MANUEL MARIA CARRILHO

MANUEL MARIA CARRILHO

O atraso

Fala-se muito do atraso português face à Europa e ao mundo mais desenvolvido, mas há um outro atraso que é talvez o que mais pesadamente marca hoje os impasses que vivemos: trata-se do atraso da política face à sociedade.
Atraso da classe política em geral, das suas ideias e dos seus métodos. Da classe política que vive fechada nas suas equívocas cumplicidades e nos seus jogos de interesses. Das suas ideias, que se tornaram nichos ideológicos residuais que sobrevivem assustadiços com todas as frestas por onde possa passar algum ar... Dos seus métodos, sobretudo orientados para fazer durar, mais do que para incentivar ou representar o que quer que seja.
Este é um dos traços que mais devem merecer a nossa atenção, se quisermos fazer um balanço sério das últimas décadas, ter um inventário honesto dos últimos anos e mudar o estado das coisas. Ele foi--se instalando a pouco e pouco desde os primeiros anos do regime democrático, quando muitos descobriram que era mais fácil fazer da política uma profissão do que assumi-la como uma missão.
As elites não tiveram coragem, ou inteligência, para resistir. Preferiram afastar-se, deixando os partidos nas mãos de grupos com poucos valores e quase sem causas, que assim foram dominando os aparelhos, cartelizando o Estado e virando costas à sociedade.
Prova disto foi a necessidade que houve (com Cavaco Silva, nos seus primeiros tempos, e sobretudo António Guterres com os Estados Gerais) de recorrer à sociedade civil para formar equipas de qualidade, com conhecimento e com capacidade de enfrentar os problemas do País. Infelizmente, em ambos os casos sem benefícios internos, uma vez que os partidos têm preferido coabitar transitoriamente com independentes mais ou menos dóceis do que acolher militantes efectivamente autónomos e livres.
Acontece que, enquanto a política se fez segundo um modelo que combinava a distribuição daquilo que não se tinha com a fuga (em geral "em frente"!) ao que incomodava, tudo parecia fácil. Mas agora, que as coisas mudaram, a incapacidade política revelou-se de um modo tão estrondoso como evidente.
Esta incapacidade é bem clara no impasse actual: por um lado, exibe-se um optimismo todo feito de deslumbramento tecnológico e de virtualidades mediáticas, que vive ao sabor dos movimentos quase infinitesimais das estatísticas mais irrelevantes. Mas ao mesmo tempo insiste-se, por outro lado, no fatalismo mais paralisante: "ninguém previu", "não há alternativas", "a culpa é da crise internacional", etc. Com o optimismo, procura ganhar-se em tempo o que se perde em acção, com o fatalismo, procura ganhar-se em impunidade o que se esconde de irresponsabilidade.
De resto, que classe política, que não fosse dominada pelo arcaísmo das suas ideias e pelo egoísmo dos seus interesses, poderia, há um ano, ter pensado - um só segundo que fosse! - que seria possível lidar com a mais grave crise que Portugal enfrentou desde 1974, com um governo minoritário?
Mais: que outra classe política poderia, de um modo tão inconsciente, ter completamente esquecido a lição das experiência minoritária de 1995/2001, e o "pântano" a que ela conduziu? (Compare-se, a propósito, com o que recentemente - em situação análoga - aconteceu em Inglaterra).
E como é possível que se ignorem todas as análises e todos os dados da sociologia e da ciência política, que têm mostrado como hoje é difícil governar, não em minoria - hipótese que o simples bom senso deveria levar a excluir! -, mas mesmo em maioria, devido a fenómenos tão diversos como a crescente fragmentação eleitoral, o forte individualismo dos cidadãos, a disjunção das temporalidades, a precariedade das identidades ideológicas, multiplicação das legiti- midades políticas, a erosão dos mandatos, os efeitos do curto-termismo, etc.
A palavra responsabilidade anda muito na boca dos polí- ticos portugueses - mas há, infelizmente, razões para desconfiar que se trata so-bretudo de má consciência. Porque a responsabilidade é uma exigência que liga não só as promessas e o seu cumprimento, mas também a acção e as suas consequências - e ela é tanto mais incontornável quanto maior for a previsibilidade destas.
Os dias difíceis que vivemos são a mais do que natural consequência das imprudentes opções que se têm feito. E ela aponta para a importância e para a urgência de se trocar a cultura política de per- manente afrontamento, que de-sespera os cidadãos e esgota o País, por uma cultura política de aber-tura, de pluralismo e de negociação, que clarifique as opções dos cidadãos e dê serenidade ao País. Não haja ilusões: só assim aparecerá, no horizonte, algum sinal de esperança. 

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
14/10/10

CARTA DE UM FUNCIONÁRIO PÚBLICO

Exmo. Sr. 1º Ministro,
Vou alterar a minha condição de funcionário público, passando à qualidade de empresa em nome individual (como os taxistas) ou de uma firma do tipo
"Jumentos & Consultores Associados Lda." e em vez de vencimento passo a receber contra factura, emitida no fim de cada mês.

Ganha o ministro, ganho eu e o país que se lixe!
 Ora vejamos:

Ganha o ministro das Finanças porque:
- Fica com um funcionário público a menos.
- Poupa no que teria que pagar a uma empresa externa para avaliar o meu desempenho profissional.
- Ganha um trabalhador mais produtivo porque a iniciativa privada é, por definição, mais produtiva que o funcionalismo público.
- Fica com menos um trabalhador, potencial grevista e reivindicador que por muito que trabalhe será sempre considerado um mandrião.

