25/09/2011



ESTA SEMANA NO
"SOL"

Empresas estatais sem crédito do exterior

Vários bancos internacionais estão a cortar o financiamento às empresas do Estado. As instituições não estão a aceitar renegociar as linhas de crédito que já venceram ou que estão perto da maturidade.

Esta situação está a deixar o Sector Empresarial do Estado (SEE) numa «situação muito crítica», segundo avançaram ao SOL várias fontes do sistema financeiro português, do Governo e das empresas públicas. Embora o valor total não esteja apurado, em causa estão «muitas centenas de milhões de euros».

O problema é que, para além de afectar o SEE, a política restritiva de crédito de instituições como o Deutsche Bank, a UBS e o Credit Suisse estará já a ter efeitos na banca nacional. Sem o financiamento estrangeiro, o Governo fez, segundo banqueiros ouvidos pelo SOL, um repto à banca nacional para dar o dinheiro de que algumas empresas precisam no imediato, nomeadamente para pagar salários.

«A banca portuguesa está neste momento sob grande pressão», alerta um alto responsável de uma das maiores instituições portuguesas, lembrando que está em curso o processo de desalavancagem obrigatório. Por imposição do Banco de Portugal (BdP), os bancos portugueses têm de reduzir o rácio de transformação de depósitos em crédito para 120% até 2014. A média nacional ronda agora os 145%.

Num momento em que a única fonte de financiamento dos bancos lusos continua a ser o Banco Central Europeu (BCE) – os mercados interbancários permanecem fechados, por efeito do corte dos ratings e da desconfiança dos investidores face ao próprio Estado –, «as instituições financeiras têm sido chamadas pelo Governo e pelo BdP para continuarem a injectar liquidez na economia, sobretudo nas empresas privadas, muitas delas com graves problemas de tesouraria», nota outro banqueiro.

Ainda esta semana o ministro da Economia e do Emprego, Álvaro Santos Pereira, afirmou que «a falta de liquidez é o principal problema de curto prazo da economia nacional».

Outra fonte da banca salienta que, ao mesmo tempo, as instituições financeiras lusas estão obrigadas, pela troika, a aumentar os seus capitais e a vender activos para chegarem a um rácio de core tier I de 9% no final deste ano e de 10% em 2012.

Os banqueiros, segundo foi possível apurar, têm vindo a manifestar a sua «grande preocupação» em reuniões com o BdP e o Ministério das Finanças, para tentar encontrar uma solução para a «crise de crédito que está prestes a rebentar e que pode mesmo parar a economia».

A banca sugere que a desalavancagem seja suavizada, estando também a batalhar para que o fundo de capitalização de 12 mil milhões de euros para o sector seja utilizado, parcial ou totalmente, para pagar as dívidas das empresas públicas à banca. Mas esta solução não agradará ao Governo, nem ao BdP, nem às instituições da troika (BCE, FMI e CE).

Contactado, o BdP remeteu todas as respostas sobre este tema para as Finanças, mas o gabinete de Vítor Gaspar escusou-se a fazer quaisquer comentários. O SOL questionou ainda vários bancos estrangeiros sobre a sua política de crédito com o SEE, mas não obteve qualquer reacção.


* Quase em coma

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