08/11/2011


HOJE NO
"i"

Crimes passionais. 
Amor é fogo que arde e se vê
Em duas semanas, dois homens ficaram em prisão preventiva, na Grande Lisboa, por terem incendiado a casa das ex-companheiras

António planeou o crime. Sabia que nessa noite a ex-namorada estava em casa de uns amigos. Foi ter com ela para lhe entregar um portátil e, sem que ela desse conta, roubou-lhe as chaves de casa. Pouco tempo depois, já passava das duas da manhã, ela divertia-se com os amigos e ele incendiava-lhe a casa – um apartamento numa das melhores zonas da Parede. O crime não foi inocente: António pegou fogo, com álcool etílico, às três camas dos três quartos da casa. Depois desfez-se das chaves e voltou para casa. Foi apanhado pela Polícia Judiciária (PJ), ouvido por um juiz e está em prisão preventiva a aguardar julgamento.
É o segundo caso de incêndio, no espaço de duas semanas, investigado pela PJ com motivações passionais. Há 15 dias, José, um homem desempregado de Chelas, com 56 anos e um longo cadastro criminal – que inclui uma passagem pela cadeia que se prolongou por 16 anos –, decidiu vingar-se da ex-mulher. Atirou--lhe um cocktail molotov para dentro de casa, num bairro social da Câmara de Lisboa. A seguir fez-se à estrada e desapareceu. Foi encontrado pela PJ num concelho da Grande Lisboa. José estava em liberdade condicional e agora aguarda julgamento. À semelhança de António, é acusado do crime de incêndio e poderá apanhar uma pena de prisão entre três e dez anos.

o ciúme António, brasileiro de 26 anos, está em Portugal há seis. Empregou-se na restauração, mas ultimamente andava a pensar em mudar de vida e voltar para o Brasil. Dos 250 euros que ganha por mês metade vão direitinhos para pagar a renda. Melhor que ele está a ex-namorada, que conseguiu um apartamento, avaliado em cerca de 240 mil euros, numa das melhores zonas da Parede – a casa, contou-lhe a própria Ana, foi-lhe oferecida “por um amigo”. Como se não bastasse, recentemente ela arranjou um namorado novo – que não é o mesmo que lhe comprou a casa.
António e Ana chegaram a viver juntos. Foi essa convivência debaixo do mesmo tecto que acabou por pesar na decisão do juiz que lhe decretou a prisão preventiva: quando moraram juntos, ele acabou a responder pelo crime de violência doméstica. Ana, que até sempre gostou de ter outros “amigos”, fez-se à vida e deixou-o. Na noite em que decidiu pegar-lhe fogo ao apartamento – o incêndio pôs em perigo os vizinhos dos quatro pisos de baixo –, António roubou--lhe as chaves e o iPhone. Porque era no telemóvel que ela tinha as fotografias com o namorado novo, os dois felizes e com tudo para dar certo. Quando Ana deu pela falta das chaves e do telefone foi a correr à polícia. Na esquadra contou aos agentes que receava que tivesse sido o ex-namorado e que ele poderia estar em casa à espera dela. Quando os guardas da PSP chegaram ao apartamento encontraram-no já em chamas e chamaram os bombeiros. António está preso em Caxias. No início recusou-se a admitir o crime, mas acabou por confessar.

A vingança José nasceu e cresceu em Chelas e não tardou a enveredar pelo mundo do crime. Chegou a cumprir pena de prisão por tráfico de droga e tem antecedentes por violência doméstica. Até que a mulher, Maria, se fartou de apanhar e o expulsou de casa. A seguir ao Verão, e no espaço de pouco mais de um mês, José pegou-lhe fogo ao prédio duas vezes. Como se de um aviso se tratasse, regou as escadas comuns com gasóleo. Mais ou menos na mesma altura, incendiou o carro do filho da ex-mulher. Também foi na mesma altura que decidiu partir-lhe os vidros todos de casa aos tiros. Há 15 dias, e mesmo estando em liberdade condicional, António excedeu-se e atirou o cocktail molotov para o interior da casa. Foi encontrado, nem uma semana depois, escondido nos arredores de Lisboa. O crime foi cometido por vingança, por a ex-mulher o ter posto fora de casa.


* Vêm aí muitas mais ocorrências semelhantes, a instabilidade social que se vive é a grande promotora.

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