31/10/2010

2 - OS CELTAS


(continuação de domingo anterior)

História


Distribuição dos celtas na Europa.

Teoria centro-europeia

A área verde na imagem sugere a possível extensão da área (proto-)céltica por volta de 1000 a.C.. A área laranja indica a região de nascimento da cultura de La Tène e a área vermelha indica a possível região sob influência céltica por volta de 400 a.C. Vestígios associados à cultura celta remontam a pelo menos 800 a.C., no sul da Alemanha e no oeste dos Alpes. Todavia, é muito provável que o grupo étnico celta já estivesse presente na Europa Central há centenas ou milhares de anos antes desse período.
Durante a primeira fase da Idade do Ferro céltica (do século VIII a.C. ao século V a.C.), as sepulturas encontradas pelos arqueólogos indicam o surgimento de uma nova aristocracia e de uma crescente estratificação social. Essa estratificação aprofundou-se a partir do século VI a.C., quando grupos do norte da Europa e da região oeste dos Alpes entraram em contato comercial com as colônias gregas fundadas no Mediterrâneo Ocidental.
O intercâmbio com os gregos, que chamavam aos celtas indistintamente de keltoi, é evidenciado pelas finas peças de cerâmica grega encontradas nos túmulos. É igualmente provável que os gregos tenham adotado o costume de armazenar o vinho em vasos de cerâmica após os contactos com os celtas, que já os utilizavam como forma de armazenamento de provisões.

Gália Cisalpina 391-192 a.C.

Os objetos inumados das sepulturas comprovam que o comércio dos celtas se estendia a regiões ainda mais afastadas, tendo sido encontradas peças de bronzeetrusca e tecidos de seda seguramente oriundos da China. de origem
A partir do século V a.C., verifica-se um deslocamento dos centros urbanos celtas, até então localizados ao longo dos rios Ródano, Saona e Danúbio, evento associado a segunda fase da Idade do Ferro europeia e ao desenvolvimento artístico da cultura La Tène. As sepulturas deste período apresentam armas e carros de combate, embora sejam menos ricas do que as do período pacífico anterior, provavelmente, reflexo da sua fase de maior expansão, quando invadiram o sul da Europa após 400 a.C..
Em 390 a.C. os celtas invadiram o norte da península Itálica (Gália Cisalpina) e saquearam Roma. Por volta de 272 a.C., pilharam Delfos na Grécia. As hostes celtas conquistaram territórios na Ásia Menor, nos Balcãs e no norte da Itália, onde o contingente mais numeroso era o dos gauleses.
A partir do século II a.C., os celtas começam a perder território para os povos de língua germânica, e os romanos, pouco a pouco, conseguem dominá-los, o que consolidam a partir de 192 a.C., quando anexam a Gália Cisalpina ao Império Romano.
Os golpes finais na dominância celta ocorrem no século I a.C., quando Júlio César conquista a Gália, e no século I d.C., quando o imperador Cláudio domina a Bretanha. Somente a Irlanda e o norte da Escócia, onde viviam os escotos, permaneceram fora da zona de influência direta do Império Romano.

Críticas

Criticas afirmam que não há qualquer evidência, linguística, arqueológica ou genética, que comprove que as regiões onde se originam as culturas Hallstatt ou La Tène sejam o local de origem dos povos celtas. Indicam que este conceito deriva de um erro feito pelo historiador Heródoto há 2500 anos, num comentário sobre os "Keltoi," onde os localizava na nascente do Danúbio a qual ele julgava ser perto dos Pirineus.
Este erro, foi depois mais tarde, em fins do século XIX, aproveitado pelo historiador francês Marie Henri d'Arbois de Jubainville para basear a sua teoria de que Heródoto queria dizer que a terra original dos celtas era no sul da Alemanha.

Teoria da idade do bronze atlântica

Segundo esta teoria os celtas teriam origem no sul da península Ibérica. Baseia-se na evidência histórica, de que Heródoto, localizava os Keltoi na Ibéria e dizia que eram vizinhos dos Kunetes localizados na atual região do Algarve; na hipótese da língua tartéssica ser uma língua celta, o que indicaria que as línguas celtas ter-se-iam originado na zona atlântica durante a Idade do Bronze; e em evidências genéticas.

