08/06/2011

VIRIATO SOROMENHO MARQUES

    VIRIATO SOROMENHO-MARQUES

    'Pode alguém ser quem não é?'

    Este título de Sérgio Godinho parece conter a interrogação crucial que se coloca hoje aos portugueses. 
    Na verdade, os eleitores, dentro do escasso campo de escolhas efectivas possível, tomaram uma decisão inteligente. Afastaram do poder um partido esgotado, sem, contudo, colocarem todo o poder de decisão nas mãos de um outro. Contudo, para quem não esteja entorpecido pelos vapores da paixão partidária, estas eleições terminam, deixando um país mergulhado num dos mais obscuros e perigosos períodos da sua história. 
    Estamos, como povo, numa travessia dramática, cercados por uma grande tragédia europeia. Estamos a viver sob uma Constituição e uma soberania diminuídas, num estado de emergência social, com um governo cujo programa foi decidido antes das eleições. Há duas condições, muito difíceis, para que o drama nacional não se torne em maior catástrofe. A primeira condição implica que os partidos vencedores sejam capazes de se vencer a si mesmos, ultrapassando a cultura dominante do spoils system, da querela pelos lugares, do assalto às benesses num Estado exangue. Passos Coelho dará sinal disso, com o grau de (in)competência que a sua equipa executiva manifestar. A segunda condição, é a da necessidade de dar prioridade à defesa de uma Europa federal. Portugal deve dialogar em todos os palcos da União. É preciso ir a Berlim, a Haia, a Helsínquia, dizer que o que está em perigo na péssima resposta à crise das dívidas soberanas é o perigo da Europa ser capturada pelos seus piores pesadelos. 
    Seremos capazes de ir além de nós mesmos? 
    Eis o enigma do futuro.

    IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
    06/06/11

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