28/09/2011

MANUEL TAVARES


O buracão da Madeira: 

Passos Coelho, graças a Deus

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O presidente da República admite que a situação de desvio orçamental e respectivo encobrimento da Madeira é grave e pode colocar em causa a credibilidade da República. Mas não se afoita por nenhuma precisão sobre a questão da ética política e prefere referir-se a outros formalismos como sejam os processuais em sede de justiça.
Sou dos que acham que democracia pura, muitas vezes apelidada de participativa, não apresenta exemplos de respeito integral da democracia formal e sem esta abrem-se os mais ínvios caminhos de défice de representação.
Por isso, quando o PR afirma que tudo o que diz ou não diz em público é consequência da sua obstinada ânsia de defender os interesses nacionais, só posso acreditar que, por muito que saiba e pense sobre matérias do nosso interesse colectivo, apesar de tudo - e em definitivo do chamado interesse público - talvez tenha mais razões para se conformar ao formalismo do cargo do que invadir, ainda que com toda a legitimidade política, essa fronteira em que a mais pequena inflexão de voz pode ser tomada como uma intromissão na vida dos partidos.
É claro que o formato formalista do presidente da República é respeitável. Do actual como dos anteriores detentores do cargo espero a contenção como paradigma.
Há, porém, limites para além ou para aquém dos quais o respeito pelo formalismo deixa de ser uma garantia: quando ele deixa de ser espartano e universal em nome de uma circunstância - por exemplo: o uso do Facebook para enviar mensagens que, por inerência da própria ferramenta, está longe de chegar a todos os portugueses e muito menos ao mesmo tempo - ou quando ele acrescenta silêncios que o Povo espera ver preenchidos com um sublinhado de ética política que não pode esperar pelos desenvolvimentos da justiça, seja ela administrativa ou até criminal.
Deste ponto de vista, ou seja, do sublinhado político que permita aos portugueses ter a esperança de que o buracão escondido (e ainda não totalmente revelado) não ficará sem paternidade, nem sanção (política que seja) e que não queremos ver repetido, o primeiro-ministro, cujo cargo e função bebem do mesmo interesse nacional que o presidente da República, marcou, ontem, na entrevista concedida à RTP1, um enorme ponto. Positivo! Muito!
Passos Coelho não poderia ser mais claro e mais esperançoso para os portugueses que querem ter todas as divergências possíveis mas dentro da transparência que requer a democracia à administração pública. O PM não vai estar ao lado de Jardim: nem em espírito. Porque, se fosse ele a escolher, Jardim não seria o seu candidato nas eleições da Madeira. 

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
21/09/11

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