25/05/2011


7 – POESIA ETERNIZADA
 
MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE
1765-1805


SONETO NAPOLEÓNICO

Tendo o terrivel Bonaparte à vista,
Novo Hannibal, que esfalfa a voz da Fama,
"Ó cappados heroes!" (aos seus exclama
Purpureo fanfarrão, papal sacrista):

"O progresso estorvae da atroz conquista
Que da philosophia o mal derrama?..."
Disse, e em fervido tom sauda, e chama,
Sanctos surdos, varões por sacra lista:

Delles em vão rogando um pio arrojo,
Convulso o corpo, as faces amarellas,
Cede triste victoria, que faz nojo!

O rapido francez vae-lhe às cannellas;
Dá, fere, macta: ficam-lhe em despojo
Reliquias, bullas, merdas, bagatellas.

(1)  Este soneto foi escripto na occasião em que o exercito francez commandado por 
Bonaparte invadira os estados ecclesiasticos (1797), chegando quasi às portas de Roma, 
e ameaçando o solo pontificio. O verso nono: "Dellas em vão rogando um pio arrojo," 
envolve uma especie de equivoco, ou como hoje se diria um calemburgo [ou trocadilho]; 
porque Pio VI era o papa, que então presidia na "universal egreja de Deus". O
penultimo verso lê-se em algumas copias do modo seguinte: "Zumba,
catumba; ficam-lhe em despojo". [nota da fonte]

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