Língua e cultura


Ornamento celta da Idade do FerroMuseu Nacional de Antiguidades, Saint-Germain-en-Laye, França). (

Língua

As línguas célticas derivam de dois ramos indo-europeus do grupo denominado centum: o celta-Q (goidélico), mais antigo, do qual derivam o irlandês, o gaélicoEscócia e a língua manx da Ilha de Man, e o celta-P (galo-britânico), falado pelos gauleses e pelos habitantes da Bretanha, cujos descendentes modernos são o galês (do País de Gales) e o bretão (na Bretanha). Os registos mais antigos escritos numa língua celta datam do século VI a.C..[52] da
As informações atualmente disponíveis sobre os celtas foram obtidas principalmente através do testemunho dos autores greco-romanos. Isto não permite traçar um quadro completo e imparcial do que foi a realidade quotidiana desses povos. O chamado "alfabeto das árvores" ou Ogham surgiu apenas por volta de 400 d.C.[53]
Edward Lhuyd, em 1707, identificou uma família de línguas, ao notar a semelhança entre o irlandês, o bretão, o córnico e o galês e a extinta língua gaulesa, as quais classificou como línguas celtas. Lhuyd justificou o uso da expressão pelo fato de estas pertencerem à mesma família linguística do gaulês e a língua gaulesa e a maioria das tribos gaulesas terem sido chamadas de celtas.[54][55][56][57]
Fontes clássicas e arqueológicas atestam que os celtas faziam uso limitado da escrita. Júlio César, no De Bello Gallico, comentou que os helvécios usavam o alfabeto grego para registar o censo da população e que os druidas recusavam-se a registar por escrito os versos, mas que faziam uso do alfabeto grego para as transações públicas e pessoais.[58] Diodoro disse que nos funerais os gauleses escreviam cartas aos amigos, e jogavam-nas na pira funerária, como se elas pudessem ser lidas pelos defuntos.[59]Ulpiano determina que os fidei comunis podiam ser escritos em gaulês, entre outras línguas, o que gerou especulações de que no século III esta língua ainda seria escrita e falada.[60]
O alfabeto ibérico foi usado para registar o celtibéro, uma língua celta da península Ibérica. O alfabeto de Lugano e Sondrio foi usado na Gália Cisalpina e o alfabeto grego na Gália Transalpina. Variações do alfabeto latino foram usadas na península Ibérica e na Gália Transalpina.[61] Estudos colocam a hipótese de haver uma relação entre as inscrições de Glozel e um dialecto celta.

Cultura

As manifestações artísticas celtas possuem marcante originalidade, embora denotem influências asiáticas e das civilizações do Mediterrâneo (grega, etruscaromana). Há uma nítida tendência abstrata na decoração de peças, com figuras em espiral, volutas e desenhos geométricos. Entre os objetos inumados, destacam-se peças ricamente adornadas em bronze, prata e ouro, com incisões, relevos e motivos entalhados. A influência da arte celta está ainda presente nas iluminuras medievais irlandesas e em muitas manifestações do folclore do noroeste europeu, na música e arquitectura de boa parte da Europa ocidental. Também muitos dos contos e mitos populares do ocidente europeu têm origem na cultura dos celtas. e
Alguns estereótipos modernos e contemporâneos foram associados à cultura dos celtas, como imagens de guerreiros portando capacetes com chifres[65] e ou asas laterais (vide Asterix),[66][67] comemorações de festas com taças feitas de crânios dos inimigos,[68] entre outros. Essas imagens se devem em parte ao conhecimento divulgado sobre os celtas durante o século XIX.
Diógenes Laércio, na sua obra Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, comenta que a origem do estudo da filosofia era atribuída aos celtas, (entre outros povos considerados bárbaros). O conhecimento da filosofia era atribuído aos druidas e aos semnothei.[69]
Massalia era um conhecido centro de aprendizagem onde os celtas iam aprender a cultura grega, a ler e a escrever.[70][71]

Organização social


A rainha Maeve e um druida (ilustração de Stephen Reid para The Boys' Cuchulainn de Eleanor Hull, 1904).

