06/01/2011

FERNANDO SOBRAL





 Feliz ano novo?

Os portugueses sempre tiveram muitas razões para entregar o optimismo nas mãos do Destino e para se sentirem pessimistas.
O Governo, com as suas medidas sobre, por exemplo, o complexo universo dos recibos verdes, está a contribuir para uma sociedade mais triste. O problema é que em Portugal, mas não só, começa a estar instalada uma cultura negativa: os bancos estão a fechar as torneiras do crédito, as empresas estão a contratar menos, os consumidores estão a retrair-se, o Estado inventa sucessivos impostos sobre quem sempre pagou. Se Portugal sempre foi um País triste, começa a andar de lenço à mão para poder estancar as lágrimas com rapidez. A cultura positiva atrai a criatividade e, por isso, quando se quer definir uma sociedade a régua e esquadro, ela submerge. Neste início de 2011 era necessário um País prudente e sensato, mas com fôlego para a criatividade. Mas com uma dívida soberana suspensa no ar como um abutre esfomeado, o receio pode transformar Portugal no sítio do luto eterno. O optimismo de gel de José Sócrates chocou com a realidade. O pessimismo virginal de quem durante anos foi responsável pelo estado do País, e já não se lembra do que fez, é trágico. Não há feliz ano novo à vista, mas grande parte da classe política nacional é responsável por isso. Mesmo a que afasta as gotas de chuva do seu passado. A cultura negativa junta-se à cultura da negação. Em Portugal ninguém é culpado de nada. Exceptuando quem, em nome da flexibilidade, foi obrigado pelo poder político, desde há anos, a utilizar recibos verdes. E agora vai ter de fazer contas à vida.

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
03/01/11

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