E ganho eu porque:
- Deixo de pagar na totalidade todos os impostos a que um funcionário público está obrigado, e bem diga-se, pois passo a considerar o salário mínimo para efeitos fiscais e de segurança social.
- Vou comprar fraldas, champôs, papel higiénico, fairy, skip e uma infinidade de outros produtos à Makro que me emite uma factura com a designação genérica de 'artigos de limpeza', pelo que contam como custos para a empresa.
- Deixo de ter subsídio de almoço, mas todas as refeições passam a ser consideradas despesa da firma.
- Já posso arranjar uma residência em Espanha para comprar carro a metade do preço ou compro um BMW em leasing em nome da firma e lanço as facturas do combustível e de manutenção na contabilidade da empresa.
- Promovo a senhora das limpezas lá de casa a auxiliar de limpeza da firma.
- E, se no fim ainda tiver que pagar impostos, não pago, porque três anos depois o Senhor Ministro adopta um perdão fiscal; nessa ocasião vou ao banco onde tinha depositada a quantia destinada a impostos, fico com os juros e dou o resto à DGCI.
Mas ainda ganho mais:
- Em vez de pagar contribuições para a CNP, faço aplicações financeiras e obtenho benefícios fiscais se é que ainda tenho IRS para pagar.
- Se tiver filhos na universidade eles terão isenção de propinas e direito à bolsa máxima (equivalente ao salário mínimo) e se morar longe da universidade ainda podem beneficiar de um subsídio adicional para alojamento; com essas quantias compro-lhes um carro que, tal como o outro, será adquirido em nome da firma assim como manutenções e combustíveis.
- Se tiver um divórcio litigioso as prestações familiares que o tribunal me condenar já não serão deduzidas directamente na fonte e recebo o ordenado
inteiro e só pago se me apetecer...!
Como se pode ver, só teria a ganhar e já podia dizer em público o nome da minha profissão sem parecer uma palavra obscena, afinal, em Portugal ter prejuízo é uma bênção de Deus!
Está visto que ser ultra liberal é o que realmente vale a pena, e porque é que os partidos que alternam no poder têm tantos votos...?
Atentamente

A. Bivar de Sousa

NOTÍCIAS DA FÍSICA.....


Nova partícula atómica
 
Depois do átomo e da descoberta do neutrão, do protão, do fotão, do electrão, do quark, do fermião, do busão, do gluão, os cientistas José Sócrates Pinto de Sousa e Teixeira dos Santos acabam de descobrir o Pelintrão, uma partícula sem massa nem energia, que suporta toda a carga. Com esta descoberta Portugal será, para o próximo ano, um forte candidato ao Prémio  Nobel em Física.

enviado por J. COUTO

20 VALORES


clique na foto para ler legenda



Média de 20 valores foi conseguida com apenas um exame. Jovem conseguiu equivalência ao 12.º através das Novas Oportunidades e admite que beneficiou de uma injustiça
Tomás Bacelos, de 23 anos, é considerado o «melhor» aluno do país a entrar este ano na faculdade. A nota de entrada não deixa margem para dúvidas - 20 valores - , mas o caso torna-se particular pelo facto deste jovem não ter terminado o 12.º ano da forma habitual, mas sim através das Novas Oportunidades.
A história é revelada no passado sábado pelo Expresso e começa como a de muitos jovens. Tomás começou a ter dificuldades em terminar o ensino secundário. Por muito que tentasse não conseguia fazer a disciplina de matemática e os vários chumbos fizeram com que desistisse da escola sem acabar o liceu.
No ano passado, conseguiu arranjar uma solução. Inscreveu-se num Centro de Novas Oportunidades em Esposende, frequentou os módulos de Saberes Fundamentais e Gestão e conseguiu a equivalência ao 12.º ano.
Agora entrou na Universidade de Aveiro, no curso de Tradução, e, de acordo com as listas do Ministério do Ensino Superior, é o aluno com a nota mais elevada de entrada.
Os 20 valores que colocam Tomás no topo da lista das melhores notas de entrada na faculdade não têm em conta as notas do secundário, que Tomás não terminou. Foram a nota que teve no exame nacional de inglês, a prova específica para entrar no curso de Tradução.
De acordo com a lei, os alunos que concluíram o secundário através de vias que não prevêem a atribuição de notas (o que acontece nos cursos do programa Novas Oportunidades) e que querem aceder à Universidade concorrem apenas com as classificações que obtêm nos exames nacionais exigidos como provas de ingresso no curso que querem. A nota que obtiverem nas provas de ingresso vale como nota de conclusão do secundário.

A situação é, por isso, permitida por lei. Mas Tomás sente que beneficiou de uma injustiça. «Para mim, foi óptimo, Mas é claro que é bastante injusto porque os outros passam anos a esforçar-se para terem boas médias. Com o Novas Oportunidades, uma pessoa que só tem o 7.º ano pode fazer o 9.º em seis meses e a seguir, em ano e meio, consegue tirar o 12.º. Se tiver sorte, pode passar à frente [no acesso universidade] e tirar o lugar às pessoas que fizeram esse esforço. Conheço quem tenha entrado assim no ensino superior», admite Tomás em declarações ao Expresso.

enviado por CAMY

NR: RESTA SABER SE FEZ O EXAME AO DOMINGO E POR FAX

SONDAGENS... MANIPULAÇÃO!!!!!!!!!!!


As pesquisas de mercado são manipuladas 
e não refletem a tendência do eleitorado

Realizei um levantamento por conta própria e concluí que a próxima Presidente da República vai ser a minha mãe.
Telefonei para 1.253 pessoas entre duas e quatro da madrugada e perguntei: 
- EM QUEM VOCÊ VAI VOTAR PARA PRESIDENTE?
Todos os entrevistados responderam:
- NA PUTA QUE TE PARIU.