A unidade básica de sua organização social era o clã, composto por famílias aparentadas que partilhavam um núcleo de terras agrícolas, mas que mantinham a posse individual do gado que apascentavam.
Com base em estudos efectuados na Irlanda, determinou-se que a sua organização política era dividida em três classes: o rei e os nobres, os homens livres e os servos, artesãos, refugiados e escravos. Este último grupo não possuía direitos políticos. A esta estrutura secular, agregavam-se os sacerdotes (druidas), bardos e ovados, todos com grande influência sobre a sociedade.
Mais recentemente foram apresentadas novas perspectivas sobre a celtização do Noroeste de Portugal e a identidade étnica dos Callaeci Bracari.[81] No país, os povoados castrejos do tipo citaniense apresentavam características similares às dos povoados celtas. A citânia de Briteiros é exemplo de um povoado com características celtas, sendo, porém, necessário tomar esta designação no seu sentido lato: isto é - seria o local de habitação das numerosas tribos celtizadas (celtici).[82] Tongóbriga é um sítio arqueológico situado na freguesia de Freixo, também antigo povoado dos Callaeci Bracari.

Religião

Os celtas exaltavam as forças telúricas expressas nos ritos propiciatórios. A natureza era a expressão máxima da Deusa Mãe. A divindade máxima era feminina, a Deusa Mãe, cuja manifestação era a própria natureza e por isso a sociedade celta embora não fosse matriarcal mesmo assim a mulher era soberana no domínio das forças da natureza.[84][85] A religião celta era politeístaanimistas, sendo os ritos quase sempre realizados ao ar livre. Suspeita-se que algumas das suas cerimônias envolviam sacrifícios humanos. O calendário anual possuía várias festas místicas, como o Imbolc e o Belthane, assim como celebrações dos equinócios e solstícios. com características
Embora se saiba que os celtas adoravam um grande número de divindades, do seu culto hoje pouco se conhece para além de alguns dos nomes. Tendo um fundo animista, a religião celta venerava múltiplas divindades associadas a atividades, fenômenos da natureza e coisas. Entre as divindades contavam-se Tailtiu e Macha, as deusas da natureza, e Epona, a deusa dos cavalos. Entre as divindades masculinas incluíam-se deuses como Goibiniu, o fabricante de cerveja, e Tan Hill, a divindade do fogo. O escritor romano Lucano faz menções a vários deuses celtas, como Taranis, Teutates e Esus, que, curiosamente, não parecem ter sido amplamente adorados ou relevantes.

Cernunnos (Museu da Idade Média, Paris).
Algumas divindades eram variantes de outras, refletindo a estrutura tribal e clânica dos povos celtas. A esta complexidade veio juntar-se a plêiade de divindades romanas, criando novas formas e designações. É nesse contexto que a deusa galo-romana dos cavalos, Epona, parece ser uma variante da deusa Rhiannon, adorada em Gales, ou ainda Macha, que era adorada na região do Ulster.
As crenças religiosa dos celtas também originaram muitos dos mitos europeus. Entre os mais conhecidos está o mito de Cernunnos, também chamado de Slough Feg ou Cornífero na forma latinizada, comprovadamente um dos mitos mais antigos da Europa ocidental, mas do qual pouco se conhece.
Com a assimilação no Roma, os deuses celtas perderam as suas características originais e passaram a ser identificados com as correspondentes divindades romanas. Posteriormente, com a ascensão do Cristianismo, a Velha Religião foi sendo gradualmente abandonada, sem nunca ter sido totalmente extinta, estando ainda hoje presente em muitos dos cultos de santos e nas crenças populares assimilados no cristianismo.
Com a crescente secularização da sociedade europeia, surgiram movimentos neo-pagãos pouco expressivos, que buscam a adaptação aos novos tempos das crenças do paganismo antigo, sendo alguns dos principais representantes a wiccaneo-druidas, que embora contenham alguns elementos celtas, não são célticos, nem representam a cultura do povo celta. e os
A wicca tem sua origem na obra de ocultistas do século XX, como Gerald Brousseau Gardner e Aleister Crowley. Já o neo-druidismo não tem uma fonte única, sendo uma tentativa de reconstruir o druidismo da Antiguidade, tendo sua estruturação sido iniciada em sociedades secretas da Grã-Bretanha a partir do século XVIII.

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