24/12/2011

EMÍLIA O. VIEIRA


A longa curva da prosperidade

“Quem pensa em si planta um eucalipto; quem se preocupa com os filhos planta um pinheiro; quem se preocupa com os netos planta um sobreiro”, diz o ditado português

O gráfico abaixo apresenta as rentabilidades de várias classes de activos desde 1926 até 2010. Ao longo destes 84 anos, a taxa média de inflação foi de 3%, ou seja, um dólar em 1926 actualizado para 2010 daria 12 dólares.

Se em 1926 um investidor tivesse investido um dólar em obrigações do Tesouro americano de curto prazo teria obtido um rendimento médio anual de 3,6%, o que até 2010 resultaria em 21 dólares. Se o investidor tivesse optado por investir em obrigações do Tesouro Americano de longo prazo, teria uma rentabilidade média anual no mesmo período de 5,5%, ou seja, 93 dólares. Finalmente, se tivesse investido em acções de grande capitalização, teria uma rentabilidade anual de 9,9%, o que, em valores absolutos, resultaria em 2982 dólares, 32 vezes mais que o investimento em obrigações do Tesouro americano de longo prazo.

Durante este período viveram-se tempos de grande incerteza: a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial, várias recessões, os choques petrolíferos de 1973 e 1979, a bolha tecnológica e a crise financeira do subprime, da qual ainda estamos a recuperar. No entanto, as acções foram a classe de activos que melhores retornos proporcionaram aos investidores.

Se o investidor tiver o cuidado de comprar grandes marcas mundiais com fundamentos económicos soberbos quando estão baratas e tiver paciência para as manter em carteira até que se materialize todo o seu potencial de criação de riqueza, esta é a melhor forma de rentabilizar as suas poupanças. Alguns exemplos de grandes máquinas de criação de riqueza para os seus accionistas passaram por todas estas crises: a Johnson-Johnson foi criada em 1887, a General Electric em 1878, a Nestlé em 1866, a Wells Fargo em 1852, a American Express em 1850, a Procter & Gamble em 1837, a Coca-Cola em 1886, a Total em 1924, entre outras.

Comparo o investimento em acções com plantar árvores. É necessário escolher boas árvores, preparar a terra e plantar. Depois devemos acompanhar o seu crescimento ao longo do tempo. Haverá anos com meteorologia muito favorável, haverá anos maus e outros razoáveis. É natural. Mas só plantando é que crescem. Devemos assegurar-nos que temos “boas árvores na nossa floresta”, que todos os anos dão frutos ou aumentam a tonelagem. Da mesma forma, as boas empresas vendem produtos ou prestam serviços todos os dias e por isso colhem os seus lucros.

Tentar prever a direcção de curto prazo do mercado é um jogo de tolos e um mau serviço ao público investidor. A longo prazo, os mercados sobem. Sempre o fizeram e muito provavelmente sempre o farão. Os adivinhos do mercado gostam de pensar que conseguem obter grandes retornos entrando no mercado quando as acções sobem e saindo quando elas caem. Há centenas de estudos que comprovam que isso não é possível.

Na Casa de Investimentos preferimos confiar na capacidade de avaliação e garantir que compramos bons activos quando estão baratos. Depois, com disciplina e paciência, colhemos os frutos ano após ano, até que o “mercado” os avalie ao seu valor justo.

Como investidor de longo prazo, o perigo real para o seu pé-de-meia é estar fora do mercado quando os grandes movimentos ocorrem. Temos simplesmente de aceitar e suportar alguns, temporários, recuos no mercado. Se o nosso portefólio tiver sido bem construído, um pouco de turbulência no mercado não é motivo para fugir.

Daqui a alguns anos, quando olharmos para a continuação deste gráfico, veremos que foi apenas mais um recuo na longa curva da prosperidade.

Post Scriptum: Se tiver terra, plante árvores. Trinta anos passam depressa.

Presidente do Conselho de Administração
Casa de Investimentos – Gestão de Patrimónios, S.A.


IN "i"
16/12/11

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