23/10/2010

ALMORRÓIDA ABAFADORA

 Empregados desviaram 97 milhões 
de euros no último ano
Barómetro internacional revela que furto interno já representa 28,8% das perdas no retalho em Portugal

Toda a gente já ouviu falar em alguém capaz de "orientar" os mais diferentes bens de primeira ou última necessidade - dos ténis às máquinas fotográficas -, mesmo a pedido, aproveitando o amigo do amigo que trabalha numa superfície comercial. O Barómetro Global do Furto do Retalho, divulgado esta semana pelo Centre For Retail Research, sedeado em Nottingham, dá um valor aos furtos levados a cabo pelos empregados nas lojas portuguesas. No último ano foram desviados 97,9 milhões de euros, uma fatia de 28,8% nas perdas no retalho - 340 milhões de euros - resultado de crime e erros administrativos.

A análise internacional tem em conta o período entre Junho de 2009 e Junho de 2010 e inclui dados de 1003 retalhistas de 42 países. De Portugal chegaram respostas de 17 empresas, com um total de 3277 lojas e uma facturação conjunta acima de 6 mil milhões de euros. É neste universo que se contabilizam perdas de 97,9 milhões - mais um ponto percentual nas perdas totais em relação que o ano passado.

Em Portugal o fenómeno tem poucas estatísticas. O sistema informático do Ministério Público não permite discriminar queixas-crime relacionadas com este tipo de furto e a PSP informa que a criminalidade é agrupada e analisada no contexto de furto/roubos, "não sendo possível especificar os casos em que os funcionários são alvo deste tipo de ilícito dentro do seu local de trabalho". Como o inquérito do Centre For Retail Research é confidencial, também não é possível saber que empresas admitiram furtos desta ordem no último ano.

Para José Alves da Silva, presidente da associação de pequenas e médias empresas PME Portugal, "pode haver algum empolamento nos valores para sobrevivência de algumas PME, que não deverá ser significativo, mas a dimensão do problema tem a ver com o facto de este tipo de criminalidade ser difícil de provar: acontece com a ajuda de terceiros e abastece mercados paralelos como feiras." Tem exemplos: quando era dono de uma loja num centro comercial conheceu dos "mais vulgares" casos de fundos falsos nas caixas registadoras a quem utilizasse as aberturas dos chapéus-de-chuva para fornecer mais produtos que aqueles que de facto eram pagos, um esquema que diz ser bastante popular. "Acontece quando os empregados estão a desmagnetizar os CD e colocam nos sacos mais algumas unidades." As PME acabam por ser as mais desprotegidas, com maiores dificuldades em instalar sistemas de videovigilância ou recrutar polícias para fazerem segurança da loja, como já é comum nas grandes superfícies, sublinha.

Paulo Pereira de Almeida, coordenador do Observatório Português de Boas Práticas Laborais, acredita que esta pequena criminalidade reflecte a fragilidade económica da população e também o facto de a contratação nos sectores do pequeno e grande retalho ser, regra geral, precária e com salários baixos. "As pessoas tendem a vestir menos a camisola", explica, lembrando que o fenómeno é estudado, sobretudo nos EUA, onde há teses sobre o tema como "A Corrosão do Carácter", do sociólogo Richard Senneth.

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21/10/10

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