BLOQUEIO DE RODA


VALIA A PENA FAZER À EMEL

Aprendam porque  não duramos sempre...






enviado por CAMY

FACEBOOK



INFO - Importante sobre Facebook



Para quem tem facebook (quem não tiver, pode aproveitar para mandar a quem tenha).

Atenção: O Facebook lançou o Facebook Places. Qualquer um pode descobrir de onde estamos a falar pelo Facebook, fornecendo inclusivamente o mapa de onde estamos situados!

Era uma opção do facebook que só estava activa nos Estados Unidos, mas pelos vistos agora já veio para Portugal.

Agora conseguem descobrir através do facebook onde é que nós estamos com o computador...

Assustador. Já tirei essa opção do meu. Sugiro que façam o mesmo.

Seguem as instruções:
Para não ter esta função vão a:
"Conta"
"Definições de Conta"
"Notificações"
Façam "Page Down" (procurem) até verem "Locais"
Desmarquem os dois quadrados
Não esquecer de CONFIRMAR AS ALTERAÇÕES NO FINAL.

enviado por CAMY

A PRIMEIRA REPÚBLICA


1 Análise Social, vol. XIV (56), 1978-4.º, 865-872

Douglas L. Wheeler

A Primeira República Portuguesa e a história

A Primeira República Portuguesa (1910-26) constituiu a primeira tentativa persistente de estabelecer e manter uma democracia parlamentar.
Apesar das intenções e dos ideais generosos e do entusiasmo inicial, os republicanos foram incapazes de criar um sistema estável e plenamente progressista. A República foi prejudicada pela frequente violência pública, pela instabilidade política, pela falta de continuidade administrativa e pela impotência governamental. Com um total de quarenta e cinco governos, oito eleições gerais e oito presidentes em quinze anos e oito meses, a República Portuguesa foi o regime parlamentar mais instável da Europa ocidental.
Na «arena da República», as paixões pessoais e ideológicas entrechocaram-se, tendo desencadeado forças que prepararam o terreno para a intervenção dos militares na política e para a instauração da ditadura.
Esta República atribulada foi o prólogo do «Estado Novo», uma ditadura duradoura que, no momento do seu colapso, em 1974, representava o regime autoritário de mais longa persistência na Europa ocidental.
Não é de surpreender que muitos dos juízos acerca da Primeira República tenham sido severos. Consumidas pelas paixões da defesa ou do ataque políticos, as testemunhas ainda vivas e a sua descendência apenas produziram material de propaganda.
Os escritores do Estado Novo sustentaram que a República tentou ir demasiado longe, demasiado depressa, e procurou destruir os fundamentos do Portugal tradicional.
Os críticos mais pronunciadamente da extrema direita, quer portugueses quer estrangeiros1, têm insinuado que a República não passou de uma conspiração maçónica, sublinhando, consequentemente, a imagem de «República de pesadelo». Quando lhe perguntaram, numa entrevista por escrito, porque falhara a Primeira República, o ex-primeiro-ministro Marcello Caetano respondeu: «A falência da Primeira República ficou a dever-se, na minha opinião, à política religiosa inicialmente adoptada, assim como às instituições parlamentares, que facilitaram a pulverização dos partidos e a instabilidade e a fraqueza dos governos.»
2 Os escritores de esquerda têm acusado os dirigentes republicanos de terem sido demasiado fracos, demasiado lentos nas reformas e tímidos na materialização dos ideais.
Alguns insinuaram que a República falhou por causa de as suas políticas terem
favorecido a classe média e reprimido persistentemente as justas reivindicações
das classes trabalhadoras
3. Influenciada pelas doutrinas marxistas-leninistas e pelos fortes ventos de mudança do pós-25 de Abril de 1974, há uma geração mais jovem de estudiosos portugueses que ultrapassa a revisão efectuada nos anos 60, quando surgiu, como antídoto para a propaganda do Estado Novo, uma visão mais favorável da República. Estes jovens estudiosos, contrários ao sentido dessa revisão, ridicularizam a República, considerando-a antiprogressista, burguesa e antioperária, e vêem no sidonismo, experiência presidencialista de 1917-18, assim como na República de 1917-26, as origens de um fascismo português apoiado pela oligarquia rural
4.Durante a era republicana, os observadores britânicos mostraram-se muito críticos em relação ao regime. O escritor Aubrey Bell considerava que o grande problema político de Portugal era o facto de os republicanos terem ficado obcecados com
«a imaginação do mal»
5 e de resultarem conflitos desnecessários. Os diplomatas britânicos, em geral, acolheram bem a Ditadura e mantiveram uma atitude de crítica relativamente à República. Com ares protectores, consideravam que era inútil tentar conservar uma
democracia em Portugal.
Nos princípios de 1925, o embaixador britânico em Lisboa escrevia para Londres dizendo que o sistema parlamentar português já estava morto e que um tal sistema era «perfeitamente inadequado, sob muitos aspectos, às nações latinas»
