22/11/2011

EMA PAULINO


As 1001 maneiras 
            de cozinhar bacalhau

No “Prós e Contras” dedicado à prescrição por denominação comum internacional, em vez do doente, o bacalhau veio a revelar-se o verdadeiro centro das atenções

Quem teve oportunidade de ver o debate não ficou certamente indiferente às declarações da Dr.a Teresa Rodrigues, médica internista, comparando medicamentos com “bacalhau à Brás”. A alguns pode ter feito crescer água na boca. A mim, ver uma profissional de saúde, com responsabilidades na adequada educação da população, fazer este tipo de comparação tirou-me o apetite.
Em circunstâncias normais, esta comparação seria, no mínimo, irresponsável. Tendo em conta o actual estado do país e das carteiras dos doentes que têm de escolher os medicamentos que podem comprar na farmácia, a declaração de que um medicamento de marca é feito com “ovos caseiros” e “batatinhas portuguesas” e um medicamento genérico é feito com “ovos em pó” e “batatas de supermercado” é criminosa.
Já o disse anteriormente e repito-o. Os medicamentos genéricos têm qualidade, são eficazes e são seguros. Em suma, são bons. Tão bons como os medicamentos “de marca”. A saúde não se compadece com “ovos em pó”. As autoridades de saúde nacionais e internacionais assim o garantem.
Pôr em causa a idoneidade e o funcionamento destas autoridades foi também prato do dia. Não deixa de ser interessante que se alegue que a relação médico-doente não pode ser questionada, mas acusar o Infarmed de não cumprir a sua missão de protecção da saúde do cidadão já se pode.
Permitam-me fazer aqui uma declaração eventualmente polémica: o doente não é de ninguém. O doente é de si próprio e merece que lhe reconheçamos o direito de decisão. Após ter sido devidamente informado. Por todos os profissionais de saúde em uníssono. Ou pelo menos por quem saiba a diferença entre medicamentos e alimentos.
Os médicos precisam de formação e deve ser o seu empregador (na maior parte dos casos o SNS) a providenciar os meios para que se cumpra este seu mais que legítimo direito. Caso contrário, o Estado demite-se de um dever e arcamos todos nós com as consequências.
Não é altura para mensagens contraditórias em relação à qualidade dos medicamentos – genéricos ou de marca. A legislação que prevê a prescrição por DCI tem claras vantagens, nomeadamente económicas. A despesa com medicamentos nas farmácias da Região Autónoma da Madeira baixou 40,5% em Setembro face ao mesmo mês de 2010, após aprovação de legislação semelhante.
Também envolve riscos, é certo. A duplicação da toma de medicamentos por terem caixas e formas diferentes é um deles. Já com a legislação actual acontece. Há que reconhecê-lo e adoptar estratégias integradas de redução dos riscos já identificados.
Façamo-lo, mas não tenhamos quaisquer dúvidas: o país e os doentes precisam de poupar para ter pão para a boca.

Farmacêutica


IN "i"
17/11/11


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