11/04/2011

VITOR RAÍNHO



 Merkel, a justiceira


Portugal encontra-se numa posição complicada: não tem dinheiro para pagar as suas dívidas e vai ser obrigado a cortar nas despesas antes que entre em bancarrota. Qualquer que seja a solução, irá obrigar o povo português a viver ainda pior. Independemente de quem seja a culpa ? parece-me tão óbvio que até arrepia ouvir desculpas esfarrapadas ?, não deixa de ser surpreendente ouvir um governante de outro país fazer reprimendas públicas sobre as decisões dos deputados portugueses e quase nos ameaçar dizendo que é como ela quer ou então estamos ainda mais tramados. Angela Merkel, a toda-poderosa chefe do Governo alemão, disse de Portugal o que nem Maomé disse do toucinho. É impressionante o descaramento e a desfaçatez que a nova Dama de Ferro usa para se referir à política portuguesa. Por acaso pronunciou-se ao longo dos últimos anos sobre a alegre caminhada para o abismo a que os governantes nos conduziram? Não, mas agora gostou muito que o mau aluno se tivesse tornado num bom samaritano que tudo promete para agradar a Sua Excelência. É pena que Angela Merkel não saiba que Portugal, apesar de tudo, é um Estado soberano e que este país não faz sentido sem aqueles que cá vivem. E são esses que irão decidir para onde querem que o país caminhe e escolher os governantes que terão de levar a nau a bom porto. Quem deve, tem de pagar. É certo. Mas a forma como se vai poupar dinheiro e tentar que o país cresça é da nossa responsabilidade. Se não conseguirmos honrar os compromissos, então que venha uma administração liquidatária a mando de Merkel.

Merkel que, curiosamente, acabou de sofrer uma derrota esmagadora no seu país, sem que nenhum político externo tenha metido o bedelho.
Quando os americanos e aliados decidiram invadir o Iraque, meio mundo, e bem, manifestou-se contra a decisão de se atacar um Estado soberano. Como é sabido, nos últimos tempos, mesmo aqueles que eram contra as invasões tornaram-se adeptos de tais práticas. Veja-se o caso da Líbia e restantes países do Médio Oriente que estão na mira dos justiceiros implacáveis. Obama disse esta semana que o mundo ficará melhor sem Kadhaffi no poder. Será? Tem tantas certezas assim? E se os fundamentalistas aliados de Bin Laden tomarem as rédeas da situação? O que dirá a seguir?

Merkel é capaz de ter sido contaminada por esses instintos e decidiu que o povo português ou vota como Sua Eminência pretende ou manda as tropas avançar sobre a economia portuguesa. Lamentável a todos os níveis. Há três anos, quando algumas vozes da política e da economia nacional alertaram os portugueses que seria necessário fazer grandes sacrifícios para salvar o país, onde estava Merkel? Estaria a pensar na subida dos juros?

IN "SOL"
05/04/11

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