6. As críticas da direita não democrática e de alguns democratas coincidem
no seu destaque da ideia de que, dadas as estruturas e as condições políticas, o colapso da Primeira República era inevitável. Tal como Marcello Caetano, Oliveira Marques sublinhou as conexões estruturais entre a Monarquia constitucional e a Primeira República, escrevendo que esta não foi «o começo de algo estruturalmente novo, mas antes a última fase de algo que começara muito antes, em 1820.
A República representou o clímaxde um processo, o resultado natural da evolução
do liberalismo monárquico [...] Assim, não tinha futuro. Tinha de morrer e de ser
substituída por alguma coisa totalmente diferente. Essa alguma coisa foi o fascismo»
7. Entre os anti-revisionistas que pouco valor de redenção atribuem à Primeira República conta-se o historiador Vasco Pulido Valente, com a sua notável erudição. Para Pulido Valente, a República não dispunha de apoio nas áreas rurais, mas apenas em Lisboa e no Porto e talvez em Coimbra. E só o «terror popular», dirigido pela
Carbonária, manteve de pé a República nos primeiros anos. A reavaliação negativa que Pulido Valente fez da Primeira República sublinha o facto de as estreitas bases regionais e sociais do movimento republicano o terem condenado a pôr em prática uma política de estagnação económica e de repressão sistemática dos movimentos operários socialistas, anarco-sindicalistas e de outras orientações. Diferentemente de Oliveira Marques, que interpretou o liberalismo monárquico quer como estando mortalmente ferido, quer como herança fatal do passado, Pulido Valente considera a
morte do «liberalismo manárquico em 1910-1912, às mãos republicanas, como a falha principal da República», uma vez que, segundo ele sugere, «o liberalismo monárquico era a única esperança de um governo estável em Portugal»
8. Em resumo, a historiografia das diversas correntes de pensamento, quer
modernistas quer tradicionalistas — e os seus contrapontos contemporâneos, revisionistas e anti-revisionistas—, tem sido influenciada pela sua preparação
pessoal, pela sua polítoa, pela sua experiência e pelas ideologias, desde a esquerda até à direita. A minha reavaliação da Primeira República procura descobrir um conjunto mais amplo de explicações para o seu falhanço. O fardo de uma
herança complexa de consequências das estruturas e dos comportamentos do passado desempenhou um papel fundamental nos anos perturbados de1910-26. Igualmente importante, se não ainda mais, foram as atitudes e as acções tanto dos amigos como dos inimigos da Primeira República. O desenvolvimento do sistema imóvel, ou seja, do sistema político do imobilismo, como eu lhe chamo, ficou a dever-se tanto ao comportamento político como às estruturas, tanto aos amigos como aos inimigos. Apesar das semelhanças, a Primeira República, quanto a mim, não foi pura e simplesmente uma última fase, repetitiva, do liberalismo monárquico
9. Sob três aspectos, a Primeira República constituiu um fenómeno novo na política e no governo de Portugal. Em primeiro lugar, na área dos direitos cívicos, apesar de um sufrágio limitado
10 E quanto a mobilização política, a República tentou fazer aquilo que nenhum regime anterior tentara. Procurando, nas palavras de um teórico republicano de 1911,
«formar um povo moderno», conduzir Portugal para o círculo das nações da Europa ocidental através da criação de uma sociedade mais aberta e auto-suficiente e de um sistema de governo mais representativo, os dirigentes republicanos esforçaram-se por pôr em prática os seus ideais de justiça social e democratização. Em especial no decurso dos anos de 1910-11 e 1923-25, quando alguns dos principais dirigentes do Partido Republicano Português (PRP) e mais alguns outros partilharam o desejo de introduzir profundas reformas num país pobre com grandes desigualdades sociais
e económicas, deu-se início a tais medidas reformistas na educação, na política de contribuições e impostos, no bem-estar social, na reforma agrária, nas obras públicas e na reforma do exército. Finalmente, a Primeira República desencadeou e, sem dúvida, provocou uma explosão de energias que, embora tivessem levado a conflitos e tensões sem precedentes, deram igualmente lugar a uma mobilização ímpar da sociedade, a qual foi parte integrante de um processo geral de modernização e mudança.
Centenas de milhares de portugueses foram desenraizados, de diversos modos, por motivos políticos, económicos, sociais e militares. Registaram-se diversas ondas
de movimentação populacional: tendo por origem a desilusão com a República, no período de 1910-15 houve uma emigração maciça para o Brasil e a América do Norte. As greves abalaram o País, especialmente durante 1910-17 e 1919-21. Devido à sua política estrangeira e colonial, aquilo que constituiu até então a maior mobilização militar da história de Portugal deu origem a que milhares de soldados fossem embarcados para África (1914-18) ou para a Flandres (1916-18).
