29/09/2011



HOJE NO
"i"
 
Manual “survival” para PME: 
nunca fiar, principalmente ao Estado
A gestão desta metalúrgica obedece 
a dois princípios: fugir aos créditos, apostar 
na rapidez de produção e qualidade

Como outros ramos do empresariado nacional, a metalúrgica está pelas ruas da amargura. Há porém excepções e o i descobriu uma delas. Quisemos conhecer as razões de uma estabilidade hoje em dia rara. Uma estabilidade de crescimento que, neste caso concreto, da Metal Distendido, Lda. (MD), se deve a uma política empresarial que foge à armadilha dos créditos. Para o director da MD, José Carlos Júlio, “o laxismo de um Estado mau pagador crónico criou um cancro que condena as PME, já que é às custas destas que as grandes construtoras compensam os atrasos de pagamento do Estado”.
Acabado de regressar de Londres com um curso de gestão de empresas quando o pai, em 1993, resolveu adquirir a empresa em falência, José Carlos Júlio apostou em novas estratégias: um plano de marketing, presença em feiras industriais, análise cuidada do target da empresa, apresentação de um projecto ao IAPMEI de acesso a fundos PEDIP2, oferta de um cabaz de produtos focado no perfil do cliente e a preocupação de chegar ao patamar de produção e qualidade da concorrência espanhola. Começou a investir segundo um plano de negócios calculado ao milímetro e sem perder de vista a contingência de poupança: “O investimento foi todo canalizado para o essencial: melhorar a qualidade de produção, atingir os níveis da concorrência.”
Em 1998, foi construído um novo pavilhão onde foram instaladas máquinas de topo de gama de fabrico alemão. No ano seguinte, a MD abriu no Norte, a 20 km do Porto, um pavilhão de 400 metros quadrados onde passou a poder armazenar produtos. E adquiriu em 2006 uma máquina de corte de laser, uma aposta em tecnologia de ponta que permite um acabamento mais perfeito. “Nos últimos quatro anos, investimos mais de um milhão de euros só em máquinas de tecnologia de ponta” – frisa José Carlos Júlio, insistindo ainda na importância de escolher uma equipa de trabalho eficiente e saber recompensar o profissionalismo e empenho: “Escolhemos gente trabalhadora, empreendedora, pagamos a 27 de cada mês, damos bónus de produtividade, mantemos os ordenados competitivos no mercado em que estamos.”
E afirma uma política de gestão que insiste em “acompanhar as necessidades do cliente, adaptados à evolução destas necessidades e de novas aplicações dos nossos produtos em áreas novas”.
Actualmente, a MD tem revendedores por todo o país. Entretanto, partiu para os mercados estrangeiros: “A MD esteve este ano na FRICOM de S. Paulo e actualmente estão a ser estudadas aproximações a clientes no Brasil, numa primeira fase para encontrar contactos, e posteriormente para abrir ali uma unidade de produção.” E outros destinos têm sido explorados, através de empresas de trading, para as ex-colónias africanas e tem igualmente negócios com clientes na Polónia, República Checa e França.
A MD conta actualmente um efectivo de 14 empregados. O volume de vendas registado em 2010 foi de 1 milhão e 750 mil euros, com um crescimento para 2 milhões em 2011. José Carlos Júlio defende que o ritmo de crescimento poderia ser muito maior se não existissem tantos obstáculos. E aponta “a falta de vias de acesso alcatroadas, electricidade e telecomunicações caras, e principalmente o risco extremo que significa hoje abrir créditos”. Este último factor é razão dos principais problemas enfrentados pelas PME, sublinha: “Más experiências ensinaram-nos que o risco é demasiado. As empresas de construção civil pedem créditos a 30 dias e aos 90 estou a ligar-lhes para tentar receber. E nos tribunais arrasta-se tudo por dois anos, entretanto o IVA a 23% já foi pago com a emissão de facturas.”
Na sua opinião, a solução seriam empresas de seguros de crédito, mas “preferimos, em vez de pagar comissão a seguradoras, oferecer aos clientes descontos nesse valor”. “E continuamos a investir. Em 2011 investimos 25 mil euros, avançámos com mais 2 postos de trabalho. Alicerçamos, não no crédito, mas na rapidez de produção e qualidade. Apostamos na formação dos trabalhadores, procuramos bom preço, compramos a pronto, o que permite vender a preços mais agressivos” – acrescenta.
“O cancro que mina hoje a vida empresarial portuguesa tem a sua origem no Estado, que é o pior pagador – nós nunca fornecemos ao Estado senão sob condição de pagamento a pronto” – indigna-se. Pede outras políticas: “Bastaria que o Estado, em vez de embarcar em auto-estradas e TGV, decidisse voltar-se para a reabilitação urbana, e as PMEs por este país fora teriam trabalho. É a classe média que paga a democracia e estão a acabar com a classe média.”


* Uma empresa exemplar com objectivos rigorosos e o príncipio elementar de Não Confiar no Estado. Esta é uma boa notícia.

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