09/05/2011

JORGE GABRIEL


Manhosos
JÁ ESTÁ





Nota introdutória: parabéns ao FC Porto e ao Sp. Braga pela presença na final da Liga Europa.

Frank W. Abagnale era um jovem de 21 anos, que fintou as autoridades, e se fez passar por piloto de aviação, advogado e médico sem possuir quaisquer habilitações para tal. Falsificou dezenas de cheques, ludibriou dezenas de pessoas com as seus ardilosos esquemas e levou anos a ser capturado. Esta história real foi há uns anos contada pela mão do mestre Steven Spielberg no filme “Apanha-me se puderes”. A película mostra um incrédulo perseguidor, Tom Hanks, e um displicente Leonardo DiCaprio que se serve da credulidade, para dirigir ao ridículo qualquer vulgar cidadão que com ele se cruze.

Este burlão foi capturado e reabilitado, acabando por colaborar com a polícia na descoberta de outros criminosos homólogos. Durante toda a película ganhamos um carinho pelo vigarista, que suplanta a lei sem que a autoridade, que tanto tememos e odiamos, o alcance. Esta admiração cúmplice por quem corre riscos, mesmo ilegais e intrujas, só perde o sorriso matreiro quando é atingido diretamente. Qualquer coincidência entre este enredo e alguns episódios manhosos vividos esta semana é pura imaginação conspirativa. Na certa.

Segunda-feira desvendou-se o enigma do patrocínio nas camisolas do Barcelona que tanto incomodava José Mourinho. Senes Erzik é vice-presidente do comité de árbitros da UEFA e, simultaneamente, diretor de projetos da Unicef. Curiosamente este dirigente tem dois ídolos no futebol: o brasileiro Pelé e o holandês Johan Cruyff, atual selecionador da não reconhecida equipa representante da Catalunha. Assistiram ao jogo da segunda mão da meia-final da Liga dos Campeões, entre o Barcelona e o Real Madrid? Tudo normal para os culés. Uma vergonha para os madridistas. Já agora, o passado recente, polémico, na prova, dos catalães é capaz de acrescentar umas achas para a fogueira da desconfiança coletiva.

Quarta-feira, o jornal espanhol “Marca” traz à estampa um jantar entre o árbitro do jogo do FC Porto-Villarreal, Bjorn Kuipers e dirigentes portistas. A administração do clube azul desmente a notícia, porém confirma que António Garrido, em representação da Federação Portuguesa de Futebol, acompanhou a equipa de arbitragem nesse repasto. A memória de alguns prega partidas desagradáveis. Há anos que se sabe que o ex-árbitro tem uma predileção pelo clube do Dragão, pelo que a minha única estranheza é a insensibilidade da FPF na escolha de tão suscetível representante.

Finalizo com a operação montada pela Polícia Judiciária, para incriminar o ex-árbitro Martins dos Santos, apanhado em flagrante delito, a receber mais de mil euros de um dirigente do S. P. da Cova para evitar a descida de divisão do clube. Este é a segunda vez que Martins dos Santos e o seu filho, árbitro também, Daniel Santos, se envolvem neste comportamento manhoso. Este árbitro do Porto andou, durante vários anos, nos principais palcos do futebol português. Para além de toda censura que envolve este processo, lamento, profundamente, que os jornais desportivos tenham ignorado este escândalo nas suas capas. Apenas um, “O Jogo”, escreveu uma singela frase. Os generalistas encararam-no com outro critério.

IN "RECORD"
06/05/11

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