Outras formas de mobilização de massas, numa escala desconhecida no País, incluíram as insurreições civis e militares, a mobilização civil dirigida pela Carbonária, pelo PRP e diversas outras organizações da esquerda e da direita, o crescimento
dos grupos de juventude católicos e monárquicos a partir de 1917 e a formação de vários grupos de élite dedicados ao estudo e à acção, como a Seara Nova, que procuravam receitas para a salvação nacional.
Na minha opinião, a Primeira República, não obstante algumas conexões estruturais com o liberalismo do século xix, constituiu um fenómeno complexo e singular que tentou, apesar dos seus falhanços, pôr em prática os seus ideais e de que, diferentemente de qualquer outro regime português, foi forçada a pagar os respectivos custos humanos e não humanos. O insucesso da República exprimiu-se sob a forma de uma crise política muito prolongada, de uma guerra civil interrompida, de um latente estado de sítio, em que um partido, o Democrático, conservou geralmente o monopólio do poder no Parlamento e na Administração. O derrubamento deste sistema político de imobilismo por uma organização de oficiais direitistas
do exército tornou-se possível graças a uma conjugação de factores: o ressentimento, por parte do corpo de oficiais, de uma injustiça colectiva, assim como o desempenho de um papel histórico na política, o aparecimento de uma unidade temporária de direita como reacção contra as ameaças aos privilégios por parte das reformas sociais e económicas de esquerda da República em 1923-25, a fragmentação da esquerda e o descrédito geral do sistema de partidos políticos, assim como o afastamento decisivo das classes médias em relação à República.
A Primeira República foi entravada por uma quantidade de problemas. A maior parte dos estudos já realizados sublinham a importância dos problemas económicos e financeiros, geralmente graves, entre os quais uma enorme dívida pública herdada da Monarquia em 1910. Depois de 1914 houve as despesas militares relacionadas com a guerra, a inflação e a desvalorização da moeda. Quanto a mim, o contributo ainda mais importante para o colapso da República foi o comportamento político dos políticos, a ineficácia dos partidos, assim como a natureza e o papel dos
militares. O Partido Republicano Português revelou-se eficiente na mobilização
de apoios nas eleições gerais, excepto uma, a de Junho de 1921. O PRP
alcançou o domínio da administração pública e entrincheirou-se na burocracia
civil e militar. O Partido teve alguns dirigentes de talento e integridade,
incluindo Afonso Costa, que o dominou até ao seu auto-exílio em Paris. Depois de 1919, o Partido tornou-se cada vez mais desunido, conservador e imobilista. Alguns dos dirigentes mais novos que sucederam à geração «queimada» de 1910 eram homens de engenho e honestidade que tentaram corajosamente executar reformas muito retardadas, não obstante a percepção dos perigos políticos de desencadear tais mudanças. Todavia, os restos da fracção conservadora do PRP, liderados por António Maria da Silva, mantiveram-se demasiado prudentes para ensaiarem um tal esforço.
Com uma direcção corajosa e unida e umas bases disciplinadas, o PRP poderia ter sido capaz de lançar os fundamentos para as necessárias reformas, a fim de dar crédito ao sistema de partidos e desacreditar os extremistas da esquerda e da direita. Mas ao PRP, ou àquilo que dele restava em 1926, faltaram ambos os requisitos, os quais teriam proporcionado a tentativa de metamorfosear o sistema político do imobilismo, desbaratar os extremistas e impedir um golpe militar.
O PRP conquistou a parte de leão na Administração, mas perdeu o apoio da população.
Se, de facto, o PRP aprendeu que o poder corrompia, a oposição descobriu que a ausência de poder também corrompia. A oposição não foi capaz de formar partidos estáveis que constituíssem uma alternativa para o PRP. Em parte, são de censurar as tensões tradicionais, o personalismo e o espírito de facção que paralisaram quer o PRP quer os seus opositores.
Além disso, a oposição encontrava-se dispersa por grupos que reflectiam padrões divergentes de propriedade rural, a norte e a sul do Tejo, e envolvida nas tradicionais disputas entre Lisboa e a província. Os dirigentes republicanos tentaram, mas falharam, equilibrar o poder entre a capital e a província, assim como resolver o problema agrário. As restrições ao voto e as manipulações do PRP durante as eleições fizeram que a oposição considerasse as eleições uma fraude, não uma oportunidade, mas sim uma fonte de injustiça. Dominados pelo facciosismo e cada vez mais desleais para com o regime, os partidos da oposição conspiraram mais do que participaram. Alguns deles em especial, mas não apenas partidos de direita, encorajaram a intervenção militar tendente a derrubar o PRP. A insurreição armada tornou-se um substituto da procura de mudanças de governo por meios constitucionais.

