29/11/2010

2 - POBREZA EM MOÇAMBIQUE

 ONU: Países mais pobres com crescimento de 7,8 pc no início da década mas pobreza aumentou,
Moçambique é exemplo

Maputo – Os países mais pobres do  mundo tiveram um crescimento económico de 7,8 por cento nos primeiros anos do milénio, mas estagnaram nos finais e os objetivos das ajudas internacionais “não foram atingidos”, segundo a ONU. Rolf Traeger, da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (CNUCED) comentava quinta-feira em Maputo o relatório anual da instituição apresentado em Genebra sobre a situação dos países mais pobres do mundo. 

O relatório, “Rumo a uma nova Arquitetura desenvolvimento económico. “As políticas deInternacional do Desenvolvimento”, salienta que na última década os países mais pobres resistiram à recessão e cresceram economicamente, mas a pobreza aumentou. Até 2020, disse Rolf Traeger, é necessário precisamente “uma nova arquitetura internacional para o desenvolvimento”, que passa por uma maior cooperação sul-sul, ou seja entre países pobres e não entre os países pobres do hemisfério sul e os ricos do hemisfério norte, e pelo “desenvolvimento inclusivo”, fazendo com que mais população beneficie do desenvolvimento também devem ser discutidas e decididas internamente, pelos próprios países. Atualmente muitas vezes as políticas económicas são mais decididas por instituições externas”, disse. Carlos Castel-Branco, economista moçambicano, disse que o relatório reflete bem a situação de Moçambique, país que, tal como Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, está incluído no grupo dos 49 países mais pobres do mundo. Nos últimos seis anos, disse, o Produto Interno Bruto (PIB) moçambicano cresceu 50 por cento, “mas a percentagem da população que vive abaixo da linha da pobreza não se reduziu”. Se Moçambique usasse a tabela de 1,25 dólares per capita para definir a linha de pobreza, o resultado seria de que 70 por cento da população estava nesse limiar, disse o economista, lembrando que, mesmo na tabela mais baixa (um dólar por dia), 54 por cento dos moçambicanos estão abaixo.
Nos últimos seis anos surgiram em Moçambique mais dois milhões de pobres, disse, questionando: “Como é que o PIB, a economia, pode crescer 50 por cento? Como é que o PIB per capita cresce cinco por cento ao ano e o número de pobres aumentou em dois milhões?”. De acordo com o Carlos Castel- Branco, se a economia cresce e a pobreza também, então aumenta a desigualdade. Mas em Moçambique, como noutros países pobres, não se registou grande aumento da desigualdade. Porque, justificou, o pobre gasta o rendimento em alimentos, e o aumento dos preços torna-o ainda mais pobre. “Sem bens básicos baratos e acessíveis, a pobreza vai continuar a aumentar, independentemente do crescimento”. Moçambique recebe anualmente 1,3 mil milhões de euros de ajuda externa, disse Castel-Branco, acrescentando: “por isso é bom continuar a ser pobre”.
O economista criticou também a política do Governo de incentivos fiscais a empresas como a Mozal (alumínios), concluindo: “são os impostos das pessoas dos países ricos que, através da ajuda externa, vêm financiar as multinacionais em Moçambique”. Quanto às medidas preconizadas por Rolf Traeger e contidas no relatório o economista mostrou-se cético: “já vêm sendo mencionadas há muitos anos”, disse, acrescentando que ninguém sabe como resolver todos os problemas, porque se o soubesse não haveria crises económicas.

IN "LUSA"
26/11/10

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