26/09/2011

DANIEL AMARAL

Daniel Amaral

 

   Biliões ou triliões?




Imaginem o símbolo 1 seguido de 12 zeros: que nome se dá ao número que daqui emerge? A pergunta parece tonta, mas não é.

Se estivermos nos EUA, a cada acrescento de três zeros chamamos sucessivamente milhares, milhões, biliões e triliões. Mas, na generalidade dos países europeus, a mesma sequência é de milhares, milhões, milhares de milhões, biliões. Ou seja, o mesmo número é um bilião em Paris e um trilião em Nova Iorque. Faz sentido?

Recentemente correu mundo o número $14,3t - 14,3 triliões de dólares -, a expressão da dívida americana, que chegou a ameaçar o país de insolvência. Toda a gente falou disso! Estive atento às interpretações portuguesas e descobri que se dividiram em dois grupos: o dos práticos, que lhe chamaram triliões, e o dos puristas, que preferiram os biliões. Já a população em geral alheou-se do assunto: era um número "muito grande", ponto final.

Esta indiferença pelo rigor sempre me fez confusão. E, em Dezembro de 2007, em artigo no Expresso, decidi bater-me publicamente pelo modelo americano. Uma jornalista do semanário pegou a seguir no tema e foi mais longe: investigou as razões do diferendo, abordou economistas e professores e lançou um debate na Internet. Que me recorde, as opiniões eram unânimes: sim à uniformização. Depois, como é normal nestes casos, o assunto morreu.

Em apresentações das grandes empresas portuguesas, habituadas a lidar com números acima dos nove dígitos, indicadores como vendas, resultados ou capitalizações bolsistas são de há muito identificados através da escala curta, ou seja, usando o modelo tradicional. E ninguém se dá ao trabalho de explicar porquê: 100 mil milhões de euros são €100b e é tudo. O que não deixa de ser estranho. A convenção a que aderimos não é a da escala longa?

Eu sei que, à luz desta crise medonha que atravessamos, este não é um tema prioritário. Prioritários são o crescimento e o emprego, o défice e a dívida, os salários e as pensões. Mas, num mundo globalizado como é o nosso, os números não podem ser descurados. Temos de dar o mesmo nome às mesmas coisas! E, a haver mudanças, o normal é que sejam os europeus a fazê-las: a escala curta é a mais fácil, a mais prática e a mais frequentemente usada nos grandes acontecimentos internacionais.

Alguém quer pegar neste assunto?

NÚMEROS E CONVENÇÕES

Da escala longa...(U: €Mil milhões)  À escala curta (U: €Biliões)
   

Fontes: INE, Banco de Portugal.
À esquerda temos a evolução do PIB nominal, que deverá atingir €171 mil milhões no final de 2011. E à direita temos a evolução da dívida pública, que no mesmo período deverá atingir €170 biliões. Os dois números são semelhantes, mas, se não nos explicarem as escalas, parece que o segundo é mil vezes superior. A decisão tomada na 9ª Conferência de Pesos e Medidas tem de ser corrigida - ou ninguém se entende.

Economista

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
23/09/11

Sem comentários:

Enviar um comentário