15/06/2011

CONSTANÇA CUNHA E SÁ



Sem saída

O que está a acontecer na Grécia é a confirmação de que o futuro deixou de nos pertencer.

Eu sei que, para muitos, a hora é de alegria e de esperança. A esquerda teve, no domingo, uma derrota histórica. O engº Sócrates foi finalmente removido do poder. O dr. Louçã perdeu o pio. E a coligação entre o PSD e o CDS parece avançar de vento em popa, com reuniões secretas, equipas negociais e algumas declarações festivas.

Mas os bons auspícios não se ficam por aqui: para ganhar crédito junto dos mercados internacionais, o dr. Pedro Passos Coelho insiste na tecla de que o seu programa de Governo vai "mais além" do que o que nos foi imposto pela União Europeia e pelo FMI. Evidentemente, ninguém faz a menor ideia sobre o que significa este "mais além", mas é fácil perceber que este pequeno delírio serve, antes de mais, para o PSD mostrar aos ditos mercados que o cumprimento do memorando que fomos obrigados a assinar é, para o novo Governo, um dado adquirido.

Infelizmente, os tempos que nos esperam estão longe de ser fáceis. Mesmo que o novo Governo consiga miraculosamente cumprir um acordo que o próprio FMI considera de uma violência sem precedentes, nada garante que o País não se afunde na recessão e no défice e, pormenor fatal, na renegociação da dívida. O que está a acontecer na Grécia não é apenas um exemplo do que nos pode vir a acontecer no futuro: é a confirmação de que o futuro deixou de nos pertencer e que o que for decidido em relação à Grécia terá consequências imediatas que afectam irremediavelmente o nosso presente.

É verdade que, chegados ao ponto em que nos encontramos, não temos alternativa: o cumprimento do acordo é a única bóia a que nos podemos agarrar, mesmo que esta acabe por nos levar para o centro da tempestade. Não perceber isto é alinhar na irresponsabilidade de uma certa esquerda que, não por acaso, já anda por aí a falar de uma "maioria social" que obviamente não se confunde com a maioria eleitoral que saiu destas legislativas. Pelo que se percebe, essa misteriosa "maioria social" é uma conquista do PCP (já que o Bloco de Esquerda ainda está a tentar perceber o que lhe aconteceu), que se considera no direito de a representar, apesar dos míseros resultados que obteve no domingo passado. A democracia é, de facto, uma maçada.

Mas o novo Governo que não se iluda: não é impunemente que se pretende fazer em três anos o que nunca se conseguiu fazer em trinta.

IN "CORREIO DA MANHÃ"
10/06/11

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