Velhacaria e segurança
O PSD, se quer ser Governo, não pode cair nas velhacarias que a mixórdia em torno da segurança produz
Os partidos têm revelado pouca imaginação para apresentar políticas de segurança estratégicas, bem explicadas à população, simples e eficazes, quase sempre embrulhadas num discurso jurídico excessivo. Daí a confusão que sempre reinou neste domínio. Medidas avulsas, voluntarismos à medida do caso que está na moda ou do crime que mais impressionou, sem daí resultarem ganhos acrescentados para diminuir a criminalidade, preveni-la e, finalmente, reprimi-la. Sempre dominou o improviso, a força mediática das notícias que interpelam os esforços dos sucessivos governos e, no final, chega mais uma receita improvisada e um devaneio.
Não admira a confusão legislativa, a ausência completa de articulação interpolícias, de visões distorcidas da realidade em função da afeição a esta ou aquela polícia ou quintinha de poder, a cedência de sectores estratégicos da segurança a privados, enfim, uma amálgama de gestos que não só custam milhões como não produzem resultados. As últimas duas décadas têm sido um verdadeiro emaranhado de contradições, ambiguidades e fragilidades. Não admira pois que neste meio surja o mais puro oportunismo, se multipliquem organizações que ora olham as cadeias ora as vítimas e em que a evolução criminal, a segurança e as polícias são verdadeiras saladas--russas onde o tacticismo, o voluntarismo, até a generosidade se misturam num verdadeiro labirinto de intenções.
Às vezes felizes, muitas vezes velhacas. É o caso desta crise no Observatório do Crime Organizado e Terrorismo. Instituição com generosos propósitos mas que não saiu ainda de uma posição difusa e comentarista, a que não é estranho o facto de estes domínios da actividade criminosa terem relevo esporádico. Tem potencialidades para ser um instrumento valioso, mas precisa de fazer o seu caminho com mais pragmatismo e menos vago. É o caldo para o surgimento de oportunismos, mais alguns, no meio securitário. Sabe-se que pululam artistas do golpe. Um deles teve o sonho de ser secretário de Estado dos governos PS. Lambeu os pés de vários socialistas para realizar o sonho (?) da sua vida. Fraco sonho, diga-se. Não conseguiu. Rapidamente se voltou para o PSD. Um ignorante qualquer ficou impressionado com o academismo e de imediato fez dele militante, estratega e arauto de uma cisão no Observatório do Terrorismo. E o PSD ganharia um futuro secretário de Estado. Felizmente, foi desmentido. E ainda bem. O PSD, se quer ser governo, não pode cair nas velhacarias que a mixórdia em torno da segurança produz. É o mínimo que se lhe exige.
Professor Universitário
IN "CORREIO DA MANHÃ"
20/02/11
Esta professor autarca é um verdadeiro mestre. Na televisão na rádio na imprensa prevalece o seu bom senso, inteligência e clareza. Não tem medo de pôr o dedo na ferida ou de defender as suas convicções. Como não é aldrabão dificilmente chegará a ministro
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