11/09/2010

HELENA GARRIDO

                                                                 

A desgraça da educação

Estão actualmente na casa dos 25-35 anos, têm pela frente quase mais quatro décadas de trabalho e metade deles não estudou sequer doze anos. Só a Turquia e o México estão pior que Portugal no grupo da OCDE.

O retrato da educação em Portugal é a viva imagem do terror. Pelo que nos diz sobre o nosso futuro e pelo que revela de incapacidade das políticas públicas no passado recente.
Quando se olha para o quadro que responde à pergunta "Até que nível estudaram os adultos?", ontem publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), ficamos com um misto de choque, terror, vergonha e revolta. No conjunto dos 30 Estados-membros, Portugal é o país onde os adultos menos anos estudaram. Quase três quartos da população adulta (72%) tem menos do que o décimo segundo ano de escolaridade. A média da OCDE é de 29% e os únicos países que partilham da nossa desgraça (mas que até estão em melhor situação) são o México (66%) e a Turquia (70%).
Os números são de 2008 e revelam que houve melhorias na última década, mas concentradas na segunda metade dos anos 90. Desde 2005 que não se regista qualquer melhoria no nível global da educação dos portugueses.
Saber que 80% das pessoas que têm entre 45 e 54 anos não estiveram na escola doze anos pode ainda ter a racionalidade da herança do Estado Novo. Mas o que não se consegue entender é como foi possível deixar que quem tinha a idade de entrar na escola nos anos oitenta, alguns até depois da entrada de Portugal na CEE, se tenha ficado pelo nono ano, ou por um 12.º incompleto. É esta geração que vai estar no centro da economia portuguesa nas próximas duas décadas.
Por que não estudam os portugueses? O que se passa para, apesar de todos os milhões que o Estado gasta em educação, estarmos ainda tão atrasados? Como podemos estar pior até que a Turquia, o México e o Brasil, países com rendimentos por habitante mais baixos?
As políticas públicas revelaram--se completamente incapazes. Durante as últimas décadas de estabilidade democrática, assistimos a muitas reformas - primeiro curriculares, agora organizativas - sem qualquer eficácia. Fracassou o objectivo de aumentar significativamente e rapidamente o nível de educação dos portugueses.
Vivemos agora o tempo dos encerramentos de escolas e de cursos nocturnos. Quem já é adulto terá agora de entrar na educação e formação de adultos, ou nas Novas Oportunidades, que, esperemos, não sejam aquilo que muitos denunciam, vias ínvias para elevar estatísticas. Porque isso se revelará a prazo com a ausência de crescimento da economia.
Os fracassos das políticas deveriam ser um convite à reflexão. Por que se falhou tanto? Muito provavelmente porque se olhou demasiado para o sistema e pouco, ou nada, para as pessoas. É preciso convencer os portugueses de que é preciso estudar, e estudar, e estudar. As ditaduras podem obrigar, as democracias têm de convencer. Só quando o estado apoia financeiramente as famílias é que - mais do que poder - deve condicionar com eficácia essa ajuda a mais, e mais, educação para as crianças e adultos.
A educação que temos hoje já nos antecipa pelo menos mais uma década perdida de crescimento económico. É tempo de acabar com esta desgraça.

in "JORNAL DE NEGÓCIOS"
08/09/10

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