O papel dos militares na política assumiu maior importância. A República debatia-se com graves problemas de autoridade e segurança. A violência nas ruas atingia pontos sem precedentes e eram elevados os prejuízos em vidas humanas, bens, energias e tempo. Além das baixas causadas pela guerra, pelo menos três mil ou, possivelmente, quatro a cinco mil portugueses morreram em consequência de conflitos civis durante a Primeira República e milhares de outros ficaram feridos. Houve a detenção e o
encarceramento de milhares de cidadãos, monárquicos e republicanos.
Vários milhares foram deportados para as colónias africanas. Além desta mobilização penal, geralmente disfarçada por explicações políticas, registava- se uma retirada de confiança por parte das classes mais abastadas e uma vasta fuga de capitais.
Com tais problemas de segurança, a República necessitava de umas forças armadas leais. Embora mais numerosas e melhor armadas que na Monarquia, as forças de segurança tornaram-se politizadas, amotinadas e, às vezes, brutais. A lealdade dos militares foi extremamente posta à prova pela desconfiança mútua entre os dirigentes políticos e os militares, pela actividade sindical sem precedentes junto dos grupos civis e pela instabilidadepolítica. Apesar da grande percentagem dos dinheiros públicos votada às forças armadas por volta de 1926, as autoridades civis não foram capazes de estabelecer uma reacção sólida com os militares de carreira. Nos fins da Primeira República, praticamente todos os partidos, da esquerda à direita, tinham já incitado a insurreição militar a apoiar as respectivas causas partidárias.
Foi assim que surgiu com toda a força, uma vez considerado inapelavelmente
destituído de crédito o sistema parlamentar, um renascer, entre o corpo de oficiais, da tradicional crença de que as forças armadas eram «o guardião e o baluarte da independência nacional, conquistador e guardião das liberdades públicas». O controlo do Estado pelo Partido Democrático foi substituído pelo de um sector conservador mais enérgico do corpo de oficiais do exército.
Mas os problemas estruturais mantinham-se. Não obstante a sua capacidade e a sua visível propensão para derrubar governos e para obstruir a legislação, o Parlamento de duas Câmaras, em questões fundamentais, era geralmente dominado pelo executivo. Mesmo com sessões legislativas crescentemente mais longas, foi publicada por decreto do executivo legislação importante, enquanto as sessões parlamentares eram adiadas. Tal como o Parlamento, o poder judicial raramente se mostrou independente e, durante as crises, era manipulado pelo executivo.
O cargo de presidente da República, chefe do Estado, dispunha de pouco poder efectivo até à revisão constitucional de 1919. Houve pressões para a atribuição de mais latos poderes ao presidente, mas o poder de dissolver o Parlamento não constituiu uma panaceia, mas antes um incitamento à insurreição.
Apesar das concepções opostas sustentadas por vários republicanos e monárquicos quanto àquilo que era ou podia ser uma república, uma análise da discussão das questões abordadas indica que algumas das mais importantes questões no decurso dos primeiros anos da República podiam ter sido encaradas no âmbito do parlamentarismo, uma vez que foram discutidas finalmente e constituíram assunto para compromissos partidários 870 por volta de 1926.
Após a derrota da Monarquia do Norte em 1919, a questão monárquica, exceptuando o barulho à sua volta, perdeu muito do seu significado. O regime republicano iniciou um entendimento com os monárquicos, legalizando-os como partido com lugar no Parlamento em 1921, e fez diversas amnistias. Começara igualmente uma aproximação relativamente à igreja católica. Em 1923, o presidente da República investiu publicamente o novo núncio apostólico, entregando-lhe em Lisboa os símbolos do cargo. Diversos partidos, a imprensa e o Parlamento discutiram aspectos referentes
à restauração de alguns dos direitos e privilégios dos católicos antes de 1910,
especialmente quanto ao culto e à educação. Por volta de 1926, a questão religiosa era menos perturbadora. Os nacionalistas propuseram que a instrução católica fosse restaurada como ensino particular. Também por volta de 1926, muitos republicanos começavam a discutir a ideia de criar um novo corpo representativo em que participassem os grupos com interesses económicos e as profissões, versão precursora da futura Câmara Corporativa do Estado Novo.
A Primeira República deixou uma herança, frustrada e ambígua, de planos, propostas, de tímidos começos e de realizações pouco duradouras. Sob alguns aspectos, os republicanos podiam estar orgulhosos do seu trabalho e da sua visão. Foram realizadas significativas reformas na instrução primária e no ensino secundário, assim como se fizeram esforços quanto à política fiscal, às condições laborais e à política de salários.
Quando os historiadores apreciam o significado da Primeira República, devem operar dentro da perspectiva daquilo que aconteceu até ao 28 de Maio de 1926, mas também daquilo que se seguiu. Porque a Ditadura não só tentou reescrever a história da República de acordo com os seus próprios mitos e preconceitos, como também procurou adoptar diversas políticas republicanas, apresentá-las como suas e depois adaptá-las a condições posteriores. Há algum mérito a reconhecer aos autores republicanos de planos para programas ulteriores da educação, das obras públicas,
da construção de estradas e da construção naval
11. Um importante aumento na tributação do comércio e da indústria, uma aceitação do princípio de um imposto progressivo, mas suave, sobre os rendimentos individuais após a segunda guerra mundial, o financiamento deficitário dos empreendimentos públicos, a abertura das colónias aos investimentos estrangeiros nos anos 60, o sistema do indigenato e a autonomia económica para Angola e Moçambique — tudo isto teve as suas raízes em políticas da República.
Como este estudo já sugeriu, a experiência da Primeira República principiou como uma ideia e, apesar do desaparecimento de aspectos muito concretos, apesar dos falhanços e das esperanças destruídas, a «república» permaneceu como ideia no espírito e no coração de mais de uma geração. Um dos mais astutos defensores e críticos da República, Raul Proença, escrevia em 1925 que a República para ele era «uma Ideia, um facto da Consciência, uma afirmação moral, uma aspiração do Espírito»
12.Os primeiros republicanos estavam ansiosos por ganhar o respeito da Europa civilizada e tinham consciência de que a República Portuguesa era apenas a terceira república da Europa, a seguir à Suíça e à França.
13. Os republicanos moderados, que deploravam o «terror popular»
da jovem república, desejavam uma sociedade justa e um governo humano e compreensivo de que a maior parte dos cidadãos pudessem sentir-se justamente orgulhosos. Estes ideais não morreram com a instauração da Ditadura. Alguns dirigentes viveram o suficiente para ver o aparecimento de uma segunda oportunidade para a democracia. Quanto ao povo português, sobreviveu quer ao reino de pronunciamento quer ao domínio silencioso da polícia política. Certa vez, Raul Brandão observava que «a grande massa inerte adapta-se a todos os regimes»
14. Contra os intransigentes da extrema esquerda e da extrema direita, que de nada serviam para uma verdadeira democracia, e contra os militantes políticos pouco sensatos que confundiram insurreição com revolução,os moderados portugueses tinham talvez poucas possibilidades de manter um regime de liberdade. A sabedoria posterior mostrou que a cronometragem da experiência estava errada. Mas a história raramente consente aos revolucionários a liberdade de escolherem os seus momentos de poder. Tal como os que agem, os sonhadores têm de agarrar as suas oportunidades quando elas surgem. Foi assim em 1910 e foi novamente assim em 1974. A tragédia dos primeiros republicanos residiu no facto de a sua oportunidade de conquistar o poder ter coincidido com a primeira guerra mundial, com um novo alarme relativamente
às colónias africanas, com a pior crise financeira e económica que o País conhecera e com o despertar das aspirações e da consciência de várias classes que a República não podia satisfazer construtivamente ou reconciliar.
Uma nação mais rica e com um passado mais substancialmente democrático poderia ter falhado em tão perigoso empreendimento. Portugal era a nação mais pequena, mais pobre e menos instruída da Europa ocidental.
Que o esforço republicano tenha sido feito e que os seus ideais tenham sido promovidos é facto provavelmente mais notável que o insucesso da Primeira República. Não menos notáveis foram as consequências políticas do sistema político do imobilismo, que apenas uma intervenção militar organizada podia expulsar do governo. O significado último desta República pode provocar controvérsias durante muito tempo, mas é sólida a posição fulcral que ela ocupa na história moderna de Portugal.

