31/08/2011

CAMILO LOURENÇO



Eles não percebem 
               que ninguém 
                   os leva a sério

Volta e meia lá volta o euro a esta coluna. Mas como evitar falar do futuro da Europa num momento de tanto desnorte? A 21 de Julho a União acordou ajudar a Grécia e flexibilizar o FEEF.

O que se passou entretanto? Os parlamentos nacionais foram de férias e o acordo ficou por ratificar. A Finlândia pediu uma "hipoteca" à Grécia para… lhe emprestar dinheiro. Merkel declara, aos quatro ventos, que os mercados querem uma coisa mas não vão tê-la. Mais: jura que as eurobonds são um incentivo à irresponsabilidade (esquecendo que quem as defende exige federalismo financeiro). A sua ministra do Trabalho diz que os países beneficiários de ajuda devem usar as reservas de outro como colateral. Wolfgang Schauble jura que não haverá eurobonds e que os fundos do FEEF chegam para as necessidades. Os ministros das Finanças de Holanda e Áustria alinham pelo mesmo diapasão.

Enquanto isso os mercados andam outra vez a testar os juros das obrigações italianas e espanholas, desafiando abertamente o BCE, cujo balanço está a ficar forrado de dívida. Enquanto isso Helmut Kohl, esse extraordinário alemão por quem ninguém dava um tostão furado (adormecia nos saraus de ballet e dizia que as meninas andavam em pontas de pés para não o acordarem…), critica o carácter "errático" da política externa do seu país, lembrando que a Alemanha "tem de voltar a ser confiável". E que salvar o euro custa dinheiro, mas "não há alternativa se quisermos evitar o desmembramento da Europa".

O contraste não podia ser pior: ao Gigante que começava o dia com uma weissbier sucederam pigmeus. Deve ser por isso que os mercados não os levam a sério. Só eles não percebem.


IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
26/08/11

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