16/10/2011

ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"

Risco de bancarrota: 
de 5 periféricos para 8 países sob stresse

O mês de Outubro está a trazer de volta o aumento do risco de default e dos juros da dívida em Espanha e Irlanda e alargou a geografia do stresse na zona euro. Pacote de austeridade para 2012 em Lisboa não faz descer o risco.


Apesar dos esforços públicos dos líderes europeus no marketing político internacional, apontando para um pacote de resoluções da crise das dívidas soberanas na zona euro até às próximas cimeiras de 23 de outubro (europeia) e do G20, a perceção negativa por parte dos investidores nos mercados financeiros da dívida continuou a aumentar para o grupo dos 5 "periféricos" (agora batizados com o acrónimo, em inglês, de GIIPS - para Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Espanha).
Pacote de austeridade em Lisboa não desce risco

No que toca a Portugal, o risco de incumprimento agravou-se de 61,83% a 3 de outubro para 62,39% no fecho desta semana. Tendo havido uma melhoria entre 3 e 10 de outubro, o risco voltou às subidas, de 61,19% para 62,39%, entre 10 e 14 de outubro.

A perceção dos investidores no mercado dos credit default swaps (seguros contra o risco de incumprimento) ligados à dívida soberana sobre Portugal continua em plano inclinado. O pacote de austeridade anunciado em Lisboa para o Orçamento de 2012 não teve qualquer efeito positivo nem na probabilidade de incumprimento, nem nas yields das obrigações do Tesouro no mercado secundário.

À tendência negativa sobre os GIIPS juntou-se uma "novidade" - a entrada, em força, na geografia do stresse da zona euro da Bélgica, França e Áustria. À indefinição política na Bélgica, com a continuação da negociação de formação do governo (a mais longa atualmente no mundo), juntou-se o caso do banco Dexia que chamuscou, também, a França, um país com notação de crédito de triplo A e tido como o segundo pilar do G2 que hoje governa a zona euro. A Áustria, outro país da moeda única ainda com notação de triplo A, foi abalada pela crise do banco Erste, a que alguns designaram de "segundo Dexia".

A Bélgica subiu para o patamar de risco de incumprimento acima de 23%, a França aproximou-se dos 15% e a Áustria dos 14%. Estão, ainda, longe do bilhete de entrada no "clube da bancarrota" (os 10 países do mundo com maior risco de incumprimento) que exige mais de 29% de risco, o atual nível da Croácia. Apesar do agravamento do risco para Espanha, o nível de probabilidade de incumprimento ainda está abaixo dos 29%.
Irlanda e Espanha pioram

O agravamento da perceção do risco nos "periféricos" acarretou duas "más" notícias - o bom comportamento da Irlanda como "aluno exemplar" da troika arrisca-se a ir por água abaixo, e os esforços de Espanha para sair da ribalta do stresse (tendo entrado no mês de Outubro sem regressar ao "clube da bancarrota") foram estragados pelas agências de notação Standard & Poor's e Fitch nos últimos dias. A Irlanda subiu do 7º para o 6º lugar no "clube da bancarrota" e a Espanha viu o seu risco de incumprimento regressar às subidas a partir de 10 de outubro, segundo dados da CMA DataVision.

Curiosamente, apenas a Itália, em virtude da capacidade de sobrevivência do governo chefiado por Sílvio Berlusconi, conseguiu "descer" no risco de default, entre 3 e 14 de outubro, tendo baixado do 9º para o 8º lugar no "clube da bancarrota".
Juros não param de subir

O movimento das yields (juros implícitos, uma medida de rendibilidade) dos títulos soberanos no mercado secundário da dívida em sete dos países referidos - Grécia, Portugal, Irlanda, Itália, Espanha, Bélgica e França) - reflete, também, um padrão similar ao que tem sucedido na probabilidade de incumprimento.

Olhando para os títulos soberanos a 10 anos, verificamos um agravamento generalizado, comparando com o início do mês, segundo dados da Bloomberg. Os juros para os títulos gregos estão perto de 24%, e para as obrigações do Tesouro português subiram para 11,64%. A Irlanda deixou de negociar títulos a 10 anos no dia 11 de outubro - as yields subiram de 7,76% a 3 de outubro para 8,21% a 11 de outubro.

No caso de Itália e Espanha, onde os analistas têm referido uma intervenção do Banco Central Europeu, as yields dos títulos do Tesouro italiano (BTP) e das obrigações espanholas (OE) a 10 anos têm prosseguido a sua subida no patamar dos 5% - passaram de 5,54% a 3 de outubro para 5,80% a 14 de outubro no caso dos BTP, e de 5,12% para 5,24% no mesmo período para o caso das OE.

As yields dos títulos belgas a 10 anos subiram de 4,07% para 4,40% esta semana, estando a aproximar-se do máximo de 4,5% em agosto. No caso de França, os juros subiram de 2,87% para 3,13% no mesmo período.


* A verdade é que os donos do dinheiro continuam a brincar com quem tem de trabalhar para, fundamentalmente, sobreviver. Continua-se sem tributar o capital, continua-se a permitir a fuga de dinheiro para os off shores, continua-se a inviabilizar a cultura, a União Europeia rasteja sem personalidade perante os ricalhaços.


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