Argentina. O Brasil já tinha terminado a participação e estava em boa posição para garantir um lugar na final. Só uma vitória da Argentina sobre o Peru por quatro golos ou mais faria com que o organizador estivesse na final.
Os jogos anteriores não deixavam grandes sinais de entusiasmo. Em cinco encontros, os argentinos tinham apenas seis golos marcados. Mas, como tudo se decidia em 90 minutos, a futura campeã mundial goleou o já eliminado Peru por 6-0 e foi à final com a Holanda. Os brasileiros não gostaram e o facto de o guarda-redes peruano ter nascido na Argentina não ajudou muito. Nunca se provou nada, mas a hipótese política, dado que os argentinos controlavam o fornecimento de trigo aos peruanos também ganhou força.


1982. RFA-ÁUSTRIA, 1-0
De um Mundial na América do Sul com equipas sul-americanas para um Mundial na Europa com equipas europeias, quatro anos depois. Na última jornada do grupo 2, alemães e austríacos estavam numa situação de mata-mata. Se a Alemanha não ganhasse, passavam Áustria e Argélia. Se a Alemanha ganhasse por três golos de diferença, passavam alemães e argelinos. Mas uma vitória por um ou dois golos de diferença seria perfeita para as duas equipas que falavam alemão. E assim foi mesmo. A República Federal Alemã entrou no jogo a todo o gás e Hrubesch inaugurou o marcador aos dez minutos no El Molinón em Gijón, Espanha. A partir daí, houve 80 minutos de descanso e os adeptos argelinos nas bancadas chegaram mesmo a queimar uma bandeira alemã em sinal de protesto.
As transmissões televisivas na RFA e na Áustria também foram feitas com desagrado: o comentador da ARD recusou-se a comentar o jogo e o austríaco aconselhou as pessoas a desligar a televisão. O jogo ajudou a FIFA a mudar o formato de forma a que os últimos jogos do grupo se disputassem à mesma hora para evitar futuros arranjinhos. Ou assim pensavam eles na altura.


1983. ESPANHA-MALTA, 12-1
Há muito que a Malta é um saco de pancada para as grandes selecções mas a 21 de Dezembro de 1983, em Sevilha, ganhou uma nova dimensão. Quatro dias antes, a Holanda tinha goleada a Malta por 5-0 e aumentava a pressão para o jogo dos espanhóis. Disputava-se o apuramento para o Euro-1984 e a vantagem de golos era esmagadora para a equipa de Ruud Gullit, Peter Houtman e companhia. Se a Espanha quisesse ir ao Euro (não só foi como só foi travada na final pela França, 0-2), teria de vencer por onze golos de diferença. Se está à espera de um 11-0 engana-se. Santillana marcou primeiro, aos 16’, mas Degiorgio empatou para os malteses aos 24’. Mas como no fundo é tudo uma malta porreira, a goleada cresceu até aos 12-1, com o último golo, o do apuramento, a ser marcado aos 83 minutos por Señor. Falta saber se espanhóis e malteses foram realmente todos senhores de respeito.


2003. PORTIMONENSE-EST. AMADORA, 2-3
Era um dos jogos grandes da última jornada da Liga de Honra em 2002/2003, juntamente com o Rio Ave-Naval. Faltava decidir um lugar de subida e os figueirenses partiam com vantagem (54 pontos), à frente de Estrela da Amadora (54 mas com desvantagem no confronto directo) e Portimonense 51 (com vantagem se ganhasse e a Naval perdesse em Vila do Conde).
Os algarvios queriam a subida e estiveram a ganhar por 2-0 até perto do fim mas o resultado em Vila do Conde impedia a subida. O Estrela da Amadora reagiu nos minutos finais e, perto do fim, já os tricolores tinham empatado: Doriva aos 80’ e Semedo aos 85’. Quando o Rio Ave-Naval terminou em 0-0, faltavam jogar três minutos de desconto no Algarve. E, no último minuto, penálti para o Estrela que Doriva converteu. O empate deixava as duas equipas na Liga de Honra mas o golo nos descontos impediu o sonho figueirense e levou o Estrela da Amadora para a primeira divisão. Álvaro Magalhães, treinador da Naval, não gostou: “A sensação que temos é que a grande penalidade que apareceu no jogo com o Portimonense não existiu.”


2004. DINAMARCA-SUÉCIA, 2-2
É o Europeu de Portugal. Na última jornada da fase de grupos, só um empate a dois golos garante o apuramento às duas selecções nórdicas caso a Itália derrote a Bulgária. A squadra azzurra sofreu e Cassano só marcou o golo da vitória aos 90’+4 mas os caprichos do duelo nórdico (como diz o título, qualquer semelhança com arranjinho é só pura coincidência) proporcionaram mesmo um empate a dois golos. Os dinamarqueses estiveram a vencer por duas vezes mas o golo salvador dos suecos surgiu por Jonson, de forma dramática, a um minuto do final do tempo regulamentar. É obra.


* É desporto, pois é?

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