PENINSULA IBÉRICA



Localização da Península Ibérica (em verde) na Europa, delineando os dois principais países da região, Espanha e Portugal.

Imagem de satélite da Península Ibérica.
A Península Ibérica fica situada no Sudoeste da Europa. É formada por dois estados: Portugal e Espanha e o território ultramarino de  Gibraltar cuja soberania pertence ao Reino Unido
Formando quase um trapézio, a Península liga-se ao continente europeu pelo istmo constituído pela cordilheira dos Pirenéus, sendo rodeada a Norte, Oeste e parte do Sul pelo oceano Atlântico, e a restante costa sul e leste pelo mar Mediterrâneo. O seu ponto mais ocidental é o Cabo da Roca e o mais oriental o Cabo de Creus.
Com uma altitude média bastante elevada, apresenta predomínio de planaltos rodeados por cadeias de montanhas, e que são atravessados pelos principais rios. Os mais importantes são o rio Tejo, o rio Douro, o rio Guadiana e o rio Guadalquivir, que desaguam no oceano Atlântico, e o rio Ebro, que, por sua vez, desagua no mar Mediterrâneo.
As elevações mais importantes são a Cordilheira Cantábrica, no Norte; o Sistema Penibético (serra Nevada) e o Sistema Bético (serra Morena), no Sul; e ainda a Cordilheira Central (serra de Guadarrama), de que a serra da Estrela é o prolongamento ocidental. Densamente povoada no litoral, a Península Ibérica tem fraca densidade populacional nas regiões interiores. Excepção a esta regra é a região de Madrid, densamente povoada.

História



Mapa do século XVIII gravado em cobre e pintado à mão, representando várias características topográficas da Península Ibérica.

A Península Ibérica, ao longo dos tempos, já foi chamada de vários nomes enquanto era governada por povos distintos. Entre eles, destacam-se os nomes Iberia e Hispania. Iberia foi o nome grego dado à península Ibérica, por mais que eles conheciam somente a parte entorno do rio Íber. Já Hispania era o nome romano da península. A região, depois do período histórico denominado Reconquista, foi se transformando e os muçulmanos foram expulsos. Portugal como estado surge em 1143 e confirmado, mais tarde, pelo Papa Alexandre III pela emissão da Bula Manifestis Probatum. Com o casamento em 1492 entre Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, surge o que depois seria a Espanha.

 Geografia

 Principais rios


Mapa da Europa segundo o geógrafo e filósofo grego Estrabão.

 Principais serras

Entre as principais cordilheiras da Península Ibérica estão a Cordilheira Bética (subdivide-se na Cordilheira Penibética e Cordilheira Subbética), os Pirenéus, a Cordilheira Cantábrica, o Sistema Central, o Sistema Ibérico e a Cordilheira Pré-litoral.

 Países atuais

Os seguintes países ocupam a Península Ibérica:
Países/Territórios↓ Área na península↓ Porcentagem↓ Descrição↓
Espanha Espanha 493.519 km² 85% ocupa a maior parte da península.
Portugal Portugal 89.261 km² 15% ocupa grande parte do oeste da península.
França França 540 km² <1% Alta Cerdanha está localizada no lado sul dos Pirineus entre a Espanha e a França, por isso tecnicamente está localizada na Península Ibérica.[1]
Andorra Andorra 468 km² <1% localizada ao norte da península, ao sul dos Pirineus, entre Espanha e França.
Gibraltar Gibraltar 7 km² <1% um pequeno território ultramarino britânico localizado ao sul da Espanha.

 Línguas


Mapa cronológico mostrando o desenvolvimento das línguas da Península Ibérica.
Na Península Ibérica são faladas sete línguas oficiais: o castelhano, o português o catalão e o inglês são oficiais, respectivamente, em Espanha, em Portugal, em Andorra e em Gibraltar; como co-oficiais encontram-se mais quatro: o catalão, o galego e o basco - nas respectivas comunidades autónomas de Espanha, o aranês no Vale de Aran, e o mirandês (no concelho de Miranda do Douro) em Portugal; a estas há que somar mais algumas línguas não-oficiais (astur-leonês, aragonês e o romani), algumas delas com dialectos importantes (valenciano, andaluz, etc.).

 Urbanização e infraestrutura

 Polos urbanos

Os principais centros urbanos são: Madrid, Lisboa, Barcelona, Porto, Valência, Sevilha e Málaga.
As capitais situadas geograficamente na Península Ibérica são por ordem alfabética: Andorra-a-VelhaGibraltar (Gibraltar), Lisboa (Portugal) e Madrid (Espanha). (Andorra),

WIKIPÉDIA

IGREJA DE SANTA CRUZ - COIMBRA



Fachada do Mosteiro
O Mosteiro de Santa Cruz é um mosteiro da ordem dos Cónegos Regrantes de Santo AgostinhoCoimbra, Portugal. Fundado em 1131, nele se encontram enterrados os dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I. A qualidade das intervenções artísticas no Mosteiro de Santa Cruz, particularmente na época manuelina, fazem deste um dos principais monumentos históricos e artísticos de Portugal. localizado em

 

