06/02/2011

CAMILO LOURENÇO


O que está errado em Portugal?
         Olhe para a classe política

Jorge Lacão, ministro dos Assuntos Parlamentares, defendeu no "DE" a redução do número de deputados de 230 para 180.

Salvé! A Esquerda acordou finalmente para uma ideia que anda a ser defendida há 20 anos.

 

Antes tarde que nunca, dirá o leitor. É verdade. Mas o problema é que Lacão, como a maioria dos políticos portugueses, não age (ou seja, não antecipa problemas). Reage (é comandado pelos acontecimentos). A sua declaração é uma reacção ao alheamento dos cidadãos da vida política, bem expresso nas últimas presidências (abstenção superior a 50%).

Mas foi preciso esperar pelas eleições para percebermos que o sistema tem de mudar? Não havia indicadores que davam conta disso (v.g. sondagens, fóruns dos meios de comunicação…) há muito tempo?

Lacão é a imagem de uma classe política incapaz de colocar o país à frente dos acontecimentos. Desde meados dos anos 90 que a Constituição permite reduzir o número de deputados para 180. Porque não se fez mais cedo? Porque a classe política vive fechada em si. E defende, além dos seus interesses, o dos principais lobbies da sociedade portuguesa. Só isso justifica que apenas em 2011 se mostre disposta a aceitar a redução de deputados (esquecendo a ideia dos círculos uninominais).

O que este episódio mostra é que os partidos estão a correr atrás do prejuízo: perceberam que têm de aplacar a ira de cidadãos fartos que lhes peçam sacrifícios, sem que a classe que os governa dê o exemplo (menos 50 deputados significaria, por alto, menos de 2,3 milhões de euros por ano). É por coisas como esta que somos pobres.


IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
02/02/11




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