25/01/2011

ALMORRÓIDA ENXOVALHADA




Preguiçosos? 
   Portugueses não recebem 
              mais do que produzem

por Nuno Aguiar,

É indiscutível que a economia portuguesa é pouco competitiva e tem dificuldade em concorrer com outros países. Uma das principais razões para estas dificuldades é o nível elevado dos salários - quando comparado com a capacidade produtiva -, levando muitos economistas a defenderem um corte generalizado da massa salarial.

Mas a verdade é que em Portugal os salários reais não só têm crescido em linha com a Alemanha, como o crescimento da produtividade tem conseguido acompanhar Berlim.

A discussão volta a ser actual depois de o governo ter apresentado ontem uma série de medidas com o objectivo de facilitar o despedimento (ver página 10). O executivo está a aplicar a receita recomendada por organismos internacionais, como o FMI, o BCE ou a Comissão Europeia. Na base desta argumentação está o crescimento dos custos unitários de trabalho. Em Portugal, o custo por cada unidade produzida aumentou 26,4% entre 2000 e 2010, enquanto na Alemanha cresceu apenas 5,6%. Este indicador não conta, contudo, com a inflação, que tem sido bastante mais elevada nos países periféricos. Dois países podem crescer ao mesmo ritmo e partilharem os mesmos custos salariais, mas se um tiver uma taxa de inflação maior que o outro, os custos unitários do trabalho serão superiores. É o que tem acontecido entre, por exemplo, Portugal e Alemanha. Tendo em conta a inflação, as compensações reais dos trabalhadores evoluíram sensivelmente ao mesmo nível nos dois países (ver gráficos), com a produtividade a crescer também a um ritmo similar.

"A inflação em Portugal tem sido muito maior que na Alemanha. Os portugueses não estão a ficar mais ricos porque pagam mais pelos bens", diz Ricardo Reis, professor de Economia da Universidade de Columbia, nos EUA. Já em Maio de 2010, Vítor Constâncio, ainda governador do Banco de Portugal, afirmava que "não foi tanto a competitividade de preços ou custos que determinou a desaceleração das exportações". A opinião é partilhada por João Ferreira do Amaral. "Não há razões para dizer que foram os salários que fizeram Portugal perder competitividade", explicou o economista ao i. "Os salários reais até cresceram ligeiramente menos que a produtividade."

Na semana passada, a "Business Insider" escrevia: "Os Europeus do Sul não são preguiçosos", sublinhando que os trabalhadores de países como Portugal e Grécia trabalham mais horas que franceses e alemães. A diferença é que os dois últimos trabalham de forma mais eficiente. Isto é, ineficiências e outro tipo de custos que não salários deverão ser os responsáveis pela fraca competitividade da periferia.

"Os nossos problemas resultam de nos termos virado para sectores protegidos de competição externa", afirma Ferreira do Amaral, lembrando que a entrada no euro prejudicou a competitividade, tornando os produtos portugueses mais caros. "O peso da agricultura e da indústria no PIB desceu de 29% no início da década de 1990 para 17% em 2008. É preciso alterar esta tendência."

Ricardo Reis diz que é difícil saber qual é a causa e qual é a consequência. "É a situação do ovo e da galinha. Se é verdade que a inflação fez subir os custos de trabalho, pode ter sido uma subida dos salários que fez aumentar a inflação."

Apesar de ser tentador eleger uma causa simples, o problema dos portugueses não é produzirem pouco para o que recebem. O despedimento pode ser mais fácil os salários mais baixos, mas se a economia permanecer mal dirigida será como trazer uma faca para um tiroteio.

IN "i"
25/01/11

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