21/04/2011

JOSÉ ANTÓNIO SARAIVA







O pastor da IURD


No congresso do PS em Matosinhos, José Sócrates deu imensas «garantias» sobre variadíssimas coisas.

E fê-lo cheio de convicção, como se acreditasse no que dizia.

E os que o escutavam pareciam também acreditar.

Não seria aquele o mesmo homem que, dois dias antes de pedir ajuda externa, afirmava que Portugal não precisaria de fazer nenhum empréstimo ao estrangeiro?

Em Matosinhos, Sócrates proclamou também que o PS vai salvar o país da crise em que a «irresponsabilidade da oposição» o mergulhou.

E atacava o comportamento do PSD, enfatizando: «Nós não vamos deixar que se esqueça o passado».

E dizia isto sem se rir.

Como se não fosse o mesmo homem que chefiou o Governo durante os últimos seis anos.

SócrateS dirá estas coisas com convicção ou com calculado cinismo?

Fá-lo-á inconscientemente ou terá plena consciência do que está a fazer?

Estará alucinado ou será um propagandista bem ciente do seu papel?

O caso é grave.

Ao assistir ao que se passava naquele salão de Matosinhos, eu interrogava-me: o PS não corre o risco de ser empurrado para uma aventura por um homem obcecado, megalómano e ansioso por uma revanche?

Aquele ambiente de hiper-excitação e glorificação acéfala do líder não será o prenúncio do fim?

SERÁ que no PS está tudo bom da cabeça?

Será que o PS se esqueceu de que, nos últimos 15 anos, esteve 12 no poder?

E de que valem as garantias de alguém que, por isto ou por aquilo, não cumpriu quase nenhuma das promessas que fez?

As suas promessas foram caindo uma a uma: a baixa dos impostos, o crescimento da economia, as grandes obras públicas, a diminuição do desemprego, a criação de 150 mil novos postos de trabalho, a redução do défice, etc., etc.

As raras promessas que Sócrates cumpriu foram as mais fáceis: a despenalização do aborto e o casamento dos homossexuais.

Percebe-se que as pessoas continuem a apreciar a sua energia, a sua combatividade, a sua resistência, o seu jeito para virar as culpas contra os adversários, o seu talento de vendedor, até o seu cinismo; mas depois de todas as cambalhotas a que assistimos, alguém de boa-fé poderá ainda acreditar nas suas garantias ?

De há três anos para cá, José Sócrates perdeu a capacidade de se antecipar aos acontecimentos - e passou a correr como um louco atrás deles.

Começou a tentar tapar com medidas avulsas os buracos que iam surgindo.

E, através de uma propaganda agressiva e dispendiosa, tentou criar uma realidade artificial.

Mas a realidade acaba sempre por se impor - e o Governo viu-se forçado a lançar mão de sucessivos PECs.

Sentia-se que o país escorregava num plano inclinado do qual não conseguia sair.

Por essa razão, muita gente sentiu-se aliviada com o pedido de ajuda externa: era preciso interromper aquela correria sem fim à vista.

Agora, o líder socialista continua a correr desvairadamente atrás de uma quimera.

Recauchutado, apresenta-se como novo às eleições.

Na história que conta, tudo corria bem em Portugal - até que a oposição, num acto irresponsável, lançou o país na desgraça.

E os socialistas fingem acreditar, porque é o que querem ouvir.

No discurso final do Congresso, quando se esperava uma intervenção cautelosa chamando os portugueses à realidade, abrindo as portas a futuros compromissos, preparando o país para as dificuldades que aí vêm, Sócrates não resistiu a ser ele próprio: fanfarrão, glorificando a sua governação, espadeirando à direita e à esquerda, prometendo mundos e fundos.

Sócrates não parecia um candidato a primeiro-ministro: parecia o pastor de uma igreja evangélica.

E o Congresso do PS não parecia o Congresso de um partido político: parecia um encontro da IURD.

Jaime Gama foi o único que mostrou lucidez.

O resto dos socialistas quer continuar a viver no reino da ilusão.

IN "SOL"
18/04/11

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