20/06/2011

VÂNIA BELIZ

Sexo no pré e pós-parto


Mais uma primavera e, apesar da crise estar para ficar, não sei se reparou mas parece que o próximo ano vai ser rico em novos nascimentos. Apesar de eu achar que andamos com os “apetites” um pouco de lado, o que é certo é que os portugueses parecem ter apostado na maternidade em grande! Em qualquer lado a que vá só vejo futuras mamãs, ou não estivéssemos nós na Primavera, uma das épocas mais (re)produtivas do ano.

Tenho tido uma experiência interessante ao colaborar com um centro de saúde informando os jovens pais - mais as mamãs porque os pais raramente aparecem nestas coisas - acerca da sexualidade no pré e no pós-parto. Este é um período interessante em que ainda existem muitas dúvidas que afastam as mulheres do sexo. Se muitas já parecem ter alguma informação acerca do assunto, existem outras tantas em que o simples tema as deixa agarradas à cadeira e com um semblante pesado. Falar de sexo e de prazer com mulheres cheias de vida (perceba-se, muito grandes na recta final da gestação), pode não ser o melhor dos desafios.

É normal que o primeiro trimestre seja pautado por um primeiro afastamento, ora são os vómitos, o sono excessivo, ora as hormonas a declinarem o desejo, o medo de prejudicar o bebé… O segundo trimestre é normalmente um período em que as mulheres devem relaxar e em que podem voltar à sua frequência sexual.

Ainda não muito pesadas podem usufruir da sua sexualidade, se não houver indicação médica contrária. No entanto, são bastantes as mulheres que vêem a sua vida sexual reduzida pelo desconforto com a sua imagem, pelo medo e desconhecimento. É como se aquelas mulheres, outrora sexuadas e satisfeitas, virassem repentinamente imaculadas mães, não podendo pensar em tais actos carnais. Já tive testemunhos que o confirmam. O último trimestre é sem dúvida o mais sensível afastando muitos casais da prática sexual. As mulheres sofrem com a sua imagem e desconforto e os homens parecem ainda temer tocar o bebé, acredite! Se a gravidez é uma travessia do deserto na nossa sexualidade, então o pós-parto é o ficar no deserto, porque após o nascimento as mulheres transformam-se em zelosas mães e, apesar das hormonas ditarem biologicamente o afastamento sexual, existem aquelas que não conseguem encontrar tempo de qualidade para o reencontro a dois.

Se a experiência com as mulheres no pré-parto foi interessante, reencontrá-las no pós-parto foi o afirmar do que eu já temia. As mulheres continuam a ter dificuldade em abordar de novo a sua primeira vez após o parto e algumas vivem este reinício com muita expectativa, ansiedade e medo, ingredientes perigosos para a satisfação. O medo e o desconhecimento fazem com que a maior parte das mulheres sinta dor ou desconforto, fazendo com que se afastem progressivamente dos seus companheiros. A ausência de outras práticas sexuais que não seja a penetrativa é um grande obstáculo, bem como a dificuldade em aceitarem a sugestão da estimulação através do toque, como a prática masturbatória. Quando a nossa vida sexual se resume à penetração, podemos correr o risco de ficar longos tempos no deserto. Mesmo que numa gravidez a penetração seja contra-indicada, isso não é motivo para as mulheres se afastarem dos seus companheiros, porque o sexo é um mundo vasto de experiências em que a penetração é apenas uma das formas de prazer.


IN  "SÁBADO" 

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