26/11/2011

ASSUNÇÃO CABRAL


Chavões como tiques


Não acha horrível, e pouco educado, quando as pessoas começam as frases com «é assim»?
- Ana Isabel Reis

São as tais bengalas linguísticas, que acabam por se transformar em verdadeiros tiques picantes. Incomoda-me menos um tique facial, daqueles em que as pessoas reviram olhos e franzem os narizes, do que esses tiques da conversa. Pode ser o despropositado ‘é assim’, no princípio da frase, ou o ‘prontos’, no fim. Claro que há os clássicos, como o ‘pá’, que de forma um tanto machista aceitamos bem nos homens e nos parece lamentável em mulheres. Mas até esse, que nos homens é um clássico, quando em exagero (haverá quem se lembre das entrevistas dos homens do MFA, como Vasco Lourenço ou Otelo, nos tempos do PREC), torna-se sufocante. E quando certos miúdos intercalam um despropositado ‘tipo’ entre cada duas palavras?

E depois há tiques de classe: por exemplo, in de lowest middle class, não há mulher ou rapariga que não agasalhe qualquer pequena frase em vários ‘pás’. Por outro lado, os jovens suburbanos de cultura recente, despedem-se sempre com um ‘fica bem’. O ‘basicamente’ é típico de quadro médio de empresas. O ‘altamente’, já quase ultrapassado (afinal, estes tiques também têm modas), chega hoje a ter o encanto de um vernáculo popular com autenticidade. E há os regionais, como o alentejano ‘então vá’, que está agora a generalizar-se.

Há quem diga que estas bengalas são uma defesa dos tímidos, que suam nas mãos enquanto as usam. Mas eu não acredito que haja assim tantos tímidos. A pirosice é que puxa muito ao tique – da linguagem.

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IN "SOL"
22/11/11

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