17/02/2011

JOSÉ EDUARDO MONIZ



O que a censura esconde

O prazo do Executivo expirou mas ninguém se atreve a empreender os passos para lhe pôr fim.

É preocupante que um pequeno partido, radical no discurso, vazio nas ideias e apenas com o oportunismo contestatário como prática, consiga, sozinho, lançar a perturbação que a vida política agora conhece. Sabendo que o poder não está ao seu alcance, o Bloco de Esquerda tem norteado sempre a sua acção pelo conforto que a irresponsabilidade de não ter de prestar contas por aquilo que apregoa lhe confere.

Ao anunciar a moção de censura ao Governo, que, por sinal, não reúne unanimidade interna, Francisco Louçã limita-se a fazer mais do mesmo: procurar conseguir alguma liderança na antecipação de factos políticos, manter um alto nível de notoriedade e, neste caso concreto, tentar reparar os danos infligidos pelo desastre eleitoral de Manuel Alegre, cuja candidatura não só não provocou qualquer aproximação do PS ao Bloco como evidenciou a implantação de circunstância que os bloquistas têm no eleitorado.

Todas as vozes são úteis numa democracia, mas umas revelam-se mais dispensáveis do que outras. Claramente, o alarido que fabrica, potenciado por um jornalismo inerte e sem reflexão, é desajustado em relação àquilo que vale.

1. Por isso mesmo surpreende e assusta a perturbação que o BE consegue criar. O episódio da moção de censura não é o primeiro em que as demais forças com representação parlamentar abanam ao ritmo imposto por quem não tem peso, em vez de assumirem a iniciativa.

O CDS falou, há tempos, na hipótese de uma moção de censura, mas não passou disso. O PCP, nos últimos dias, admitiu estar a considerar a apresentação de uma, mas tanto reflectiu que cedeu terreno para o tacticismo oportunístico do Bloco o deixar com uma perna no ar.

O PSD contesta as políticas de Sócrates e repetidamente diz não acreditar que cumpra as metas a que se comprometeu, mas fica-se pela polida oposição parlamentar, que, de tão preocupada com o País, aceita dar a mão ao primeiro-ministro, chegando a assumir o papel de verdadeiro seguro de vida do Governo. O País enfrenta uma situação paradoxal, em que todos acham que o prazo deste Executivo expirou, mas ninguém se atreve a empreender os passos necessários para lhe pôr fim.

Nenhum partido quis, até agora, assumir a responsabilidade de fechar o oxigénio de que o Governo Sócrates se alimenta, com medo do que alguns classificam de "factura" que, supostamente, poderão vir a pagar por, de maneira frontal, assumirem que Portugal precisa de ajuda, com urgência.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
15/02/11

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