08/05/2011

CAMILO LOURENÇO


                                    
           Valeu a pena, sr. Engenheiro?



Na semana passada José Sócrates disse que o país iria ter saudades do "chumbado" PEC IV (porque o PEC V seria mais duro).
Nas semanas anteriores diabolizara, ad nauseam, o FMI; até chegou a dizer que não governaria com o Fundo. Na noite de 3ª feira, quando se dirigiu ao país, tudo mudou: Sócrates qualificou o acordo com a troika como "um bom acordo". É a confirmação de que o 1º ministro consegue dizer duas coisas diametralmente opostas, com a mesma convicção, no curto espaço de uma semana…

Mas vamos ao acordo. Aquilo que se conhece chega para o qualificar como "bom acordo"? Não. É verdade que há áreas onde houve um grande avanço; v.g. as medidas, muito positivas, para aumentar a competitividade da economia (leis laborais, arrendamento, contribuições para a Segurança Social, privatizações, subsídio de desemprego…), um dos três vértices do acordo. É o que sucede também na Banca (o segundo vértice), que terá de reforçar os rácios de capital. Mas na frente orçamental as coisas são menos óbvias. Ficámos a saber muita coisa sobre aumento, em alguns casos violento, de impostos (IVA, IRS, IMI, IMT, imposto sobre veículos…), aumento de preços (transportes, Saúde…) mas não é muito claro se se vai suficientemente longe no corte de despesa corrente: o que vai acontecer aos milhares de organismos do Estado que têm gente a mais e aos que vão ser encerrados? O corte de despesa corrente tem a mesma dimensão do esforço fiscal que as famílias (sempre elas) vão fazer? É duvidoso. Chegados aqui, vale a pena deixar uma última pergunta: sr. Engenheiro, valeu a pena cuspir na mão do FMI, a instituição que mais nos ajudou neste processo? 


in "JORNAL DE NEGÓCIOS"
05/05/11

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