25/09/2010

FRANCISCO MOITA FLORES





Anedotas



Bem se pode dizer que as instituições – Elefante Branco e Mourinho – têm o mesmo tipo de clientes

O SEF atacou o Elefante Branco. A Federação foi pedir a Mourinho uma esmolinha. Dito assim, a coisa parece não ter nada que ver com nada, mas, sabendo-se que aquela casa nocturna é a catedral do prazer de Lisboa e que Mourinho adora a postura de Cardeal dos treinadores portugueses, bem se pode dizer que as duas instituições – Elefante Branco e Mourinho – têm o mesmo tipo de clientes.
Há coisas que matam. O prestigiado treinador corre o risco de, a curto prazo, se tornar num tipo insuportável, prenho de vaidade e de autoconvencimento, produzindo um homem a quem se lhe reconhecem os talentos, mas cuja vaidade pode vir a matá-lo. Os grandes homens são vulgarmente humildes, distraídos, pouco dados ao culto da personalidade obsessiva que os levaria a repetir até à exaustão, eu sou o maior. O génio da criação não se compatibiliza com o génio da soberba. É o melhor, sem dúvidas. E o Elefante Branco também. Porém, só procura este género de estabelecimentos homens aventureiros, gulosos de olhar, outros, talvez a maioria, com um currículo de frustrações no seu passado sexual, outros, ainda, fugindo da solidão e elas, as ninfas deste panteão de milagres carnais, belas, brasileiras, sensuais, oferecem ternura e uísque e sexo como prescrição clínica para as doenças dos homens.
O Cardeal, treinador do mais prestigiado clube do Mundo, procede de forma diferente. Elas aceitam propostas de gente sem passado, ou desejosos de esquecê-lo, ele aceita propostas de homens sem futuro. A sua vaidade não o deixa ser génio e português de fibra. A sua primeira obrigação seria defender o nome do seu país, em vez do egocentrismo, e afastar, de imediato, a mendicidade dos vencidos. Este Portugal de pitons nos pés, de Coluna e de Eusébio, dos Cinco Violinos e de Ronaldo, esta selecção, que tem de ser orgulho e dignidade, mendiga cunhas para salvar as almas impenitentes que tratam a pontapé de uísque e bravata o prestígio que as pernas dos atletas espalharam pelo Mundo. Uma selecção não mendiga. Uma selecção impõe-se. Porque não foi o SEF à Federação? Dir-me-ão que ali habitam genuínos portugueses de cepa rija. E eu não concordo. Quem assim humilha o nome de Portugal não merece condescendência. Pois isto, só lá vai com polícia. O ‘Number One’ fez o seu número. O Elefante Branco fez também. E tudo fica na mesma. Pelo país, a malta continuará à procura das meninas, e a Federação à procura de um seleccionador. Só pode ser para rir. De pena.

Professor universitário

in"CORREIO DA MANHÃ"
19/09/10

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