06/11/2011


ESTA SEMANA NO
"VIDA ECONÓMICA"


Preço do seguro automóvel 
continua a descer

As companhias de seguros ainda não conseguiram travar a fundo a descida do preço do seguro automóvel, embora alguns operadores reconheçam a necessidade e subir preços para não sacrificar mais a rentabilidade do ramo. A alternativa tem sido a redução do peso do ramo automóvel na carteira.

Depois de anos de sucessiva redução do prémio médio do seguro automóvel, o mercado assistiu em 2009 e 2010 a uma desaceleração da intensidade decrescente do preço do seguro, mas não é certo que consiga já este ano registar uma inversão do fenómeno. Entre os 7 milhões de veículos seguros em Portugal no ano passado, o prémio médio de seguro automóvel era de 241 euros, menos 71 euros que o prémio médio de 312 euros praticado em 2006, segundo dados divulgados pela Associação Portuguesa de Seguradores
Apesar de muitos operadores reconhecerem que algumas das condições que no passado fundamentaram a descida de preços, como a redução da sinistralidade e a otimização de recursos das companhias, já não servirem hoje para justificar totalmente o tarifário praticado genericamente no mercado, a realidade vem demonstrar que subir preços não tem sido tarefa fácil entre os operadores. "Existe uma necessária tentativa de inversão por grande parte das seguradoras do mercado, no entanto coexiste com esta tentativa a prática de alguns operadores, com o objetivo de conquistarem novos negócios, de aplicarem prémios médios ainda inferiores, embora não tão acentuadamente como nos anos anteriores", admitem Joaquim Aguiar e Rui Almeida, responsáveis técnicos da Generali. A multinacional italiana garante que os seus prémios médios mantêm-se este ano a níveis idênticos aos de 2010 e reconhece que chegou a pensar em subir o seu tarifário, mas "as práticas de mercado enunciadas e o contexto social não o permitem".

Aposta na venda cruzada

Outra multinacional a operar em Portugal, a Liberty, assume estar em contraciclo. "Estamos a crescer acima do mercado, pelo que o cenário de crise ainda não foi sentido", afirma Cláudia Tabora, gestora de produto na multinacional norte-americana. A mesma responsável confirma que o fenómeno de redução do prémio médio continua a ser uma realidade em Portugal e na própria Liberty Seguros o prémio médio deste ramo desceu ligeiramente em 2011. O ramo automóvel tem vindo a conquistar um peso crescente na carteira Não Vida da seguradora e representa atualmente 65% dessa carteira.
Mas esta não tem sido a postura predominante no mercado segurador. "O ramo Automóvel era tradicionalmente o de maior peso na carteira da Generali, mas fruto da nossa política de diversificação e participação em negócios de grande dimensão e também em negócios internacionais, tem vindo a diminuir o seu peso", constatam Joaquim Aguiar e Rui Almeida. Hoje, o ramo Automóvel pesa 38,4% na carteira Não Vida da Generali e 53% da carteira Não Vida da MAPFRE, que tem adotado uma política semelhante. "O peso deste ramo tem vindo a decrescer ligeiramente ao longo dos últimos anos, uma vez que temos vindo a adotar uma política que aposta muito em aumentar o nível de fidelização dos nossos clientes através do cross-selling. Esta estratégia permite-nos servir melhor os nossos clientes, otimizando os seus níveis de proteção e oferecendo condições mais vantajosas", explica João Gama, diretor de Comunicação da multinacional espanhola.
Menos expressivo é já o peso do ramo Automóvel na certeira Não Vida da Fidelidade Mundial e Império Bonança, do grupo Caixa Geral de Depósitos, que ronda atualmente os 40%. Rita Sambado, diretora de Marketing das duas companhias, reconhece que o fenómeno de redução de prémios continua a ser uma realidade no grupo CGD e diz mesmo que esta redução só não é mais acentuada porque têm vindo a verificar uma maior adesão dos clientes a campanhas para sensibilização de determinados riscos, aumentando a subscrição de algumas coberturas facultativas que, naturalmente, incrementam o preço do seguro. A responsável das companhias de seguros do grupo CGD acredita também que o fenómeno de preços baixos no seguro automóvel deverá continuar a ser uma realidade "mesmo que a principal razão para a redução do prémio médio possa não ser a mesma". Segundo Rita Sambado, "à agressividade competitiva verificada nos últimos anos junta-se agora a quebra na venda de veículos novos, o que implica o envelhecimento do parque automóvel. Este cenário faz reduzir a procura de soluções com coberturas mais abrangentes de danos próprios, resultando na reestruturação da composição das carteiras e o impacto desta realidade no prémio médio".

Subida de preços para breve?

Subir preços é a solução inevitável reconhecida por vários operadores, mas repetidamente adiada. Por quanto mais tempo, é uma incógnita. "Uma gestão equilibrada e a própria sustentabilidade das operações obrigarão a uma paragem ou mesmo inversão deste caminho", antecipa João Gama, da MAFRE.
Na AXA, Alexandra Catão, diretora de Oferta e Segmentos Estratégicos da AXA, também considera que "a subida do prémio médio já deveria ser uma realidade hoje, promovendo um ajustamento progressivo e correto em termos de preço". A responsável da AXA alega que "a crise económica que se instalou e a forte competitividade do mercado, em particular, das seguradoras de direto, levaram as seguradoras ditas 'tradicionais' a reposicionarem-se quanto ao fator preço, pelo que os prémios médios continuam a ser baixos não correspondendo ao risco assumido pelas seguradoras".
Também Maurício Oliveira, administrador da Açoreana, do grupo Banif, reconhece que "existe uma necessidade clara de equilibrar os resultados de rentabilidade de um ramo que tem um peso muito significativo na atividade seguradora e que muitas vezes tem de ser alavancado com outros ramos que vão apresentando resultados mais positivos". No entanto, lembra o responsável da Açoreana, "esta inversão ainda não é muito visível, mantendo-se os valores significativamente abaixo dos valores tecnicamente desejáveis para um ramo com esta magnitude".


* Cuidado com a carteira que vai ser sugada mesmo com pequenos sinistros.

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