História

A Igreja de Santa Cruz de Coimbra foi fundada em 1131 por D. Telo (São Teotónio) e 11 outros religiosos, que adotaram a regra dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. A nova Igreja recebeu muitos privilégios papais e doações dos primeiros reis de Portugal, tornando-se a mais importante casa monástica do reino. Sua escola foi uma das melhores instituições de ensino do Portugal medieval, tendo uma grande biblioteca (agora na Biblioteca Pública Municipal do Porto) e um activo scriptorium. Nos tempos de D. Afonso Henriques, primeiro monarca português, o scriptorium de Santa Cruz foi usado como máquina de consolidação do poder real. A importância da Igreja é evidenciada pelo fato de que D. Afonso Henriques e seu sucessor, D. Sancho I, foram sepultados lá.
Na Idade Média, o mais famoso estudante da Igreja de Santa Cruz foi Fernando Martins de Bulhões, o futuro Santo António de Lisboa (ou Santo António de Pádua). Em 1220, o religioso assiste à chegada à Igreja dos restos mortais de cinco frades franciscanos martirizados em Marrocos (os Mártires de Marrocos), e decide fazer-se missionário e partir de Portugal.
No início do século XVI, o rei D. Manuel I ordena uma grande reforma, reconstruindo e redecorando a igreja e o mosteiro. Nessa época são transladados os restos de Afonso Henriques e Sancho I dos seus sarcófagos originais para novos túmulos decorados em estilo manuelino.
Entre 1530 e 1577 funcionou uma imprensa no claustro. É possível que o poeta Luís de Camões tenha estudado em Santa Cruz, uma vez que um parente seu (D. Bento de Camões) era prior do mosteiro na época, e há evidências em sua poesia de uma estadia em Coimbra.

Interior da Igreja do Mosteiro: abóbada estrelada manuelina e órgão barroco.

  Arquitectura e arte

O primitivo edifício da igreja e mosteiro de Santa Cruz foi construído entre 1132 e 1223, mas quase nada resta desta fase românica da obra. A fachada da igreja se parecia à da Sé Velha de Coimbra, com uma torre central avançada dotada de um portal e encimado por um janelão. Esses aspectos da fachada românica ainda são visíveis hoje, detrás da decoração posterior.
A partir de 1507, o rei D. Manuel I ordenou a modificação total da arquitetura e decoração interior do mosteiro, seguindo o estilo mesclado de gótico e renascimento que depois seria chamado manuelino. Entre 1507 e 1513 a fachada ganhou duas torres laterais com pináculos e uma platibanda decorativa. Mais tarde, entre 1522 e 1526, foi criado o portal cenográfico manuelino, hoje infelizmente muito erodido, por Diogo de Castilho e o francês Nicolau de Chanterenne.
No interior, a nave única e a capela-mor foram cobertas por uma abóbada manuelina de grande qualidade, em obras dirigidas por Diogo Boitaca e o coimbrão Marcos Pires. Cerca de 1530 foi adicionado junto à entrada um coro-alto por Diogo de Castilho, no qual instalou-se um magnífico cadeiral de madeira esculpida e dourada. Este cadeiral é um dos pouquíssimos da época manuelina ainda existentes em Portugal, e deve-se ao entalhador flamengo Machim, que o havia esculpido para a capela-mor cerca de 1512.

Túmulo do rei D. Sancho I na capela-mor.
A nave contém ainda um belo púlpito renascentista, obra de Nicolau de Chanterenne e datado de 1521. No século XVIII instalou-se un novo órgão, em estilo barroco, obra do espanhol Gómez Herrera, e as paredes da nave receberam um grupo de azulejos brancos-azuis lisboetas que narram histórias bíblicas.
Na capela-mor encontram-se os túmulos dos dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I. Os túmulos originais estavam no nartex da igreja, junto à torre central da fachada românica, mas D. Manuel I não achou condignas as antigas arcas tumulares e ordenou a realização de novos túmulos. Estes, terminados por volta de 1520, são das mais belas realizações da tumulária portuguesa. Nicolau Chanterene realizou as esculturas jacentes representando os reis, enquanto outras esculturas e elementos decorativos se devem a vários outros ajudantes (Diogo Francisco, Pêro Anes, Diogo Fernandes, João Fernandes e outros). Ambos túmulos estão decorados com muitas estátuas e elementos gótico-renascentistas, além dos símbolos do rei D. Manuel I, a esfera armilar e a cruz da Ordem de Cristo.

Pentecostes, de Grão Vasco (cerca de 1530), na sacristia do Mosteiro.

A sacristia da igreja é uma boa obra em estilo maneirista, construída entre 1622 a 1624 por Pedro Nunes Tinoco. A sacristia está decorada com azulejos seiscentistas e possui quadros notáveis de dois dos melhores pintores quinhentistas portugueses: Grão Vasco e Cristovão de Figueiredo (outras pinturas originalmente feitas para o mosteiro podem ser vistas no Museu Machado de Castro em Coimbra).
A sala do capítulo, manuelina, possui a bela capela renascentista de São Teotónio, datada de cerca de 1588 e de autoria de Tomé Velho. Nessa capela se encontram os restos do fundador do mosteiro, canonizado já no século XII. Junto ao capítulo está o Claustro do Silêncio, obra de Marcos Pires construída entre 1517 e 1522, tendo abundante decoração manuelina. A fonte no centro é do século XVII.
Fora do mosteiro está o Claustro da Manga, que um dia foi parte do complexo mas hoje encontra-se isolado. Desse claustro só se preservou a fonte renascentista no centro, que consiste de um pequeno templo central conectado a quatro pequenas capelas com água ao redor. O acesso ao templo central se faz por quatro pequenas escadarias. Todo o conjunto, construído na década de 1530 pelo francês João de Ruão, é de grande valor simbólico e artístico.

  Panteão Nacional

O estatuto de Panteão Nacional foi reconhecido ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em Agosto de 2003, pela presença tumular dos dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I. Esse estatuto é repartido com a Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa.